Por ocasião da nomeação do novo prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o bispo alemão Gerhard Ludwig Müller, foi citado o seu vínculo com Gustavo Gutiérrez, um dos pais da Teologia da Libertação. Divulgou-se a ideia de que João Paulo II e o então cardeal Joseph Ratzinger, prefeito do ex-Santo Ofício,
condenaram sem trégua esta teologia, razão pela qual a relação entre um
bispo e um teólogo da libertação (que, além disso, nunca foi condenado
por Roma) seria um elemento “suspeito”.
A reportagem é de Andrea Tornielli e está publicada no sítio Vatican Insider, 03-07-2012. A tradução é do Cepat.
Na realidade, a Instrução sobre alguns aspectos da “Teologia da Libertação”, publicada pela Congregação para a Doutrina da Fé em
06 de agosto de 1984, advertia sobre os riscos e os desvios da Teologia
da Libertação que adotava a análise marxista da realidade. Eram os anos
em que, no “Continente da esperança”, havia ditaduras e uma parte da
Igreja se havia declarado do lado de alguns movimentos de libertação de
caráter marxista, embora a viagem do Papa Wojtyla a Puebla, em 1979, para a reunião dos bispos do Celam, tivesse marcado uma mudança. Eram os anos Reagan,
e os Estados Unidos estavam combatendo com todos os seus recursos
contra o “império do mal” soviético: uma batalha crucial estava sendo
travada justamente na América Latina. No entanto, nem toda a Teologia da
Libertação (que nasceu na América Latina durante os anos
pós-conciliares) estava na mira da Congregação, assim
como tampouco sua “opção preferencial pelos pobres”. Era apenas a
análise marxista que alguns teólogos utilizavam que se condenava.
O
documento falava, efetivamente, da “tentação de reduzir o Evangelho da
salvação a um evangelho terrestre”, com o risco de “esquecer o ingente
trabalho desinteressado desenvolvido por cristãos, pastores, sacerdotes,
religiosos ou leigos”. Rechaçava os “a priori ideológicos” que se
usavam como pressupostos para a leitura da realidade social por parte de
uma certa teologia, que apresentava a luta de classes como “uma lei
objetiva, necessária” e fazia crer que “entrando em seu processo, ao
lado dos oprimidos, se ‘faz’ a verdade, se age ‘cientificamente’. Em
consequência, a concepção da verdade anda de mãos dadas com a afirmação
da violência necessária, e por isso com a do amoralismo político”. A
eucaristia se transformava em “celebração do povo em luta”,
identificava-se “o Reino de Deus e seu devenir com o movimento da
libertação humana”.
Foi justamente com a publicação desta Instrução que o cardeal Joseph Ratzinger,
que havia chegado alguns anos antes ao dicastério doutrinal da Santa
Sé, começa a ser identificado como o “inimigo” dos teólogos mais
abertos, o “assassino” das esperanças que o Concílio havia suscitado nos
países pobres. E o que vem da Igreja católica wojtyliana se faz passar
como sinal de apoio aos regimes anticomunistas que governam diferentes
estados da região latino-americana.
Contudo, lendo integralmente
esse primeiro documento sobre a Teologia da Libertação, descobre-se
passagens que demonstram o contrário. “Esta advertência não deve, de
modo algum, ser interpretada como uma desaprovação de todos aqueles que
querem responder generosamente e com autêntico espírito evangélico à
‘opção preferencial pelos pobres’” (p. 4).
“Hoje, mais do que
nunca – continua o documento –, é necessário que a fé de numerosos
cristãos seja iluminada e que estejam decididos a viver a vida cristã
integralmente, comprometendo-se na luta pela justiça, pela liberdade e
pela dignidade humana, por amor aos seus irmãos, por amor aos seus
irmãos deserdados, oprimidos ou perseguidos. Mais do que nunca, a Igreja
propõe-se condenar os abusos, as injustiças e os atentados à liberdade,
onde quer que eles aconteçam e quaisquer que sejam seus autores, e
lutar, com os seus próprios meios, pela defesa e promoção dos direitos
do homem, especialmente na pessoa dos pobres” (p. 5).
A Instrução,
além disso, defende que “o escândalo das gritantes desigualdades entre
ricos e pobres já não é tolerado” (p. 7), e que “chamar a atenção para
os graves desvios que algumas ‘teologias da libertação’ trazem consigo
não deve, de modo algum, ser interpretado como uma aprovação, ainda que
indireta, aos que contribuem para a manutenção da miséria dos povos, aos
que dela se aproveitam, aos que se acomodam ou aos que ficam
indiferentes perante esta miséria. A Igreja, guiada pelo Evangelho da
Misericórdia e pelo amor ao homem, escuta o clamor pela justiça e deseja
responder com todas as suas forças” (p. 38).
Ao final do
documento, não falta inclusive uma referência ao papel dos bispos,
particularmente significativo para os expoentes da hierarquia católica
considerados muito “suaves” com o poder, quando não parte do mesmo. “É
frequente dirigir aos defensores da ‘ortodoxia’ a acusação de
passividade, de indulgência ou de cumplicidade culpáveis frente a
situações intoleráveis de injustiça e de regimes políticos que mantêm
estas situações. A conversão espiritual, a intensidade do amor a Deus e
ao próximo, o zelo pela justiça e pela paz, o sentido evangélico dos
pobres e da pobreza, são exigidos a todos, especialmente aos pastores e
aos responsáveis. A preocupação pela pureza da fé não subsiste sem a
preocupação da dar a resposta de um testemunho eficaz de serviço ao
próximo e, em especial, ao pobre e ao oprimido” (p. 44).

Este blog tem como objetivo divulgar as atividades da Paróquia Nossa Senhora das Candeias - Av. Ulisses Montarroyos, 6375 Candeias 54460-280 Jab. dos Guararapes – PE Tel./Fax.: 3478.0162 Ereção: 25.03.1984 e Instalação: 25.08.1984 Pároco: Pe. Paulo Sérgio Vieira Leite E-mail: pascom.candeias@gmail.com secretariaparoquialcandeias@gmail.com
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