segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Bento XVI vai traçando o perfil de seu sucessor

Uma Praça de São Pedro lotada de fiéis dos países emergentes é uma profecia da Igreja "global" do terceiro milênio. Com o miniconsistório do último sábado, Bento XVI indica o caminho para sair do Vatileaks, "purifica" a hierarquia eclesiásticas corroída pelos escândalos, traça o perfil do seu sucessor: extraeuropeu e pastor de comunidades perseguidas.


O novo cardeal eleito John Olorunfemi Onaiyekan, da Nigéria. (Foto: )
O cardeal filipino em lágrimas, as religiosas nigerianas em oração com as mãos levantadas, os peregrinos indianos ajoelhados em torno do obelisco com o terço nas mãos. Emoções e fragmentos de um dia especial, sem precedentes na história. Pela primeira vez, entrou em cena uma "fornada" de púrpuras sem prelados europeus.
Em suma, ele renova a cúpula e muda o rosto do seu "senado". A Igreja "é católica porque Cristo abraça na sua missão de salvação toda a humanidade", e o messianismo cristão indica "uma missão destinada a toda a pessoa e a toda pessoa, superando todo particularismo étnico, nacional e religioso", explica o pontífice na homilia do consistório para a criação de seis novos cardeais, seus principais colaboradores no governo da Igreja. É justamente seguindo Jesus, destacou Bento XVI, "no deixar-se atrair para a sua humanidade e, portanto, na comunhão com Deus que se entra nesse novo reino, que a Igreja anuncia e antecipa, e que vence a fragmentação e a dispersão".
O Colégio Cardinalício, enfatizou o papa, "apresenta uma variedade de rostos, ao expressar o rosto da Igreja universal". Através desse consistório, de modo particular, Joseph Ratzinger deseja "destacar que a Igreja é a Igreja de todos os povos e portanto se expressa nas várias culturas dos diversos continentes". É a Igreja de Pentecostes que, "na polifonia das vozes, eleva um único canto harmonioso ao Deus vivo.
No início do caminho da Igreja, indica o papa teólogo e pastor, "os apóstolos e os discípulos partem sem nenhuma segurança humana, mas com a única força do Espírito Santo, do Evangelho e da fé". É o fermente que "se espalha no mundo, entra nos diversos eventos e nos múltiplos contextos culturais e sociais, mas que continua sendo uma única Igreja". Ao redor dos apóstolos, "florescem as comunidades cristãs", mas elas são "a Igreja, que, em Jerusalém, em Antioquia ou em Roma, é sempre a mesma, una e universal".
O rito para a criação de novos cardeais "expressa o supremo valor da fidelidade". Seis novos cardeais, de três continentes. O barrete vermelho que os purpurados receberam indica que lhes é pedida também "fortaleza, até o derramamento do sangue". Os novos cardeais, que "representam várias dioceses do mundo", disse o papa depois de saudar as delegações presentes na basílica, "são a partir de hoje agregados, de modo totalmente especial, à Igreja de Roma e reforçam assim os laços espirituais que unem a Igreja inteira, vivificada por Cristo e reunida em torno do Sucessor de Pedro".
Os cardeais que o papa criou durante o consistório desse sábado vêm dos Estados Unidos, Líbano, Índia, Nigéria e Colômbia. Trata-se de James Harvey, 63 anos; do patriarca de Antioquia dos maronitas, o libanês Boutros Raï, 72 anos; do arcebispo de Trivandrum dos siro-malabarenses, o indiano Baselios Cleemis Thottunkal, 53 anos; do arcebispo de Abuja, o nigeriano John Olorunfemi Onaiyekan, 68 anos; do arcebispo de Bogotá, Colômbia, Ruben Salazar Gómez, 70 anos; do arcebispo de Manila, Filipinas, Luis Antonio Tagle, 55 anos.
Os seis novos cardeais pronunciaram o juramento e depois receberam das mãos do papa o barrete vermelho púrpura. Eles também receberam o anel e o "título", isto é, a indicação da igreja de Roma na qual estão incardinados. Esse foi o coração do rito na Basílica de São Pedro para o quinto consistório do Papa Ratzinger, a poucos meses de distância do de fevereiro.
Em seguida, houve o abraço entre os velhos e os novos cardeais, enquanto na basílica se difundia o som do órgão. Alguns aplausos das delegações nacionais e uma lágrima no rosto do neocardeal Luis Antonio Tagle. O papa havia explicado pessoalmente o sentido dos gestos que se fazem nesse rito da Igreja, enfatizando o renovado vínculo de "fidelidade".
"Eu prometo e juro – são as palavras pronunciadas por cada purpurado – permanecer, a partir de agora e para sempre enquanto tiver vida, fiel a Cristo e ao seu Evangelho, constantemente obediente à Santa Apostólica Igreja Romana". A cada purpurado que recebia o barrete foi lembrado: "Vocês devem estar prontos para se comportar com fortaleza, até o derramamento do sangue, para o incremento da fé cristã, para a paz e a tranquilidade do povo de Deus". Após a entrega do anel, cada novo cardeal ouviu a advertência: "Saibam que, com o amor do Príncipe dos Apóstolos, fortalece-se o teu amor pela Igreja".
A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada no sítio Vatican Insider, 24-11-2012.

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