quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Corrupção, ontem e hoje

O fenômeno da corrupção vem de longe, no tempo e na geografia. É um mal histórico e, praticamente, onipresente. A ele se reportam, por ângulos próprios e comuns, a justiça, a administração, a imprensa, a religião, a polícia, a academia, a literatura e a voz do povo. A religião não pode deixar de denunciar a face iníqua da corrupção que sempre causa prejuízos à coletividade. No Antigo Testamento, os profetas denunciam a corrupção praticada por administradores públicos e por pessoas. Amós e Miquéias são exemplos nessa linha de denúncia porque têm palavras muito duras contra quem pratica a corrupção. “Eu digo: ‘Ouvi bem, chefes de Jacó, dirigentes da casa de Israel: Por acaso não é vossa obrigação saber o que é de direito? Mas sois pessoas inimigas do bem e apaixonadas pelo mal. Arrancais o couro dos outros e até a carne que está por cima dos ossos. Sois aqueles que devoram a carne do meu povo e lhe tiram o couro como se fosse uma roupa. Partis seus ossos, quebrando-os como se fosse para cozinhar, carne picada que vai para a panela. Depois, ainda clamarão ao Senhor mas ele não há de lhes dar resposta. Ele, naquela hora, se esconderá dessa gente por todo o mal que praticaram.’ (...) Ouvi bem, chefes da casa de Jacó, dirigentes da casa de Israel, vós que tendes ódio ao que é de justiça e perverteis tudo o que é reto, que construís Sião com sangue derramado, Jerusalém com injustiças. Seus chefes dão sentença a troco de uma propina, seus sacerdotes instruem em vista do lucro, seus profetas adivinham por dinheiro. E é no Senhor que se apóiam, dizendo: ‘O Senhor está no meio de nós, nada de mau nos poderá acontecer!’.” (Mq 3,1-4.9-11)

Em toda e qualquer forma de corrupção, é visível o prejuízo social, porque os benefícios não chegaram à população e, quando chegam, via de regra, têm a marca da má qualidade; isso acontece, com muita frequência, em caso de desvio de verbas e de superfaturamento em contratos entre o poder público e a iniciativa privada. Miquéias denuncia as autoridades pela prática do suborno, da propina. Tanto no seu tempo quanto hoje, o dinheiro na mão de pessoas inescrupulosas é sempre um perigo próximo para a prática da corrupção, qualquer que seja a sua condição - governante, empresário, juiz, policial, sacerdote.
A população está acompanhando o julgamento do “Mensalão”, no Supremo Tribunal Federal, uma prática coletiva de corrupção, tendo como mentores e patrocinadores políticos e empresários muito conhecidos no cenário nacional; contemporaneamente, acontece outro julgamento, por uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, no Congresso Nacional, também envolvendo políticos e empresários. Salta aos olhos do juiz mais atento e do cidadão mais comum que se está diante de um evidente caso de corrupção. Sendo um julgamento, necessariamente, há a tese - a acusação do Procurador Geral da República - a antítese – a defesa dos Advogados dos réus – e a síntese - o julgamento dos Ministros do STF. A sociedade espera que, diante da realidade dos fatos, o resultado seja a punição dos culpados, na medida cabível, a fim de que não se confirme mais um caso de impunidade.
Os corruptos do tempo de Miquéias já usavam “o nome de Deus em vão”, dizendo “nada de mau nos poderá acontecer”; os corruptos daqui e de hoje também sabem que “nada de mau nos poderá acontecer”, porque a impunidade tem sido a marca registrada, em casos semelhantes. Será que vai acontecer isso, mais uma vez? Um julgamento justo, neste caso, é uma questão de dignidade para os Ministros do Supremo Tribunal Federal.
Dom Genival Saraiva de França é Bispo da Diocese de Palmares - PE; Presidente da Conferência Nacional de Bispos Regional Nordeste 2 (CNBB NE2), Responsável pela Comissão Regional de Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz; Diretor presidente do Conselho de Orientação do Ensino Religioso do Estado de Pernambuco (CONOERPE); Membro efetivo do Conselho Econômico da CNBB NE2.

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