quarta-feira, 15 de outubro de 2014

O que Deus fazia antes da criação?


Para alguns, há a dúvida: Deus sempre foi um criador?
Por Athos Turchi*

A pergunta é simples, mas explicar aquilo que é simples (ou seja: não composto), é difícil porque não tem partes. Vem-me o desejo de responder: não fazia nada! Porque Deus não faz, Deus é. O que fazia o sol antes de iluminar as coisas ao redor?

Voltemo-nos para a perspectiva de Deus, assim o nosso olhar muda e a importância recai em quem é Deus. Nós podemos observá-lo por dois ângulos. O primeiro é o da razão. Deus é o ser único e absoluto, não existem outros seres, outras coisas se não Ele somente, e se algo pode existir se deve somente a uma deliberação do próprio Deus que a colocará em si, desenhando do nada. Esta é a criação. Mas atenção! Deus não se torna criador após ter criado, Ele é e ponto. Deus é sempre criador, Deus é o criador por essência, mesmo quando ainda não criou nada de diferente de si mesmo. Por isso podemos dizer que Deus, antes de criar é o criador. Se a luz do sol fosse aquilo que faz existir as coisas, é claro que o sol seria iluminante mesmo que não tivesse nada ainda para iluminar. O criar é Ele mesmo, e a criação vem como participação no seu ser.

Agostinho diz, nas Confissões, "Ele era mais íntimo a mim, de mim, para mim mesmo". Neste sentido, Deus é desde sempre Criador. Nós somos criados em um certo tempo, mas Ele não se torna criador quando nos cria, sempre foi, porque o ser é Ele.

Outro ângulo é o da fé. Deus é Trino, a sua natureza se constitui de três pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo, relação que entre eles se funde e se diferencia. Podemos dizer, independente da criação, que Deus sempre fez: o Pai que gera o Filho e do amor recíproco deles o Espírito Santo. O que significa que Deus é um reator atômico (se é possível exemplificar assim), de Amor constituído do eterno ato do Pai de gerar o Filho e fazer proceder o Espírito.

Amar é a maior e máxima atividade de qualquer coisa. O amor em Deus constitui a sua natureza de três Pessoas divinas. É o ser mais perfeito que se possa imaginar: Deus é constituído de amor, o amor é a eterna geração que é presente em Deus, e este amor recíproco e eterno é a Vida. Deus vive, Deus é vida em si mesmo na comunhão das três Pessoas. Esta vida, este amor e este ser, Deus quis estender também a outras coisas, e as criou. Não é que pegamos a vida num certo tempo, mas da eternidade, porque estamos no coração de Deus, enquanto estamos no Seu projeto de vida e daquela vida nós participamos.

Com uma imagem nossa, Deus é uma “família”, vivia em família, que é a coisa mais importante como vemos quando essa é o lugar do amor, da alegria, do bem. Uma família assim, ninguém a deixaria; uma vez fora não veria a hora de voltar, porque ela é o verdadeiro e supremo lugar da vida e do ser.

Eis, pois, aquilo que Deus “fazia”: fazia o Deus, vivia, amava, gerava, era gerado, coisas que faz naturalmente, mesmo se nós, criaturas, podemos dar qualquer pensamento a mais.
SIR/Aleteia
*Athos Turchi é padre e professor de Filosofia.

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