segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Uma safra mundial de cardeais

 

Pode-se argumentar que, no seu forte foco no secularismo ocidental, o papado de Bento XVI tem sido um tanto eurocêntrico. Quando se afirma isso, no entanto, o consistório do dia 24 de novembro deverá ficar marcado como um contraexemplo.


Essa será a quinta safra de novos cardeais de Bento XVI, e, pela primeira vez, não há um único europeu no grupo. Sim, há apenas seis no total, mas a maioria dos observadores ainda esperavam alguns membros do velho continente – por exemplo, o arcebispo alemão Gerhard Müller, o novo prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, ou Rino Fisichella, um italiano e presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização.
Ao invés disso, Bento XVI anunciou que realizaria um consistório em um mês, portanto, que incluirá apenas um ocidental: o arcebispo James Harvey, natural de Milwaukee, EUA, depois de 14 anos como prefeito da Casa Pontifícia. O papa disse que pretende nomear Harvey como arcipreste da Basílica de São Paulo Fora dos Muros.
Os outros cinco vêm do mundo em desenvolvimento: um do Oriente Médio, outro da América Latina e outro África, e dois da Ásia. Nesse sentido, o consistório de novembro reflete o surgimento de uma "Igreja mundial", na qual a liderança cada vez mais vêm do hemisfério Sul.
Imediatamente, o consistório parece elevar duas figuras às fileiras do papáveis, ou seja, candidatos a papa:

•Luis Antonio Tagle, 55 anos, de Manila, nas Filipinas; e
•John Olorunfemi Onaiyekan, 68 anos, de Abuja, na Nigéria.

 Tagle é amplamente considerado um dos bispos mais impressionantes da Ásia, muito popular entre os jovens e a mídia, dois eleitorados que a Igreja está tentando alcançar desesperadamente. Onaiyekan é uma figura animada e franca que encarna o dinamismo da Igreja africana. Ele não se vê como um parceiro júnior em uma empresa multinacional, mas sim como um líder da enérgica comunidade católica que cresce mais rapidamente em todo o planeta.
Tanto Tagle quanto Onaiyekan impressionaram as pessoas no Sínodo dos Bispos atual. Tagle pediu uma Igreja mais humilde e mais simples, com uma maior capacidade de silêncio, enquanto Onaiyekan restaurou algum equilíbrio sobre o Islã. Ele insistiu que, apesar do aumento do Boko Haram, "os cristãos na Nigéria não se veem sob qualquer tipo de perseguição massiva pelos muçulmanos".
(Eu confesso que Onaiyekan é um antigo amigo meu e a minha referência sobre as questões da Igreja africana. Ele acolheu Shannon e eu em Abuja, quando eu estava trabalhando no livro The Future Church, tornando-se o prelado africano favorito da minha esposa judia.)
Quanto a Harvey, muitos observadores italianos acreditam que ele está sendo afastado da Casa Pontifícia como parte das consequências do caso Vatileaks. Isso pode ser verdade, embora seja necessário um pouco de cautela: o Vatileaks é uma obsessão nacional na Itália, por isso tudo o que acontece no Vaticano nestes dias é visto através dessas lentes, quer tenha relação ou não.

A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada no jornal National Catholic Reporter, 26-10-2012.

Nenhum comentário:

Postar um comentário