quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Síria e Coréia do Norte e os “buracos negros”

A análise é de Francesca Paci, pubicada pelo jornal La Stampa, 09/01/13. A tradução é de Nilo Ribeiro.


Cristãos coptos* em Alexandria, Egito, venerando a imagem de Cristo. (Foto: )
O relatório, "Porta Aberta 2013": o avanço do Islã ameaça fazer desaparecer os cristãos do Oriente Médio e do Norte da África.
Durante anos, cultivei a fé em família como aprendi com meus pais, que depois das orações diárias enterrava a Bíblia no jardim: “em Pyongyang não se pode confiar nem mesmo na própria mulher" disse há dois anos Lee Joo-Chan no aeroporto de Amesterdã, onde aterrisou após uma desesperada fuga à nado através do rio Tumen, na fronteira com a China.
De acordo com a World Watch List, 2013, que acaba de ser publicada no relatório “Porta Aberta”, a Coréia do Norte ainda continua sendo o inferno descrito por Lee Joo-Chan: o “buraco negro” que há 11 anos encontra-se no topo dos 50 países mais cruéis no que diz respeito à perseguição dos cristãos . Apesar das esperanças trazidas pela abertura de Kim Jong-un em Seul e da recente visita a Pyongyan do presidente do Google, Eric Schmidt, a Coréia do Norte continua a manter nos campos de trabalhos forçados cerca de 50 a 70 mil cristãos acusados de desafiar a Juche, ideologia imposta por Kim Il-Sung que, desde 1953 educa as consciências ao individualismo maximalista e ao culto do Querido Líder.
Pyongyan, no entanto, não é uma exceção. A perseguição dos cristãos no mundo aumenta a cada dia, assim confirmam os pesquisadores de “Porta Aberta”. Eles se baseiam em fontes seguras mantidas através do acompanhamento anualmente da liberdade de culto no interior da família, na comunidade, na igreja e na vida pública. Do topo da lista liderada pela Coréia do Norte seguem a Arábia Saudita, Afeganistão, Iraque, Somália, Maldivas, Mali, Irã, Iémen e a Eritreia. Esses oito países são de maioria muçulmana.
A novidade negativa da lista de 2013 está relacionada ao Islã, religião dominante da região complexa do Oriente Médio e que está se tornando uma religião cada vez mais praticada no sul do Saara, onde pelo menos 20 dos 356 milhões de habitantes são cristãos. Em sétimo lugar, por exemplo, encontra-se o Mali que em 2012 nem sequer aparecia na Lista World Watchl. Essa cifra está associada ao fato político de que após a liquidação dos separatistas tuaregues pelos combatentes islâmicos no noroeste do país assistiu-se ao surgimento do Estado independente de Azawad e com ele a aplicação da sharia que tem gerado uma verdadeira perseguição e queima de igrejas e, consequente, uma fuga desesperada de centenas de cristãos da região.
Na lista dos países onde cresce a perseguição de cristãos encontram-se a Tanzânia ( 24 ° lugar), Quênia (40 º lugar), Uganda (47 º lugar) e Nígéria (50 ° lugar). A Eritréia saltou do 11° lugar para o 10 º lugar e, por último, a Somália (5 ° lugar) e a Nigéria (13 º lugar). Todos esses países africanos confirmam os resultados de uma crescente intolerância religiosa em curso na África. Embora o relatório aponte como causa principal da perseguição o crescimento do Islã em função da recente “Primavera Árabe”, o fato é que "aos poucos esse movimento tem-se tornado um autêntico inverno para os cristãos". Apenas no Magrebe tem despontado uma discreta esperança nesse cenário. Se é verdade que a Líbia depois de Kadhafi passou de 17 para o 26 º lugar da Lista, a Tunísia apoiada pelos salafistas passou do 35 ° lugar para o 30 ° lugar enquanto a Síria, atolada em uma terrível guerra civil de mais de 55 000 mortes, já "ganhou" 25 posições e encontra-se atualmente em 11 º lugar. O Egito, por sua vez, liderado pela Irmandade Muçulmana desafia as previsões para a minoria copta (cerca de 10% da população) uma vez que o país subiu para o 25º lugar em 2013 daqueles que mais perseguem os cristãos quando ocupava o 15 ° lugar da lista em 2012.
A mensagem subliminar na crescente perseguição de cristãos soa para todos como a campanha de Hemingway. Quanto mais o Ocidente é percebido como dominador (político, comercial ou cultural) sobre o qual naturalmente se poderia voltar o espírito de rechaço por parte dos Orientais e Africanos, tanto mais os cristãos que são comumente associados à imagem do Ocidente acabam sendo alvo de perseguição (e onde morrem os cristãos não se saem bem, mesmo outras minorias religiosas, os homossexuais, as mulheres, os opositores políticos). Em suma, Deus entra em questão, mas somente à medida que serve de maneira instrumental para "notabilizar" um comportamento civilizacional que em princípio parece injustificável.
E quem sabe se a leve desaceleração na China (talvez por conta do resultado da crise econômica global que evidenciou sua dependência da boa saúde econômica americana e européia) não tenha sido a causa do "amaciamento" da intolerância religiosa de líderes comunistas. Embora tendo em vista os pequenos passos dados no Egito de Morsi e a melhoria da situação no Paquistão que subiu do 10 º para 14 º lugar (apesar de ser o próximo a executar a cristã Asia Bibi), parece que é Pequim que promete mais nesse sentido. Afinal a China acaba de passar da 21 ° à 37 ° posição confirmando assim a tendência positiva iniciada em 2010 [em que a China ocupava o 13 ° lugar no rank dos que mais perseguiam cristãos no mundo].
*O termo copto refere-se aos egípcios que professam algum tipo de fé cristã seja na Igreja Copta, na Igreja Ortodoxa Copta seja na Igreja Católica Copta ou na Igreja Evangélica Copta.

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