domingo, 22 de novembro de 2015

Jesus Cristo, Rei do Universo


A realeza de Cristo manifesta-se como serviço, fidelidade e amor.
Por Marcel Domergue*
Referências bíblicas:
1ª leitura: "Seu poder é um poder eterno" (Daniel 7,13-14)
Salmo: 92(93) R/ Deus é rei e se vestiu de majestade, glória ao Senhor!
2ª leitura: "O soberano dos reis da terra fez de nós um reino, sacerdotes para seu Deus" (Apocalipse 1,5-8)
Evangelho: "Tu o dizes: eu sou rei" (João 18,33-37)

Um filho do homem
"... um como filho do homem". A primeira leitura não nos fala que Deus toma o poder, mas sim “um filho do homem”. Isto quer dizer que a humanidade está destinada a dominar sobre tudo o que lhe é contrário. O filho do homem acabará por se chamar Filho do homem. O que pode significar que a humanidade, hoje, está em gestação e irá dar à luz um homem novo, do qual o Cristo representa a entrada, a antecipação. Jesus fala em "Reino de Deus", no futuro, mas, às vezes, também no presente: ele está "no meio de vós". De fato, o homem novo, o Cristo, viveu entre nós e permanece conosco, desde que, pelo amor, nos tornemos um só corpo. Tudo isso, no entanto, permanece escondido, e só será revelado quando ele vier em sua "Glória", que será a glória também da humanidade, do "Filho do Homem". Este tema da realeza é para nós sempre um pouco estranho, e temos dificuldade em conceber a nossa relação com Deus como sendo uma relação entre um soberano e os seus súditos. Compreendemos que o Cristo não assume o poder sobre nós, já que não somos súditos, mas filhos, herdeiros do Reino (Gálatas 4,1-7). O Cristo toma sim o poder, mas sobre tudo o que nos sujeita, as famosas dominações e potestades de que fala Paulo tantas vezes e que representam tudo o que entrava a nossa liberdade. Para isso, teve de ser "elevado da terra", o que, em São João, significa ser crucificado. Submetendo-se a estas potestades, Jesus parece dizer: não têm importância nenhuma, elas não podem nada contra nós, pois não podem nos impedir de amar. E ele nos mostra isso.

A Realeza de Cristo
A expressão Cristo Rei é de fato um pleonasmo, porque a palavra Cristo já designa quem recebeu a unção real. Todo o povo é que por vezes é chamado de Cristo, o que nos traz de volta ao parágrafo precedente. Mas como se exerce a realeza do Filho do homem? Vimos que ela consiste em tomar o poder sobre tudo o que nos é contrário. "Tudo pertence a vós... o mundo, a vida, a morte, as coisas presentes e as futuras. Tudo é vosso; mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus" (1 Coríntios 3,21-23). Esta última frase implica que só alcançaremos a realeza participando da realeza de Cristo. Cabeça e membros, por certo, se fazem somente um, conforme outra imagem usada por Paulo. Mas a cabeça é que inspira os membros. Se a relação de Cristo para conosco não é uma relação de autoridade, no sentido corrente da palavra, em que consiste ela então? O evangelho nos dá a resposta. Jesus diz a Pilatos “Eu sou rei”, e faz questão de precisar que a sua realeza não é como as que são exercidas neste mundo. O único poder que o Cristo exerce é o de atração da verdade, da nossa própria verdade, esta que faz de nós seres humanos. Parece estarmos ouvindo Jesus dizer, em João 6,44: "Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o atrair." E esta atração, exercida por nossa Origem, para nos levar ao nosso ser verdadeiramente, "de verdade", nos deixa plenamente livres; daí vêm todos os nossos problemas.

A festa do nosso futuro
Quer falemos do Cristo Rei, da Ascensão de Jesus, Filho do homem elevado acima de tudo, da sua entrada na glória, quer digamos, como no Credo, que ele está sentado à direita do Pai, estamos dizendo a mesma coisa: que aquele que em si mesmo assumiu a nossa humanidade conquista a verdade do amor ao se entregar para os outros e, por aí, entrando na alegria plena. Ao fazer isto, ele traça o caminho que devemos seguir se quisermos encontrá-lo aonde ele chegou. "Diante de mim, abriste uma passagem." Não somos mais prisioneiros de um destino de morte. Por isso, quando celebramos a festa de Cristo Rei estamos celebrando a nós mesmos. O que nos desconcerta é que só chegamos a este futuro de verdade e vida (João 14,6) tendo atravessado o pior: o fracasso, a doença, o luto, a morte. Por que razão o nascimento de nossa verdade tem de passar por tudo isso? O famoso problema do mal nunca recebeu uma solução satisfatória. Mas ele existe entre nós e nos deixa marcados de uma conivência às vezes desconcertante. Temos dificuldade em acreditar na vida e na alegria. No entanto, nada podemos fazer, tendo em vista o nosso acesso a este Reino, sem a fé e a esperança no amor que nos faz existir. Na base da nossa recusa e das nossas hesitações está o medo que, justamente, é o contrário da fé. O medo nos subjuga e nos bloqueia no caminho da liberdade. Ler a fórmula surpreendente de Hebreus 2,15: “Libertar os que, por medo da morte, passavam a vida numa situação de escravos”.
Sítio Croire
*Marcel Domergue (+1922-2015), sacerdote jesuíta francês.

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