sábado, 3 de outubro de 2015

Perdão para o pecado de aborto


Gesto do Papa revela a sensibilidade para com o pecador que deseja se libertar do mal cometido.
Por Dom Gil Antônio Moreira*
Há poucos dias, o simpático Papa Francisco comunicou à Igreja e ao mundo que daria aos padres o poder de perdoar o pecado de aborto, durante o Ano da Misericória. A notícia despertou interpretações variadas, sobretudo nos meios extra-eclesiais. É preciso saber, e é louvável, o significado deste bonito gesto do Papa Francisco. Seu gesto revela a sensibilidade para com o pecador que deseja se libertar do mal cometido. Usando de suas faculdades próprias, desejou manifestar sua grande precupação com a pessoa humana, passível de erro, sujeita a fragilidades e a pecados, mas capaz de arrependimento e de conversão. Trata-se de um gesto de suprema bondade e decidida disposição para o amor ao próximo e amor a Deus, manifestada pelo Pontifice.
Quando o Papa determinou que o ano de 2016, a partir de 8 de dezembro de 2015, até o domigo de Cristo Rei do ano vindouro, fosse Ano da Misericórdia, quis, mais uma vez, em nome da Igreja, apresentar à humanidade o rosto misericordioso de Jesus Cristo, que foi capaz de dar a sua vida pela salvação dos pecadores. Ao escrever a bula de convocação deste referido Ano, Misericordiae Vultus, o Santo Padre convoca a todos, indistintamente, para a conversão e para confiança na suprema bondade de Deus. Muitos grupos são enumerados na referida bula, como pessoas que devem ser motivadas a mudar de vida, tendo, da parte dos sacerdotes, decidida atenção, para que se libertem de seu pecado e iniciem uma nova vida, livre das garras do mal. Para isso, o Papa determinou que em todas as catedrais e em outras igrejas à critério dos bispos, haja uma ‘porta santa’, à semelhança das portas santas que existem em Roma, para ser sinal da passagem da vida de pecado para a vida da graça.
É neste contexto que o Papa proclama esta convocação dos padres para que se disponham, mais do que já fazem, ao máximo atendimento de confissões, concedendo a absolvição e o perdão a quem sinceramente esteja arrependido e disposto a assumir nova fase na sua fé cristã.
Assim também com o pecado do abortamento. Na verdade, este pecado que, pela sua extrema gravidade, causa a excomunhão eclesial, depende da ação própria dos bispos para a devida reintegração à Igreja. Porém, por graça de favor do Sucessor de Pedro, durante aquele ano, estão os sacerdotes autorizados a perdoar tal pecado, reintegrando o fiel  na vida da Igreja.
Para esclarecimento, citemos o trecho da carta do Papa Francisco ao Cardeal Fischela: Um dos graves problemas do nosso tempo é certamente a alterada relação com a vida. Uma mentalidade muito difundida já fez perder a necessária sensibilidade pessoal e social pelo acolhimento de uma nova vida. O drama do aborto é vivido por alguns com uma consciência superficial, quase sem se dar conta do gravíssimo mal que um gesto  semelhante comporta. Muitos outros, ao contrário, mesmo vivendo este momento como uma derrota, julgam que não têm outro caminho a percorrer. Penso, de maneira particular, em todas as mulheres que recorreram ao aborto. Conheço bem os condicionamentos que as levaram a tomar esta decisão. Sei que é um drama existencial e moral. Encontrei muitas mulheres que traziam no seu coração a cicatriz causada por esta escolha sofrida e dolorosa. O que aconteceu é profundamente injusto; contudo, só a sua verdadeira compreensão pode impedir que se perca a esperança. O perdão de Deus não pode ser negado a quem quer que esteja arrependido, sobretudo quando com coração sincero se aproxima do Sacramento da Confissão para obter a reconciliação com o Pai. Também por este motivo, não obstante qualquer disposição em contrário, decidi conceder a todos os sacerdotes para o Ano Jubilar a faculdade de absolver do pecado de aborto quantos o cometeram e, arrependidos de coração, pedirem que lhes seja perdoado. Os sacerdotes se preparem para esta grande tarefa sabendo conjugar palavras de acolhimento.
O Ano da Misericórdia seja oportuno para todos nós, também chamados à conversão na prática da caridade para com os que sofrem por pecados graves cometidos, mas que estejam sinceramente arrependidos e dispostos a não mais cometê-los.
Mais uma vez se pode contemplar a conhecida máxima de Santo Agostinho: “Detestar o pecado, mas amar o pecador”.
Deus é rico em misericórdia!
CNBB 25-09-2015.
*Dom Gil Antônio Moreira é arcebispo de Juiz de Fora (MG).

Nenhum comentário:

Postar um comentário