quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Ser gente, a grande vocação do homem


Ser humano é também uma vocação e missão. É dando vida aos outros é que a teremos em abundância.
Por Luiz Carlos de Oliveira*

A Igreja do Brasil tem alguns meses ou datas temáticas, como mês da Bíblia em setembro, Campanha da Fraternidade na Quaresma e mês vocacional em agosto.

Neste, refletimos as vocações como a sacerdotal, a religiosa, a leiga e a catequista. Todas as vocações têm como base a vocação cristã, que é chamado à participação da vida divina sem a qual não se justificam. A própria vocação cristã se apóia também na vocação humana, na qual acontece e se realiza.

Não precisamos ser pessoas perfeitas para vivermos a vida cristã. Como seres humanos somos chamados a viver esta condição que nos é própria. Ser gente é a primeira vocação e que deve estar presente nas demais. Ser humano não é ser super homem.

Em tudo podemos viver o ser humano. Somos plenamente humanos em nossas deficiências e fragilidades. Os defeitos, as diferenças e condicionamentos não nos tiram a capacidade de ser gente. Só a maldade nos faz menos humanos. Sabemos que o especial numa família é o foco de amor.

Cada um se desenvolve num sentido e neste contribui para a sociedade crescer. A riqueza dos dons humanos compõe o colorido da humanidade. Como as flores e frutos, mesmo efêmeros, encantam. As humildes florinhas do campo têm sua função. Nivelar é desigualar.

Jesus encantava os discípulos por sua capacidade de ser humano. Tudo que somos e temos pode crescer e fazer bem aos outros. Nossa humanidade tem a fagulha divina. O que é divino não bloqueia o ser humano, mas o eleva a um maior aperfeiçoamento.

Há uma participação da vida divina sem que percebamos. Deus pôs a marca divina no ser humano. Tudo que é humano espelha o divino. Por isso somos capazes de fazer o bem e nos comunicar com Ele. O amor humano está unido ao amor divino. A vocação humana é base das vocações.

Força construtora do desejo

A vida espiritual, no dizer dos escritores cristãos, acontece pelo desejo. Desejo não se trata de um mero “eu gostaria”. Ele é a força que nos move na busca de Deus e de tudo que a Ele se refere. Nos salmos este desejo é expresso com a palavra sede: “Como a corça bramindo por águas correntes, assim minha alma esta bramindo por ti, ó meu Deus! Minha alma tem sede do Deus vivo” (Sl 42,2-3).

Este bramir selvagem é a loucura do animal sedento. Assim, desejar Deus acontece também no crescimento da pessoa que busca crescer como pessoa para fazer um bem maior. Todo esforço de melhorar o mundo é o contínuo desejo que está no íntimo do ser humano de ir além levando a própria natureza a desenvolver suas próprias condições.

É sem conta o tempo que o ser humano tem superado suas condições. O mesmo acontece na busca de melhores condições para todos. Não só crescer em bens, mas em humanidade. Quanto mais humano o mundo for, tanto mais levará o desejo a promover a pessoa. Ser humano é também uma vocação e missão.

Espaço para o outro

Não podemos ser completos sem o relacionamento com outro. Somos parte uns dos outros. O ser humano se conhece e se sabe quando se vê no espelho que é o outro. A sociedade promovendo o individualismo, mais pobre se tornou. Rica de bens e pobre em humanidade.

É dando vida aos outros é que a teremos em abundância. O egoísmo social, religioso e econômico criou a filosofia o egocentrismo que na economia causa males sem conta. A educação centrada na concorrência não formou homens para a mudança das estruturas. Ter mais superou a capacidade de ser mais. Ser mais é sair de si e ir ao encontro de todos. Assim crescemos em humanidade.
A12, 02-08-2014.
*Luiz Carlos de Oliveira é padre.

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