sábado, 9 de maio de 2015

Roteiro Homilético

10 de maio / 2015 - 6º domingo da Páscoa/B
Textos da Liturgia 
O AMOR MAIOR

1ª leitura: (At 10,25,26.34-35.44-48) A conversão de Cornélio – O batismo do centurião romano significa um avanço decisivo da comunidade cristã no mundo pagão. A iniciativa vem, em todos os sentidos, de Deus, até na inesperada efusão do Espírito sobre pagãos não batizados! Também hoje devemos ter a simplicidade de reconhecer que em cada povo, cada ideologia e cada confissão, Deus está com aqueles que o procuram de coração sincero. A comunhão com Cristo é essencialmente obra do Espírito Santo. * 10,34-35 cf. Dt 10,17; Rm 2,1; 1Pd 1,17 * 10,44-48 cf. At 2,33; 8,16; 2,4; 11,17.
2ª leitura: (1Jo 4,8-10) Deus é amor – Em Cristo encontramos o verdadeiro amor divino na sua origem e no seu ser. Purifica e eleva o amor humano. Nossa aceitação deste amor divino mostra-se no fato de acolhermos em nosso amor humano nosso irmão necessitado. Se não o acolhemos, deixamos Deus lá fora, no frio da noite. * 4,7-8 cf. 1Ts 4,9; 1Jo 4,16 * 4,9-10 cf. Is 54,7-8; Jo 3,16.
Evangelho: (Jo 15,9-17) O amor maior: dar sua vida por aqueles que se ama – Continuação da alegoria da vinha (cf. dom. pass.). A união vital e fecunda entre a videira e os ramos é união de amor expansivo, do Pai ao Filho, do Filho aos discípulos, dos discípulos aos outros seres humanos. Devemos permanecer nesta comunhão. O sinal disso é a observância da palavra de Cristo: o mandamento do amor. Ele mesmo no-lo ensinou pelo dom de sua vida, prova de amor maior. * 15,9-10 cf. Jo 3,35; 10,14-15; 1Jo 2,5; 5,3 * 15,12-13 cf. Jo 13,34; 1Jo 3,11.16; Rm 5,6-8 * 15,16 cf. Dt 7,6-8; Rm 6,20-23; Jo 15,2.

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Deus não é uma sentença metafísica

“Deus é amor” não é uma sentença metafísica. É uma expressão abreviada, que quer abrir nossos olhos para a presença de Deus na realidade do amor, e isso, sob dois aspectos: o amor que se revela na doação de Cristo por nós (o amor como dom) e o amor que nós devemos praticar para com os filhos de Deus (o amor como missão), sendo que o primeiro é modelo e fundamento do segundo. Assim, “amor” não significa, antes de tudo, que nós amamos a Deus, mas que Deus nos amou primeiro, dando seu Filho por nós (1Jo 4,10, 2ª leitura).
Este amor, manifestado na doação do Filho de Deus, é o maior: “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida por seus amigos” (Jo 15,13) (evangelho). “Amigos”, nestas palavras de Jesus, deve ser entendido no sentido de “aqueles que ele ama”, pois o modelo de nosso amor é o que amou primeiro. O amor do Cristo é que nos tornou seus amigos. Amigos em vez de servos. Cristo não nos amou porque éramos amáveis, mas seu amor nos tornou amáveis (cf. Rm 5,7-11). Assim deve ser também o nosso amor pelos irmãos. Um pouco como aquela mulher que tem um marido não muito brilhante, porém muito amável a seus olhos, porque ela o escolheu (cf. 15,16).
O amor de Cristo por nós existe numa comunhão total, expressa, em Jo 15,15, em termos de “revelação”: Jesus nos revelou tudo aquilo que ele mesmo ouviu do Pai (cf. Jo 1,18). É a plena clareza da amizade, não a manipulação que caracteriza a relação servil. Quando Jesus nos envia para produzir fruto, para expandir seu amor, não devemos considerar isso como uma carga, mas como comunhão, participação de sua missão, que o Pai lhe confiou em união de amor.
Podemos ainda perguntar por que este tipo de amor é o maior. A comparação sugere que existem outros amores, menores. É o maior, porque ele não é condicionado por outra coisa, por privilégios, proveitos, compensações – afetivas e outras – etc. É o maior, porque é gratuito e, nesta gratuidade, vai até o limite: a doação total e gratuita de si mesmo em favor do amado. É o amor até o fim de que falou João no início da narração da Ceia (13,1).
Jesus nos confia a missão de repartir (e multiplicar) seu amor “para que sua alegria esteja em nós e nossa alegria seja levada à perfeição” (15,11). Isso, porque amar-nos até o fim é sua alegria, pois é a realização de seu ser, de sua comunhão com o Pai. É evidente que só seremos capazes de encontrar nossa plena alegria neste amor doado até o fim, na medida em que comungarmos com Cristo e assumirmos seu amor total como sendo a verdadeira vida. Quem se procura a si mesmo, não pode conhecer a alegria cristã.
O amor de Deus, manifestado em Cristo, toma a iniciativa e vai à procura de todos quantos possam ser amados. Ora, procurando amar a todos, Deus “escolhe” cada um que ele quer amar, e ama-o com amor de predileção (para Deus, isso não faz nenhum problema, pois ele não é limitado material e afetivamente). Deus ama o Filho. Este nos revela o amor do Pai amando-nos até o fim. E nós somos chamados a fazer o mesmo, para a multidão dos que podem ser nossos irmãos e filhos de Deus (e isso, não o podem somente os que não querem). Esta é a dinâmica do amor universal de Deus. Não ama “em geral”. Ama a cada um como amigo. Daí a necessidade de que estes amigos sejam unidos entre si por este mesmo amor. Este amor que forma comunidade é destinado a todos os que não se opuserem a que Deus os ame assim.
Disso temos um exemplo eloquente na 1ª leitura. Deus não conhece acepção de pessoas, nem se deixa influenciar por divergências de sistema religioso. O que ele quer mesmo é congregar todos os seus filhos num mesmo amor pessoal. Pedro, chefe da comunidade cristã, é escolhido para ser o instrumento desta missão, superando, inclusive, os tabus do sistema judaico, em que ele foi criado (At 10,9-16). Ora, quando ele vai ao encontro de seu campo de missão, já encontra os destinatários animados pelo Espírito de Deus. Como poderia recusar-lhes o batismo?

DEUS É AMOR

 Neste domingo, a liturgia proclama, na 2ª leitura, a palavra do apóstolo João: “Deus é amor”. E oevangelho – continuação de domingo passado – apresenta Deus como a fonte do amor que animou Jesus a dar sua vida por nós, ensinando-nos a amar-nos mutuamente com amor radical.
“Deus é amor” não é uma definição filosófica. É a expressão da mais profunda experiência de Jesus. A experiência de Deus que Jesus teve foi uma experiência de amor. Essa experiência, ele a fez transbordar – sobretudo pelo dom da própria vida – sobre os discípulos, que a proclamaram para a comunidade. “Como meu Pai me ama, assim também eu vos amo. Permanecei no meu amor. [...] Este é meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei” (Jo 15,9.12). Amar é participar do mistério de Deus que se manifesta em Jesus. Amar, recebendo e dando amor. Pois o amor é dom que recebemos do Pai, no Filho, e missão que consiste em partilhá-lo com os irmãos. Nisso está nossa alegria (15,11).
Aprofundemos mais esse dom gratuito do amor de Deus por nós. “Ninguém tem amor maior que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (15,13). Amigos, não no sentido de parceiros (com interesses comuns, comparsas de máfia...), mas no sentido de amados – amados por serem filhos de Deus. O amor que se tem mostra-se no dom da própria vida. Isso se verifica em Jesus. Nele, “Deus nos amou primeiro” (1Jo 4,10). Não tínhamos nada a lhe oferecer, mas seu amor nos tornou amáveis.
O amor de Cristo por nós existe na comunhão total: Jesus nos revelou o que ele mesmo ouviu do Pai (Jo 15,15): na amizade de Cristo reinam plena clareza e transparência. Nada de manipulação ou de submissão. Assim, quando Jesus nos envia para produzirmos fruto (15,17), isso não é uma carga que ele nos impõe, mas participação na missão que o Pai lhe confiou. Para isso, ele nos escolheu. Em Jesus, o amor de Deus nos escolheu.
Ora, amor é comunhão. Não vem de um lado só. Assim como o amor de Deus veio até nós em um irmão, Jesus, assim ele frutifica nos irmãos e irmãs que amamos. Deus, fonte inesgotável de amor, não precisa de compensação pessoal por seu amor, ele se alegra com os frutos que nosso amor produz quando comunicamos o amor em torno de nós (15,8).
Que Deus seja protagonista da criação do universo e da humanidade por amor é questionado hoje. Não é o universo um caos que se organiza através de violentas explosões? Não é a vida animal e humana uma luta de sobrevivência na competição? Este modo de ver está por trás da ideologia neoliberal. Nós respondemos: o amor de Deus é um desafio para fazer surgir o amor lá onde a natureza só conhece luta e violência. O amor não é dado, pacificamente, desde o primeiro dia da criação. Ele é a última palavra de Deus, e tem a forma de Jesus, que conheceu o conflito, mas venceu o ódio, sendo fiel até à morte, consequência do amor que ele mostrou e deixou como legado aos seus discípulos.

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