quinta-feira, 6 de setembro de 2012

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O menino da praça

Numa manhã setembrina,
na Praça do Panteon, sentei-me à beira de um canteiro, absorta nas minhas orações diárias.
Em dado momento, percebi, ao meu lado, um menino que cochilava.
Agasalhou-se bem juntinho a mim, sequioso por um aconchego materno, e pôs-se a dormir tranqüilamente.

Tocou-me profundamente e, com ecletismo, contemplei aquela cena patética
e me pus a interrogar: Quem és tu, ó menino, que dormes ao relento nesta manhã tão gélida, na Praça do Panteon?

Quem és tu, ó menino desconhecido, que fazes deste chão tua manjedoura, com o teu corpo encoberto, não só pela camisa que te serve de coberta, não só pelo livro que te serve de travesseiro, que alguém ali deixou, não só pelo calção surrado, preto de cor e sujo, que te serve de pijama, não só pela japonesa, pé de uma, pé de outra, que te protege os pés?

Mas pela vida incógnita que levas, pela incerteza estampada no teu rosto de criança, pelo sono que te domina nas noites não dormidas, vagadas ao léu por esta ilha bela?
Mas, e mais ainda, pelo descaso dos grandes, de quem poderia te amparar!

E tu aí dormes a céu aberto, sem alento, banhado pelo sol candente que te aquece da brisa friorenta que sopra nesta manhã de setembro, sob o olhar atônito dos transeuntes, que passam como que a interrogar o porquê deste menino abandonado em tenra idade, jogado à margem da vida, sem amparo e sem carinho, nesta linda São Luís patrimônio da humanidade.

Eu também sem entender vou em frente, com o coração tristonho, nas palavras do Evangelho, meditando: "Deixem as crianças vir a mim.
Não lhes proíbam, porque o reino de Deus pertence a elas"...
Então, Jesus abraçou e abençoou as crianças, pondo as mãos sobre elas.
Fica com Jesus, teu real amparo, ó menino da Panteon!


Aracy Ribeiro e Silva

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