sexta-feira, 29 de junho de 2012

A Cúria de Bento XVI. Sinais de abertura

Com as novas nomeações anunciadas nesta terça-feira, às quais se acrescentará a iminente nomeação do novo Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Bento XVI estabeleceu um novo rumo para a Cúria romana. Como se sabe, o Papa promoveu a arquivista e bibliotecário da Santa Igreja Romana o arcebispo francês Jean-Louis Brugues, que até agora era secretário da Congregação para a Educação Católica. Também chamou o bispo Vincenzo Paglia, com uma longa história como assistente espiritual da Comunidade de Santo Egídio, para a presidência do Pontifício Conselho para a Família. Fez com que o secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Augustine Di Noia, cubra o novo posto de vice-presidente da Comissão “Ecclesia Dei”; em seu lugar, como “número dois” do dicastério que se ocupa da liturgia, estará o inglês Arthur Roche, até agora bispo de Leeds. Para terminar, o Papa designou como secretário adjunto da Propaganda Fidei o bispo de Kigoma (Tanzânia), Protase Rugambwa, ao passo que como regente da Penitenciária Apostólica nomeou o polonês Krzysztof Jozef Nykiel.
A reportagem é de Andrea Tornielli e está publicada no sítio Vatican Insider, 27-06-2012. A tradução é do Cepat.

Deve-se destacar que são três os italianos que deixam seus postos (os cardeais Raffaele Farina e Ennio Antonelli, e o bispo Gianfranco Girotti) e que apenas um italiano ocupará um deles (Paglia). E não se pode deixar de notar que o sinal destas mudanças não pode ser classificado como conservador ou tradicionalista. Paglia tem uma longa experiência no diálogo ecumênico e nas iniciativas a favor dos pobres; Brugues é visto como homem aberto e de meditações nas controvérsias que envolveram as universidades católicas nestes anos; Roche é um bispo moderno (não modernista), fiel ao Concílio, especialista em liturgia (durante 10 anos presidiu a ICEL, International Commission on English in Liturgy) e seguramente não tem uma agenda tradicionalista. Quando em 2009 já era candidato para este posto, era o auxiliar do cardeal Murphy O’Connor.

A nova leva de nomeações, em seu conjunto, é um sinal para que se detenha um pouco a ala mais conservadora da Cúria e demonstra a vontade do Papa para manter aberta a linha do diálogo “com todos os campos”. A mudança de abertura de Bento XVI se confirmará dentro de poucos dias, com a designação do bispo de Regensburg Gerhard Ludwig Müller como novo prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. A candidatura de Müller (teólogo alemão que Ratzinger reconhece muito bem) foi o alvo dos ataques de certos ambientes eclesiásticos que consideram o bispo de Regensburg “muito aberto”.

As promoções desta semana e as nomeações, pois, não parecem indicar que o secretário de Estado Tarcisio Bertone esteja para deixar o cargo. A hipótese de uma mudança é considerada, mas não no futuro imediato, sob a pressão dos “vatileaks”, que tinham como um dos principais alvos justamente o “primeiro ministro” do Papa.

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