terça-feira, 17 de novembro de 2015

Papa: A mundanidade destrói a identidade cristã

Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco começou a semana celebrando a missa na capela da Casa Santa Marta.
O Pontífice comentou a primeira leitura do dia, extraída do Livro dos Macabeus, que fala de uma “raiz perversa” que surgiu naquelas dias: o rei helenista Antíoco Epífanes impõe os hábitos pagãos a Israel, ao “Povo eleito”, isto é, à “Igreja daquele momento”.
Francisco descreveu “a imagem da raiz que está sob a terra”. A “fenomenologia da raiz” é esta: “Não se vê, parece não machucar, mas depois cresce e mostra a própria realidade”. “Era uma raiz razoável”, que impulsionava alguns israelitas a se aliarem com as nações vizinhas para se protegerem: “Por que tantas diferenças? Porque desde que nos separamos deles, muitos males caíram sobre nós. Unamo-nos a eles”.
O Papa explicou esta leitura com três palavras: “Mundanidade, apostasia, perseguição”. A  mundanidade é fazer aquilo que faz o mundo. É dizer: “Vamos leiloar a nossa carteira de identidade; somos iguais a todos”. Assim, muitos israelitas “renegaram a fé e se afastaram da aliança sagrada”. E aquilo “que parecia tão razoável – ‘somos como todos, somos normais’ – se tornou a destruição”:
Veja em VaticanBR
“Depois o rei prescreveu em todo o seu reino que todos formassem um só povo, um pensamento único; a mundanidade, e que cada um abandonasse os próprios costumes. Todos os povos seguiram as ordens do rei; até mesmo muitos israelitas aceitaram o seu culto: sacrificaram aos ídolos e profanaram o sábado. A apostasia, ou seja, a mundanidade leva ao pensamento único e à apostasia. As diferenças não são permitidas: todos iguais. E na história da Igreja, na história vimos, penso num caso, que foi mudado o nome das festas religiosas. O Natal do Senhor tem outro nome para cancelar a identidade.”
Em Israel foram queimados os livros da lei “e se alguém obedecia a lei, a sentença do rei o condenava à morte”. "Eis a perseguição, iniciada de uma raiz venenosa. Sempre me chamou a atenção", disse o Papa, "que o Senhor, na última ceia, naquela longa oração rezasse pela unidade dos seus e pedia ao Pai que os libertasse de todo espírito do mundo, de toda mundanidade, porque a mundanidade destrói a identidade; a mundanidade leva ao pensamento único":
“Começa de uma raiz, mas é pequena, e termina na abominação da desolação, na perseguição. Este é o engano da mundanidade. Por isso, Jesus pedia ao Pai, naquela ceia: Pai, não te peço que os tire do mundo, mas que os proteja do mundo”, desta mentalidade, deste humanismo que vem tomar o lugar do homem verdadeiro, Jesus Cristo, que vem nos tirar a identidade cristã e nos leva ao pensamento único: ‘Todos fazem assim, por que nós não?’. Nesses tempos, isso nos deve questionar: como é a minha identidade? É cristã ou mundana? Ou me declaro cristão porque quando criança fui batizado ou nasci num país cristão, onde todos são cristãos? A mundanidade que entra lentamente, cresce, se justifica e contagia: cresce como aquela raiz, se justifica – ‘mas façamos como todos, não somos tão diferentes’ -, busca sempre uma justificativa  e, no final, contagia e tantos males vêm dali”. 
“A liturgia, nestes últimos dias do ano litúrgico” – finaliza o Papa – nos exorta a prestar atenção às “raízes venenosas” que “afastam do Senhor”:
“E peçamos ao Senhor pela Igreja, para que o Senhor a proteja de todas as formas de mundanidade. Que a Igreja sempre tenha identidade emitida por Jesus Cristo; que todos nós tenhamos a identidade que recebemos no batismo, e que esta identidade, para querer ser como todos, por motivos de ‘normalidade’, não seja jogada fora. Que o Senhor nos dê a graça de manter e proteger a nossa identidade cristã contra o espírito da mundanidade que sempre cresce, se justifica e contagia”. (BF/MJ/RB)


Francisco: cristãos não devem ter vida dupla, evitar mundanidade


Cidade do Vaticano (RV) – Proteger-se da mundanidade que nos “leva a uma vida dupla”. Esta é a advertência que o Papa Francisco fez na Missa matutina na Casa Santa Marta esta terça-feira (17/11). O Pontífice reiterou que, para preservar a identidade cristã, é preciso ser coerente e evitar as tentações de uma vida mundana:
O velho Eleazar “não se deixa enfraquecer pelo espírito da mundanidade” e prefere morrer a se render à apostasia do “pensamento único”. O Papa se inspirou na primeira Leitura, extraída do Segundo Livro dos Macabeus, para novamente advertir os cristãos das tentações da vida mundana. Eleazar, já com 90 a anos, não aceitou comer carne suína como lhe pediam seus “amigos mundanos”, preocupados em salvar-lhe a vida. Ele, observou Francisco, mantém a sua dignidade “com aquela nobreza” que “provinha de uma vida coerente, vai ao martírio, e testemunha”.
A mundanidade nos afasta da coerência da vida cristã
“A mundanidade espiritual nos afasta da coerência de vida, nos faz incoerentes”, uma pessoa "finge ser de certa maneira, mas vive de outra”. E a mundanidade, acrescentou, “é difícil conhecê-la desde o início, porque é como o caruncho que lentamente destrói, degrada o tecido e depois aquele tecido” se torna inutilizável e “aquele homem que se deixa levar pela mundanidade perde a identidade cristã”:
“O caruncho da mundanidade destruiu a sua identidade cristã, é incapaz de coerência. ‘Oh, eu sou tão católico, padre, vou à missa todos os domingos, sou tão católico’. E depois vai trabalhar, exercer a sua profissão: ‘Mas se comprar isto, fazemos esta propina e fica com ela’. Isso não é coerência de vida, isso émundanidade, para dar um exemplo. A mundanidade leva a uma vida dupla, aquela que aparece e aquela que realmente é, e afasta de Deus e destrói a identidade cristã”. 
Tentações mundanas
Por isso, prosseguiu, Jesus é “tão forte” quando pede que o Pai salve os discípulos do espírito mundano, “que destrói a identidade cristã”. Um exemplo de baluarte contra este espírito é o próprio Eleazar que pensa aos jovens, os quais, se tivessem cedido ao espírito mundano, teriam se perdido por sua culpa:
“O espírito cristão, a identidade cristã, não é nunca egoísta, procura sempre proteger com a própria coerência, proteger, evitar o escândalo, cuidar dos outros, dar um bom exemplo. ‘Mas não é fácil, padre, viver neste mundo, onde as tentações são tantas, e a maquiagem da vida dupla nos atenta todos os dias, não é fácil’. Para nós, não só não é fácil, é impossível. Somente Ele é capaz de realizá-lo. E por isso rezamos no Salmo: ‘O Senhor me sustenta’. O nosso sustento contra a mundanidade que destrói a nossa identidade cristã, que nos leva à vida dupla, é o Senhor”.
Coragem
É o único que pode nos salvar, disse ainda, e a nossa humilde oração será: “Senhor, sou pecador, na verdade, todos somos, mas peço o seu sustento, me dê seu sustento para que de um lado eu não finja ser cristão e de outro viva como um pagão, como um mundano”:
“Se vocês tiverem um tempo hoje, peguem a Bíblia, o segundo livro dos Macabeus, sexto capítulo, e leiam esta história de Eleazar. Fará bem, dará coragem para ser exemplo a todos e também dará força e sustento para levar adiante a identidade cristã, sem comprometimentos, sem vida dupla”. (RF/BB)


O perigo do mundanismo


O espírito contrário ao espírito das bem-aventuranças, o espírito contrário ao espírito de Jesus.
Por Dom Fernando Arêas Rifan*

“Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, a saber, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito”, porque “nós não recebemos o espírito do mundo, mas recebemos o Espírito que vem de Deus, para conhecermos os dons que Deus nos concedeu”, nos admoesta São Paulo (Rm 12, 2 e 1 Cor 2, 12).
O mundo “está sob o poder do Maligno” (1Jo 5, 19). O cristão, como seu mestre Jesus, não é deste mundo (Jo 17, 14). “Se o mundo vos odeia, sabei que primeiro odiou a mim. Se fosseis do mundo, o mundo vos amaria como ama o que é seu” (Jo 15, 18).
Na esteira de Jesus e dos Apóstolos, o Papa Francisco ensina: “Há um problema que não faz bem aos cristãos: o espírito do mundo, o espírito mundano, o mundanismo espiritual. Isto faz-nos sentir autônomos, viver o espírito do mundo, e não o de Jesus” (18/5/2013).
“Desde o primeiro batizado, todos somos Igreja e todos devemos caminhar pela senda de Jesus, que percorreu Ele mesmo um caminho de despojamento. Tornou-se servo, servidor; quis ser humilhado até à Cruz. E se nós quisermos ser cristãos, não há outro percurso. Mas não podemos fazer um cristianismo um pouco mais humano – dizem – sem cruz, sem Jesus, sem despojamento? Desta forma tornar-nos-íamos cristãos de pastelaria, como lindos bolos, como boas coisas doces! Muito lindos, mas não cristãos verdadeiros! Alguém dirá: ‘Mas do que se deve despojar a Igreja?’ Deve despojar-se hoje de um perigo gravíssimo, que ameaça todas as pessoas na Igreja, todos: o perigo do mundanismo. O cristão não pode conviver com o espírito do mundo. O mundanismo nos leva à vaidade, à prepotência, ao orgulho. E isto é um ídolo, não é Deus. É um ídolo! E a idolatria é o maior pecado!... Todos nós devemos nos despojar desse mundanismo: o espírito contrário ao espírito das bem-aventuranças, o espírito contrário ao espírito de Jesus. O mundanismo nos faz mal. É tão triste encontrar um cristão mundano, convencido – ao seu parecer – daquela certeza que a fé lhe dá e certo da segurança que lhe oferece o mundo. Não se pode misturar os dois espíritos. A Igreja – todos nós – deve despojar-se do mundanismo, que a leva à vaidade, ao orgulho, que é a idolatria. O próprio Jesus dizia-nos: ‘Não se pode servir a dois senhores: ou serves a Deus ou serves ao dinheiro’ (cf. Mt 6, 24). No dinheiro estava todo este espírito do mundo; dinheiro, vaidade, orgulho. É triste cancelar com uma mão o que escrevemos com a outra. O Evangelho é o Evangelho! Deus é único! E Jesus fez-se servo por nós e o espírito do mundo não tem lugar aqui...”
“O mundanismo espiritual mata! Mata a alma! Mata as pessoas! Mata a Igreja! Quando Francisco, aqui, fez aquele gesto de se despojar... foi a força de Deus que o estimulou a fazê-lo, a força de Deus que nos queria recordar o que Jesus nos dizia sobre o espírito do mundo... Que o Senhor dê a todos nós a coragem de nos despojarmos... do espírito do mundo, que é a lepra, é um cancro da sociedade... O espírito do mundo é o inimigo de Deus!” (Assis, 4/10/2013). 
CNBB 12-11-2015
*Dom Fernando Arêas Rifan é bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney.

Evangelho do Dia

B - 17 de novembro de 2015

Lucas 19,1-10

Aleluia, aleluia, aleluia.
Por amor, Deus enviou-nos o seu filho como vítima por nossas transgressões (1Jo 4,10).

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
19 1 Jesus entrou em Jericó e ia atravessando a cidade.
2 Havia aí um homem muito rico chamado Zaqueu, chefe dos recebedores de impostos.
3 Ele procurava ver quem era Jesus, mas não o conseguia por causa da multidão, porque era de baixa estatura.
4 Ele correu adiante, subiu a um sicômoro para o ver, quando ele passasse por ali.
5 Chegando Jesus àquele lugar e levantando os olhos, viu-o e disse-lhe: “Zaqueu, desce depressa, porque é preciso que eu fique hoje em tua casa”.
6 Ele desceu a toda a pressa e recebeu-o alegremente.
7 Vendo isto, todos murmuravam e diziam: “Ele vai hospedar-se em casa de um pecador”.
8 Zaqueu, entretanto, de pé diante do Senhor, disse-lhe: “Senhor, vou dar a metade dos meus bens aos pobres e, se tiver defraudado alguém, restituirei o quádruplo”.
9 Disse-lhe Jesus: “Hoje entrou a salvação nesta casa, porquanto também este é filho de Abraão”.
10 Pois o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido.
Palavra da Salvação.

Comentário do Evangelho
AS ETAPAS DA SALVAÇÃO
O encontro de Zaqueu com Jesus mostra como a conversão acontece em etapas. De certo modo, esta revela como a salvação acontece na vida de quem se torna discípulo do Reino.
O primeiro passo consiste no desejo de ver Jesus. No caso de Zaqueu, o Evangelho não esclarece os motivos deste anseio. Sabemos, apenas, ter sido tão forte que nada deteve o homem até vê-lo realizado.
O segundo passo exige a superação de todos os obstáculos. Para Zaqueu, um empecilho era sua baixa estatura. O problema foi resolvido: subiu numa árvore.
O terceiro passo comporta deixar-se amar por Jesus, sem restrições nem desconfiança, abrindo-lhe as portas do coração. Zaqueu desceu depressa da árvore, para receber Jesus em sua casa, com alegria.
O quarto passo é uma mudança radical de vida. Radical significa deixar de lado os esquemas e mentalidades antigos, para adequar-se às exigências do Reino. Isto não se faz com palavras ou com boas intenções, mas com gestos concretos. Zaqueu dispôs-se a dar metade de seus bens aos pobres e a ressarcir, quatro vezes mais, aquilo que havia roubado. Desta forma, ele provou que, realmente, a salvação tinha entrado em sua casa.

 
Leitura
2 Macabeus 6,18-31
Leitura do segundo livro dos Macabeus.
6 18 Havia certo homem já de idade avançada e de bela aparência, Eleazar, que se sentava no primeiro lugar entre os doutores da lei. Queriam coagi-lo a comer carne de porco, abrindo-lhe a boca à força.
19 Mas ele, cuspindo e preferindo morrer com honra a viver na infâmia,
20 caminhou voluntariamente para o instrumento de tortura, como devem caminhar os que têm a coragem de rejeitar o que não é permitido comer por amor à vida.
21 Ora, os encarregados desse ímpio banquete ritual, já desde muito tempo possuíam relações de amizade com Eleazar. Tomaram-no à parte e rogaram-lhe que fizesse trazer as carnes permitidas, que ele mesmo tivesse preparado, para comê-las como se fossem carnes do sacrifício, conforme ordenara o rei.
22 Desse modo, ele seria preservado da morte, e granjearia sua benevolência em vista da antiga amizade.
23 Mas Eleazar, tomando uma bela resolução, digna de sua idade, da autoridade que lhe conferia sua velhice, do prestígio que lhe outorgavam seus cabelos brancos, da vida íntegra conservada desde a infância, digna sobretudo das sagradas leis estabelecidas por Deus, preferiu ser conduzido à morte.
24 "Não é próprio da nossa idade", respondeu ele, "usar de tal fingimento, para não acontecer que muitos jovens suspeitem de que Eleazar, aos noventa anos, tenha passado aos costumes estrangeiros.
25 Eles mesmos, após o meu gesto hipócrita, e por um pouco de vida, se deixariam arrastar por causa de mim, e isso seria para a minha velhice a desonra e a vergonha.
26 E mesmo se eu me livrasse agora dos castigos dos homens, não poderia escapar, nem vivo nem morto, das mãos do Todo-poderoso.
27 Sendo assim, se eu morrer agora corajosamente, mostrar-me-ei digno de minha velhice, e terei deixado aos jovens um nobre exemplo de zelo generoso, segundo o qual é preciso dar a vida pelas santas e veneráveis leis".
28 Ditas estas palavras, ele dirigiu-se ao suplício.
29 Aqueles que o levavam transformaram em dureza a benevolência, que pouco antes haviam tido para com ele, julgando insensatas suas palavras.
30 E quando ele estava prestes a morrer sob os golpes, exclamou entre suspiros: "O Senhor que possui a ciência santíssima o vê: podendo eu livrar-me da morte, sofro em meu corpo os tormentos cruéis dos açoites, mas os suporto com alma alegre porque é a ele que temo".
31 Dessa maneira passou à outra vida, deixando com sua morte não somente aos jovens, mas também a toda a sua gente, um exemplo de coragem e um memorial de virtude.
Palavra do Senhor.
Salmo 3
É o Senhor quem me sustenta e me protege!

Quão numerosos, ó Senhor, os que me atacam;
quanta gente se levanta contra mim!
Muitos dizem, comentando a meu respeito:
“Ele não acha a salvação junto de Deus!”

Mas sois vós o meu escudo protetor,
a minha glória que levanta minha cabeça!
Quando eu chamei em alta voz pelo Senhor,
do monte santo ele meu ouviu e respondeu.

Eu me deito e adormeço bem tranqüilo;
acordo em paz, pois o Senhor é meu sustento.
Não terei medo de milhares que me cerquem
e, furiosos, se levantam contra mim.
Levantai-vos, ó Senhor, vinde salvar-me!

 
Oração
Ó Deus, que destes a santa Isabel da Hungria reconhecer e venerar o Cristo nos pobres, concedei-nos, por sua intercessão, servir os pobres e aflitos com incansável caridade. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

sábado, 14 de novembro de 2015

Pesar e profunda dor do Papa Francisco pelos atentados em Paris




Ataques em Paris deixaram ao menos 120 mortos - AFP
14/11/2015 08:20
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Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco recebeu com pesar e profunda dor as notícias sobre os ataques terroristas em Paris que causaram ao menos 120 mortes. No Vaticano – afirma o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi – estamos acompanhando com consternação essas terríveis notícias:
“Estamos estarrecidos por esta nova manifestação de louca violência terrorista e de ódio, que condenamos no modo mais radical junto ao Papa e a todas as pessoas que amam a paz. Rezamos pelas vítimas e pelos feridos e por todo o povo francês. Trata-se de um ataque à paz de toda a humanidade, que requer uma reação decidida e solidária da parte de todos nós para contrastar o expandir-se do ódio homicida em todas as suas formas.”


O Reinado do Papa Leão XIII


Doutrina Social da Igreja e Capitalismo (1878-1903).
Por Cristiano Luiz da Costa & Silva
A Igreja Católica e seus pontífices começaram lentamente a aceitar o mundo moderno com o papa Leão XIII. No ano de 1878, após breve Conclave Papal, o Cardeal Gioacchino Vincenzo Pecci, era eleito Papa. Tratava-se de uma pessoa importante no pontificado de Pio IX, pois durante o período de Sé-Vacância (período entre a morte de um Pontífice e a eleição de seu sucessor), Pio IX fez do Cardeal Pecci, Cardeal Carmelengo, o que curiosamente quebrou o antigo costume de que o Cardeal Carmelengo jamais era eleito Papa.
Leão XIII era marcado por um discurso brando, divisor de opiniões, porém, não abandonou o conservadorismo papal, reafirmando as orientações do Concilio Vaticano I e o “Silabo de Erros”, do papa Pio IX. Embora ainda Mantendo a linha conservadora, a ponto de declarar, em 1885, na Encíclica Immortale Dei que a democracia era incompatível com a autoridade da Igreja, ele deu uma série de passos construtivos no relacionamento com diversos governos europeus. É neste contexto, que as inovações técnicas, que ao longo do século XIX, se espalham por toda a Europa, vão delimitar todos os rumos da produção, numa sociedade formada de pessoas que vivem na alma e no corpo os efeitos de um salto gigantesco em termos científico-tecnológicos.
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL trouxe avanços inegáveis, especialmente através da imensa capacidade de produção, através da máquina. Mas esse conjunto de transformações trouxe também efeitos negativos. Se for verdade que o poder das máquinas multiplicou em muito a capacidade de produzir bens, alimentos e equipamentos, também é verdade que os benefícios de semelhante progresso não foram equitativamente distribuídos. Os “tempos modernos” ou a “era da máquina” vieram acompanhados, simultaneamente, de um enorme potencial produtivo e de uma crescente desigualdade social.

revolução industrial
A indústria nasce sob o domínio do sistema capitalista de produção e sob a orientação da filosofia liberal. A livre concorrência e o lucro acelerou a economia capitalista. No mesmo campo, como forças desiguais, patrões e operários lutam por seus interesses. Uns detêm o capital e os meios de produção, outros apenas a força de trabalho. Em tais condições, instala-se a lei do mais forte. Na verdade, o liberalismo econômico é um jogo de cartas marcadas, no qual os mais fortes vão devorando os mais fracos.
Em tais condições, a realidade apresenta-se sob um duplo aspecto: por um lado, as fábricas crescem, multiplicam-se por toda parte; Por outro lado, os trabalhadores, primeiramente expulsos de suas terras, vêem-se, depois, submetidos às condições de trabalho e de vida extremamente precárias e desumanas. A riqueza de poucos é a contra-face da pobreza de muitos.
E dessa forma, a mão-de-obra da classe dos trabalhadores, vai ocupar os postos de trabalho nas nascentes fábricas. Dentre os trabalhadores, nas cidades destacam-se as massas vindas dos campos, com o êxodo rural e os artesãos, falidos pela injusta concorrência de preços com as nascentes fábricas e imigrantes judeus e irlandeses. Dentro das condições de trabalho, esses grupos submetem-se à tarefas intensas e longas jornadas de trabalho, em troca de baixíssimos salários, e condições precárias de subsistência.
Assim sendo, essas mudanças na estrutura econômica em âmbitos continentais, a sede por lucro e o grande avanço dessas tecnologias vão modificar o cenário europeu dos anos oitocentos, marcando o surgimento de novas relações de trabalho e o novo cenário social.
O Papa Leão XIII começa, no fim do século XIX, uma intervenção mais clara e definida na questão social. A encíclica Rerum Novarum (Das coisas novas), apesar de ser dirigida À Igreja, universalmente, responde à anseios da situação da classe operaria europeia. É a primeira vez que um documento do magistério católico dedica-se integralmente à chamada “questão social”. Isto não quer dizer que os problemas sociais estivessem ausentes das publicações anteriores na história da Igreja.
O próprio Leão XIII, na introdução da Rerum Novarum, refere-se à abordagem do tema, em encíclicas precedentes sobre soberania política, liberdade humana e constituição cristã dos Estados. Mas, enquanto anteriormente essas questões apareciam de forma secundária, à margem de outros assuntos de maior relevância, agora o papa faz da condição social dos operários o tema central de sua carta.

revolução industrial
Leão XIII sublinha a importância da classe trabalhadora e seu direito de criar e organizar sindicatos para reivindicar a realização de seus legítimos interesses. Ele não só rejeita o socialismo e responsabiliza o capitalismo pela questão social, como também propõe uma verdadeira política social que inspirou a política trabalhista contemporânea.
Nota-se aqui uma mudança de enfoque ou de perspectiva: a Igreja, na pessoa do Papa, deixa em segundo plano os assuntos internos e volta-se para os problemas que afligem os trabalhadores da época. O olhar da Igreja dirige-se ao mundo exterior, identificando nele os principais desafios sociais à fé cristã e buscando alternativas para as contradições da sociedade em que vive. Em suas palavras Leão XIII expressou o pensamento social da Igreja e fez a defesa dos direitos dos trabalhadores no contexto da revolução industrial e do capitalismo em expansão.
O Papa questiona a realidade social, em uma sociedade que a grande riqueza se concentra nas mãos de um número reduzido de pessoas, que com sua riqueza dominam os trabalhadores, assemelhando-se a um estado de escravidão. Além disso, Leão XIII apresenta uma “descristianização” da sociedade, na distensão das relações entre a Igreja e o Estado e no comportamento das pessoas.
A partir da Industrialização e do mundo moderno, provocado pela Revolução Francesa e o Iluminismo, fragilizou-se as influências da Igreja Católica, como algo essencialmente “necessário” para a vida cotidiana das pessoas. Desta forma, é importante compreender até que ponto esta classe operária urbana freqüentava a Igreja e os sacramentos.
Outra questão que preocupava o Papa Leão XIII, era a Luta de Classes, pregado pelo Manifesto Comunista em 1848 por Marx e Engels. O Papa afirma que deve existir uma concordância das classes e não uma luta entre elas, e que o socialismo se torna uma libertação ilusória desta sociedade. A Igreja prega a harmonia entre as classes.
A partir dessa doutrina social, Leão XIII argumenta no sentido de que os ricos devem ajudar aos pobres, muito além da caridade. O papa afirma que o Estado deve desempenhar seu papel de diminuir as desigualdades sociais, que a prosperidade do Estado depende da atuação dos trabalhadores pobres, fazendo assim surgir um compromisso com a integridade e com a plena garantia de seus direitos, tanto espirituais como materiais.
Com esta preocupação, o papado passa a assumir, em seu magistério, uma postura mais clara para os diversos temas conflituosos da sociedade do século XIX. Leão XIII inaugura com estas críticas ao capitalismo e ao socialismo, um novo rumo de discussões na vida da Igreja. O Papa Leão XIII, em 1881, revela outra face dinâmica do seu pontificado. A abertura dos Arquivos do Vaticano à produção acadêmica, anteriormente sufocada pelo papado de Pio IX, fato esse que é aplaudido por historiadores Católicos e Protestantes.
Em um contexto em que a Igreja Católica ia ficando em segundo plano, cada vez mais à margem dos acontecimentos da história moderna, Leão XIII deixa como herança a Pio X, a concepção de que o papado não é instituição de arbitrariedade de conflitos políticos, sociais, econômicos. No fim de seu longo pontificado (1878–1903), Leão XIII conseguiria recuperar o prestigio do “representante de Pedro”, que havia se perdido em tempos difíceis.
A12 23-10-2015.

Convicções cristãs


A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus segundo Marcos 13,24-32.
Por José Antonio Pagola*
Pouco a pouco iam morrendo os discípulos que tinham conhecido Jesus. Os que ficavam acreditavam Nele sem o ter visto. Celebravam a sua presença invisível nas eucaristias, mas quando veriam Seu rosto cheio de vida? Quando se cumpriria o seu desejo de encontrar-se com Ele para sempre?
Continuavam a recordar com amor e com fé as palavras de Jesus. Eram seu alimento naqueles tempos difíceis de perseguição. Mas, quando poderiam comprovar a verdade que encerravam? Não iriam esquecendo-se pouco a pouco? Passavam os anos e não chegava o Dia Final tão esperado, que podiam pensar?
O discurso apocalíptico que encontramos em Marcos quer oferecer algumas convicções que hão de alimentar sua esperança. Não devemos entendê-lo em sentido literal, mas procurando descobrir a fé contida nessas imagens e símbolos que hoje nos resulta tão estranha.
Primeira convicção: A história apaixonante da Humanidade chegará um dia ao seu fim
O 'sol' que assinala a sucessão dos anos apagar-se-á. A 'lua' que marca o ritmo dos meses já não brilhará. Não haverá dias e noites, não haverá tempo. Também, 'as estrelas cairão do céu', a distância entre o céu e a terra se apagará, já não haverá espaço. Esta vida não é para sempre. Um dia chegará a Vida definitiva, sem espaço nem tempo. Viveremos no Mistério de Deus.
Segunda convicção: Jesus voltará e seus seguidores poderão ver por fim seu desejado rosto: 'verão vir o Filho do Homem'
O sol, a lua e os astros apagar-se-ão, mas o mundo não ficará sem luz. Será Jesus quem iluminará para sempre pondo verdade, justiça e paz na história humana tão escrava hoje de abusos, injustiças e mentiras.
Terceira convicção: Jesus irá trazer consigo a salvação de Deus
Vem com o poder grande e salvador do Pai. Não se apresenta com aspecto ameaçador. O evangelista evita falar aqui de juízos e condenações. Jesus vem a 'reunir seus escolhidos', os que esperam com fé a sua salvação.
Quarta convicção: As palavras de Jesus 'não passarão'
Não perderão a sua força salvadora. Seguirão alimentando a esperança dos seus seguidores e o alento dos pobres. Não caminhamos em direção ao nada e ao vazio. Espera-nos o abraço com Deus.
Instituto Humanitas Unisinos
*José Antonio Pagola, teólogo espanhol.