domingo, 2 de junho de 2013

Papa Francisco fala sobre 'o escândalo da reencarnação'


Papa Francisco exortou os fiéis a pedir ao Senhor 'que não tenham vergonha de viver com este escândalo da cruz'
O “escândalo” de um Deus que se fez homem e morreu na cruz esteve no centro da homilia do papa Francisco na manhã de sábado (1), durante a missa que concelebrou na capela da Domus Sanctae Marthae, entre outros, com o cardeal cubano Jaime Lucas Ortega y Alamino, arcebispo de San Cristóbal de La Habana.

A recordação do mártir Justino, do qual se celebrava a memória litúrgica, proporcionou ao pontífice a ocasião para refletir sobre a coerência de vida e sobre o núcleo fundamental da fé de cada cristão: a cruz. “Nós podemos fazer todas as obras sociais que quisermos – afirmou – e dirão: mas que bem a Igreja, que bem as obras sociais que a Igreja faz! Mas se nós dizemos que fazemos isto porque aquelas pessoas são a carne de Cristo, causa  escândalo”.

Sem a encarnação do Verbo vem a faltar o fundamento da nossa fé, como ressaltou o pontífice: “Aquela é a verdade, aquela é a revelação de Jesus. Aquela presença de Jesus encarnado. Eis o aspecto”. Se o esquecermos, será sempre grande a “sedução” para os discípulos de Cristo “de fazer coisas boas sem o escândalo do Verbo encarnado, sem o escândalo da cruz”.

Justino foi testemunha desta verdade, porque precisamente devido ao escândalo da cruz atraiu a perseguição do mundo. Ele anunciou o Deus que veio entre nós e se identificou com as suas criaturas. O anúncio de Cristo crucificado e ressuscitado perturba quem o ouve, mas ele continua a testemunhar esta verdade com a coerência de vida. “A Igreja – comentou o Pontífice – não é uma organização de cultura, de religião, nem sequer social; não! A Igreja é a família de Jesus. A Igreja confessa que Jesus é o Filho de Deus que veio na carne. Eis o escândalo e por isto perseguiam Jesus”.

O papa referiu-se ao trecho evangélico de Marcos (11, 27-33) lido durante a liturgia e em particular à pergunta feita a Jesus pelos sacerdotes, pelos escribas e idosos de Jerusalém: “Com que autoridade fazes isto?”. Jesus responde por sua vez com uma pergunta - “O batismo de João vinha do céu ou dos homens?” - e assim não satisfaz a falsa curiosidade deles. Só mais tarde, diante do sumo sacerdote que era “a autoridade do povo”, revelará o que lhe tinham pedido escribas e anciãos. Até àquele momento não o faz, porque compreende que o verdadeiro objetivo dos seus interlocutores é “fazer-lhe uma armadilha”. Tentam de vários modos, como recordou o papa: “Diz-me, mestre pode-se, devem-se pagar os impostos a César?”. Ou: “Diz-me, mestre, aquela mulher foi encontrada em adultério. Devemos cumprir a lei de Moisés ou há outro modo?”. Cada pergunta é uma armadilha para o pôr em dificuldade, para o induzir a dizer algo errado e encontrar um pretexto para o condenar.

Mas por que era Jesus um problema? “Não porque fazia milagres” respondeu o papa. Nem sequer porque pregava e falava da liberdade do povo. “O problema que escandalizava este povo – disse – era que os demônios gritavam a Jesus: “Tu és o Filho de Deus, tu és o santo”. Eis o problema”. O que escandaliza de Jesus é a sua natureza de Deus encarnado. E como a ele, também a nós “armam ciladas na vida; o que escandaliza da Igreja é o mistério da encarnação do Verbo: este não se elimina, o demônio não o elimina”...

Ao concluir o papa Francisco exortou os fiéis a pedir ao Senhor “que não tenham vergonha de viver com este escândalo da cruz”. E convidou a invocar de Deus a sabedoria, para não “nos deixarmos seduzir pelo espírito do mundo que fará sempre propostas educadas, propostas civilizadas, boas”. Por detrás delas, admoestou, nega-se precisamente “o fato de que o Verbo se encarnou”, um fato que “escandaliza” e destrói  a obra do diabo”.
L’Osservatore Romano, 02-06-2013

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