quinta-feira, 26 de março de 2015

A solução para os problemas humanos


A felicidade não é conquistada plenamente enquanto damos enfoque aos bens materiais.
Por Dom José Alberto Moura*
Na realidade de tantos problemas no planeta, falta de água, mortes em nome de Deus, desagregação da família, exclusões sociais, fome, concentração de riquezas frente à falta dela para grandes parcelas, corrupção, políticos e outros aumentando, de modo exorbitante, os próprios salários, desvio de dinheiro público,os mensalões, os petrolões e outros desmandos, parece não ter solução essa situação. De fato, o tecido social está fragilizado, com falta de ética, altivez de caráter, honestidade e moral.
Há quem deseja o castigo de Deus e espera dele uma solução, já que o ser humano parece não ter limites na prática de tamanhas injustiças. A própria justiça humana tem cometido muita injustiça. Mesmo a religião às vezes é usada de modo distorcido. Muitos a fazem servir para a própria conveniência, tirando proveito financeiro à custa da boa fé das pessoas, sem obedecer aos preceitos divinos. Muitos não seguem as orientações de quem é colocado à frente da comunidade como autoridade competente e legítima. O texto bíblico até se refere a quem ridiculariza a pregação profética: “Eles zombavam dos enviados de Deus, desprezavam as suas palavras, até que o furor do Senhor se levantou contra o seu povo e não houve mais remédio”(2 Crônicas 36,16).
O amor divino, porém, vem em auxílio à insensatez humana. Através do Filho de Deus temos esperança, baseados na certeza de sua pessoa, que assume nossa natureza humana. Prova-nos, com a ressurreição, que podemos confiar nele, para seguirmos seu itinerário e termos força de assumir os desafios da vida com nova perspectiva. O ser humano tem jeito para solucionar seus problemas. Basta assumir os critérios e valores inoculados por Deus na consciência humana, formada com o bem natural e clareados com a revelação de Cristo. O segredo está na aceitação da conversão para a alteridade. Esta nos faz voltar-nos para o amor ao semelhante, querendo dar de nós, mesmo com nosso sacrifício, para tornar nossa convivência de respeito à vida e à dignidade humana.
A felicidade não é conquistada plena e definitivamente enquanto a buscamos com o enfoque no ter sempre mais o que é material e sensível, em detrimento do ideal proposto por Deus. Quem mais conquista progressivamente a própria realização é o que mais dá de si pelo bem do semelhante, em vista da proposta divina. Fora disso, a ilusão da felicidade plena faz a pessoa pensar e agir para se satisfazer, colocando a finalidade da vida no que é transitório.
Este tempo de preparação à Páscoa nos apresenta a necessidade de conversão para a vida nova trazida e ensinada pelo divino Mestre. Mesmo assumindo as cruzes da vida, mas com amor ao semelhante, e tendo compaixão para entendermos e irmos ao encontro de quem precisa de nossa ajuda, vencemos a batalha existencial. O que é transitório é importante, mas usado com os critérios do Criador, para promovermos o bem a todos.
A Páscoa de Jesus nos dá a certeza de que, caminhando com Ele, temos a chave do segredo da vida realizadora. Ele lembra que veio para servir. Se também o fizermos, vemos que há o único jeito de consertarmos o ser humano e toda a sociedade. O altruísmo faz bem a quem dá de si pelo outro. Teremos mais entendimento, colaboração, formação do bom caráter, certeza de que somos grandes e importantes quando ajudamos a tornar a cidade terrestre uma terra de irmãos que se amam e pensam uns nos outros. A Páscoa de verdade então acontece na sociedade!
A12, 09-03-2015.
*Dom José Alberto Moura é arcebispo de Montes Claros (MG).

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