sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Jesus, lembra-te de mim


Por José Antonio Pagola*

Segundo o relato de Lucas, Jesus agonizou em meio às zombarias e ao desprezo daqueles que o rodeavam. Ninguém parece ter entendido sua vida. Ninguém parece ter captado sua entrega aos que sofrem, nem seu perdão aos culpáveis. Ninguém viu no seu rosto o olhar compassivo de Deus. Neste momento, ninguém parece perceber naquela morte nenhum mistério.

As autoridades religiosas caçoam dele com gestos depreciativos: "A outros ele salvou. Que salve agora a si mesmo. Se é de fato o Messias de Deus, ´o Escolhido!´, Deus virá em sua defesa".

Também os soldados aderem às zombarias. Eles não acreditam em nenhum Enviado de Deus. Eles riem do letreiro que Pilatos mandou colocar na cruz: “Este é o Rei dos judeus”. É absurdo que alguém possa reinar sem poder. Ele deve demonstrar sua força salvando-se a si mesmo.

Jesus permanece calado, porém não desce da cruz. Que faríamos nós se o Enviado de Deus procurasse sua própria salvação fugindo da cruz que o une para sempre a todos os crucificados da história? Como poderíamos acreditar num Deus que nos abandonasse para sempre à nossa sorte?

De repente, em meio a tantas zombarias e desprezo, acontece uma surpreendente invocação: "Jesus, lembra-te de mim, quando entrares em teu Reino". Não é um discípulo nem um seguidor de Jesus. É um dos criminosos crucificados junto dele. Lucas o propõe como exemplo admirável de fé no Crucificado.

Este homem a ponto de morrer executado sabe que Jesus é um homem inocente, que não fez nada mais que o bem para todos. Intui na sua vida um mistério que escapa dele, mas está convencido de que Jesus não será derrotado pela morte. De seu coração nasce uma súplica: somente pede a Jesus que não o esqueça. Só Jesus pode fazer alguma coisa por ele.

Jesus responde imediatamente: "Hoje mesmo você estará comigo no Paraíso". A partir deste momento os dois estão unidos na angústia e na impotência, mas Jesus o acolhe como companheiro inseparável. Os dois morreram crucificados, mas entraram juntos no mistério de Deus.

Em meio à sociedade descrente de nossos dias, muitos vivem confusos. Não sabem se acreditam ou não acreditam. Quase sem sabê-lo, levam no seu interior uma pequena e frágil fé. Às vezes, sem entender por que nem como, sobrecarregados pelo peso da vida, invocam Jesus à sua maneira.

"Jesus, lembra-te de mim", e Jesus escuta-os: "Você estará sempre comigo". Deus tem seus caminhos para encontrar cada pessoa, e nem sempre é por onde indicam os teólogos. É decisivo ter um coração que escute a própria consciência.
* José Antonio Pagola é teólogo. A leitura é baseada no Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 23, 35-43 que corresponde a Festa de Cristo Rei, ciclo C do Ano Litúrgico.

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