quinta-feira, 26 de novembro de 2015

A jovialidade dos idosos


Envelhecer é uma lei da natureza. Isso implica estar sensível ao entardecer da existência.
Por Dom Leomar Brustolim*
No dia 4 de março de 2015, o Papa Francisco, em Audiência Geral, afirmou que “os anciãos são homens e mulheres, pais e mães que estiveram antes de nós na mesma estrada, na mesma casa, na nossa batalha cotidiana por uma vida digna”. O Papa nos propõe a refletir sobre a arte de envelhecer.
No mundo atual, há uma estimativa que até 2050 o número de idosos passe de 600 milhões para 2 bilhões. Isso significa que, nos próximos 50 anos, haverá mais pessoas com idade superior a 60 anos do que menores de 15 anos. No Brasil, os idosos já superam 15 milhões de pessoas. As pessoas estão vivendo mais tempo graças a uma série de fatores, como o avanço da medicina, a conscientização sobre os cuidados com a vida e a melhora das condições sociais.
Envelhecer é uma lei da natureza. Isso implica estar sensível ao entardecer da existência. É uma etapa na qual é preciso superar a contraposição entre a idade da força, dos jovens, e a idade da fragilidade, dos velhos. É necessário vencer a crise de sempre se sentir doente em busca de uma juventude perdida ou de um rejuvenescimento a qualquer custo.
No passado, em muitas culturas, os idosos eram testemunhas eloquentes da história e da tradição. Eram os herdeiros privilegiados do tesouro cultural da comunidade e considerados sábios conselheiros que já haviam experimentado as lutas e as dificuldades da vida, mas que haviam aprendido com as provações. Hoje, esse valor quase desapareceu do nosso meio.
É verdade que a pessoa não pode ocultar sua velhice mas, nos idosos, permanece a inteligência, a capacidade de meditar, a possibilidade de amar e de partilhar pensamentos, ideias e sentimentos. Tudo isso supõe que as pessoas devam se preparar para envelhecer. É preciso manter a jovialidade, mesmo em idade avançada. Isso depende de uma profunda experiência com o Deus da Vida, como bem recorda o salmista sobre aquele que tem fé: “Mesmo na velhice dará fruto, estará viçoso e frondoso, para anunciar que Deus é reto.” (Sl 92,15-16).
São João Paulo II escreveu uma carta dedicada aos anciãos em 1999, na qual ele afirma que os idosos “ajudam a contemplar os acontecimentos terrenos com mais sabedoria, porque as vicissitudes os tornaram mais experimentados e amadurecidos. Eles são guardiões da memória coletiva e, por isso, intérpretes privilegiados daquele conjunto de ideais e valores humanos que mantêm e guiam a convivência social. Excluí-los é como rejeitar o passado, onde penetram as raízes do presente, em nome de uma modernidade sem memória. Os anciãos, graças à sua experiência amadurecida, são capazes de propor aos jovens conselhos e ensinamentos preciosos.” Da mesma forma, no contexto do Sínodo sobre a Família, é importante destacar o papel dos avós. Eles merecem uma atenção especial para manter o elo entre as gerações. São eles que garantem a transmissão de costumes e valores, tradições e virtudes que permitem aos jovens construir uma identidade que não pode prescindir da herança recebida.
Enfim, a arte de envelhecer supõe ler esta fase da vida como tempo favorável para levar a bom termo a aventura humana, procurando compreender melhor o sentido da vida para alcançar a ‘sabedoria do coração’.
CNBB 20-11-2015
*Dom Leomar Brustolim é bispo Auxiliar de Porto Alegre.

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