domingo, 4 de janeiro de 2009

Onde está o Reino de Deus?

Jesus anuncia o Reino de Deus, o Reino da vida. Nele devem participar sobretudo aqueles que foram privados da vida, isto é, os pobres e oprimidos. Mas onde está o Reino de Deus? Anunciado por Jesus há mais de dois mil anos, mas o que vemos é um mundo cada vez mais violento e opressor, uma desagregação geral das famílias, dos jovens pelas drogas, pelo consumo excessivo de produtos que nos são impostos pela mídia. Sem falarmos de uma vasta rede de supermercados da fé, vendendo e apresentando através de seus pacotes promocionais para a prosperidade uma solução fácil e induzindo para que fechem os olhos aos sofrimentos de nossos irmãos, empobrecidos e excluídos de nossa sociedade.

Onde está, então o Reino de Deus? Em Lucas 17, 20-21, Jesus Cristo diz: o Reino de Deus não vem ostensivamente. Nem se poderá dizer: Ei-lo aqui...Ei-lo acolá; porque na verdade o reino de Deus já está no meio de vós. Se Cristo diz que já está no meio de nós, é muito importante para nós que procuremos reconhece-lo. O homem, sedento de notícias, sempre à procura de algum sinal de esperança para sua vida, não pode ficar indiferente diante desta grande notícia. Mas se o Reino não chega com aparatosa ostentação, se não vê, pelos caminhos da publicidade demagógica, se não se pode dizer: ei-lo aqui ou ali, é bem possível que sua descoberta exija do homem algumas atitudes especiais. “Nós devemos procurar nos evangelhos os sinais que nos permita reconhece-lo.”

O Reino nasce no coração do homem. Chega quando o homem se converte, mas não é uma conversão imposta por interesse, mesmo porque Deus não se impõe. Ele propõe e convida e as pessoas são livres e devem decidir livre e conscientemente se aceitam ou não o Reino, isto é, se aceitam ou não comprometer-se com Jesus. Aceitar significa mudar radicalmente, deixando o egoísmo que gera a desigualdade e a injustiça, para aceitar o compromisso com Jesus e sua ação, tornando-se disponível ao amor que gera a verdade e a justiça, produzindo relações humanas igualitárias, fundadas na partilha e na fraternidade, e nos conduzindo ao encontro dos irmãos. É um desafio à liberdade humana.

Quando o homem acolhe a palavra de Jesus que se revela nos apelos dos irmãos (Mt 25, 31-46), quando reconhece que o próximo não é apenas o vizinho, o amigo, mas também o estrangeiro, o inimigo, qualquer homem (Lc 10, 25-37); quando aprendemos a rezar fraternalmente o “Pai Nosso, venha a nós o vosso Reino”.

Jesus nos fala do Reino com palavras simples, com singelas comparações da vida cotidiana, pois o mistério do Reino não é aberto com as chaves da sabedoria e esperteza humanas, mas é revelado aos simples, aos corações dispostos a acolher o dom de Deus (Mt 13, 11-12). O Reino é uma força transformadora de toda a realidade, é como uma semente: ninguém nota que ela caiu na terra. Mas, se o coração do homem a acolhe, como terra boa, a semente frutifica e produz trinta, sessenta, cem por um (Mt 13, 1-23). Ou como um grão de mostarda que chega e converte-se numa grande árvore (Mt 13, 31-32). Ou como fermento que uma mulher mistura em três porções medidas de farinha para fermentar toda a massa (Mt 13, 33).

Concluiremos dizendo que transformando o coração do homem, o Reino tende a transformar toda a realidade. Inspira projetos concretos de transformação da sociedade. Procura tornar mais humanas, mais justas, as suas estruturas. Como fermento vai transformando a terra dos homens numa terra fraterna, a terra dos filhos de Deus, e é através de uma atitude prática de compromisso, em que as mãos e os pés se empenham para continuar a ação de Jesus.

O Reino de Deus se torna próximo e sempre vai chegando na medida em que as pessoas se comprometem e continuam o que Jesus começou, criando, através da palavra e da ação, o mundo novo que Deus sempre desejou para todos.

Carlos Albérico

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