Tu és o Filho de Deus vivo - José Raimundo Oliva
Quarta-feira, 27 de junho de 2012 - 20h45min
por www.paulinas.com.br
Os três evangelhos sinóticos, Marcos, Mateus e Lucas,
narram esta controvertida passagem da "confissão de Pedro", cada um
deles imprimindo suas interpretações teológicas pessoais a suas
narrativas. Nos evangelhos de Marcos e Lucas, a resposta de Pedro à
pergunta de Jesus sobre sua identidade é breve: "Tu és o Cristo
(messias)", e merece a repreensão de Jesus. Pedro e os demais discípulos
acreditavam que Jesus seria o messias político esperado, que daria ao
povo judeu a glória e o poder sobre as demais nações, como um novo Davi,
conforme a imagem elaborada pela tradição do Primeiro Testamento. Jesus
censura Pedro por esta compreensão e procura demovê-la da mente dos
discípulos.
Mateus modifica a narrativa original de Marcos e
também adotada por Lucas. Ele dá um novo sentido à resposta de Pedro, à
qual acrescenta a proclamação "Filho de Deus vivo". Segue-se a fala de
Jesus confirmando a profissão de seu messianismo celeste, ao elogiar a
fala de Pedro, declarando-a como revelação divina. Com o acento sobre o
caráter messiânico cristológico de Jesus, Mateus dá uma resposta às suas
comunidades, oriundas do judaísmo. Ele escreve na década de 80, depois
da destruição do Templo de Jerusalém, quando os cristãos inseridos na
comunidade judaica estavam sendo expulsos das sinagogas, que até então
frequentavam. Ele pretende convencê-los de que em Jesus se realizavam
suas esperanças messiânicas moldadas sob a antiga tradição de Israel, de
modo a não se intimidarem sob as ameaças e repressão da sinagoga e
permanecerem na comunidade cristã.
Com a visão teológica de Mateus ficam estabelecidas
duas identidades para Jesus: uma, é "o filho do homem", o simples Jesus
de Nazaré, inserido na humanidade, na sua humildade, e presente entre
ela até o fim dos tempos, porém, dignificando-o e divinizando-o; a outra
é o "cristo" ou "messias" (cristo do grego, messias do hebraico,
significando "ungido"), que é o Jesus ressuscitado, manifestado em
glória nos céus, acima dos poderes celestiais, de onde virá para o
julgamento final.
Embora no Segundo Testamento se perceba conflitos
entre Pedro e Paulo (cf., p. ex., Gl 2,11-14), a liturgia os reúne em
uma só festa. Pedro é lembrado pelo seu testemunho corajoso diante da
perseguição (primeira leitura) e Paulo, por seu empenho missionário em
territórios da diáspora judaica (segunda leitura).
Nenhum comentário:
Postar um comentário