quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Rezemos pelas Vocações


Que possamos perceber a importância da identidade e da missão vocacional de cada um de nós.
Por Cardeal Orani João Tempesta*
O mês de agosto é caracterizado como o Mês Vocacional; foi instituído pela CNBB na sua Assembleia Geral de 1981. É uma experiência que vem dando bons resultados em todo o país. De maneira diferenciada, podemos afirmar que todas as nossas comunidades o celebram. Quando se aproxima agosto, “Mês Vocacional”, surge a pergunta: O que podemos fazer para dinamizá-lo? A proposta deve ser a de que, que justamente neste mês, todas as comunidades possam perceber a importância da identidade e da missão vocacional de cada um de nós e, com isto, possam trabalhar com afinco o tema da “vocação” durante o restante do ano.
Embora existam divergências sobre os dias, semanas, meses e anos temáticos, essa proposta já se impôs na pastoral da Igreja. Sabemos que, quando bem esclarecida, ela vem somar com os temas da liturgia e com a própria liturgia da Igreja. Por isso a necessidade de um bom aprofundamento.
O termo “vocação” vem da palavra latina “vocare”, que quer dizer chamar. No contexto cristão dizemos que o vocacionado é uma pessoa que sentiu em si a vontade de Deus. É uma inclinação interna, que supõe um seguimento, uma resposta concreta de ação e vida.
Por que tamanha importância dada ao tema vocação? Porque a vocação é o início de tudo. Quando ouvimos ou usamos a palavra vocação, logo a entendemos, num sentido bastante vago e geral, como sendo uma inclinação, um talento, uma qualidade que determina uma pessoa para uma determinada profissão. Por exemplo, vocação de pedreiro, de mãe, de médico.
E nessa compreensão também a vocação de sacerdotes, de esposos, de consagrados e de leigos cristãos. Essa compreensão, porém, não ajuda muito no bom entendimento do que seja vocação quando nós, na Igreja, usamos essa palavra.
Vocação, em sentido mais preciso, é um chamamento, uma convocação vinda diretamente sobre mim, endereçada à minha pessoa, a partir da pessoa de Jesus Cristo, convocando-me a uma ligação toda própria e única com Ele, a segui-Lo, (cf. Mc 2,14). Vocação, portanto, significa que anterior a nós há um chamado, uma escolha pessoal que vem de Jesus Cristo, a quem seguimos com total empenho, como afirma São Paulo na Carta aos Romanos: "Eu, Paulo, servo de Jesus Cristo, apóstolo por vocação, escolhido para o Evangelho de Deus". (Rom 1, 1).
Vocação é chamado e resposta. É uma semente divina ligada a um sim humano. Nem a percepção do chamado, nem a resposta a ele são tão fáceis e tão "naturais". Exigem afinação ao divino e elaboração de si mesmo, sem as quais não há vocação verdadeira e real.
Na história concreta de existência das pessoas, um dado fundamental que as identifica é o seu estado natural de vida, a escolha que cada uma faz e assume na expectativa da felicidade. Dizemos e chamamos a isso de vocação ou realização pessoal. Nem sempre podemos dizer que uma profissão seja propriamente uma vocação. Muitas pessoas realizam aquilo que não coincide com o que gostariam de fazer. Seria uma vocação errada ou falta de oportunidade para exercer realmente o que gostariam? Na verdade, fazemos bem alguma coisa quando temos vocação para tal. Vocação tem a ver com a intensidade com que fazemos algo e a felicidade que daí podemos conseguir. Portanto, a medida da vocação está na amplitude da felicidade vivenciada.
No Brasil, o mês de agosto é sempre uma oportunidade para que possamos refletir sobre o chamado que Deus nos faz para vivermos de um modo mais concreto a nossa vocação à santidade, que recebemos no dia em que fomos batizados. A nossa vocação comum e universal é a santidade! Em qualquer estado de vida, somos todos chamados a caminhar nessa vida de conversão e comunhão com Deus.
Além do Mês Vocacional com as diversas especificações, existem também os dias ou semanas temáticas durante o ano contemplando essas mesmas vocações, porém sob aspectos diferentes. Neste mês de agosto o enfoque é a oração pelas vocações.
Na primeira semana, lembramos a vocação ao ministério ordenado (bispos, padres e diáconos), refletimos sobre a sua importância para a Igreja e rezamos ao Senhor da messe e pastor do rebanho para que envie operários, de modo que não faltem padres para cuidar das mais diversas comunidades espalhadas pelo Brasil.
Na segunda semana rezamos pela vocação à vida em família, iniciando com o Dia dos Pais, seguido pela Semana Nacional da Família, que sempre tem um tema a ser trabalhado nacionalmente. É uma oportunidade das Paróquias, com seus movimentos e equipes familiares ou de casais, juntamente com a Pastoral Familiar, organizarem encontros, manifestações e situações oportunas para testemunhar e divulgar o verdadeiro conceito de família segundo o Plano de Deus.
Em seguida, recordamos a vocação religiosa, normalmente coincidindo com a solenidade da Assunção de Maria. Nossa mente se volta para os homens e mulheres que se consagraram a Deus através dos conselhos evangélicos da pobreza, castidade e obediência para viverem em comunidade segundo o carisma de seus fundadores e servirem à Igreja e ao povo de Deus nos mais diferentes serviços, sejam de natureza religiosa ou social. Lembramo-nos também dos missionários e missionárias que deixaram suas terras e foram para os locais mais distantes no serviço do Reino de Deus, anunciando Jesus Cristo aos que ainda não O conhecem. Hoje acrescentamos ainda as novas comunidades, constituídas de tantas pessoas que de uma maneira especial se consagram para o serviço do Reino. Esse novo estilo de consagração está entre a vida religiosa e a vida do cristão leigo.
Na quarta semana de agosto há a vocação que não pode ser esquecida: a dos fiéis leigos e leigas que, através do exercício de ministérios não ordenados, se fazem presentes nas comunidades eclesiais e no mundo e se dedicam à evangelização na família, no trabalho profissional e no seu ambiente social para santificar o mundo e fazer com que ele deixe de ser a cidade dos homens para tornar-se a cidade de Deus. Ainda nessa direção, no último domingo de agosto (em alguns anos coincide com o quarto domingo) destacamos o Dia Nacional do Catequista. Importante missão dos cristãos conscientes para formar novos filhos de Deus para a caminhada eclesial.
Grandes santos são lembrados neste mês, como: São João Maria Vianney, o Cura D’Ars, padroeiro dos párocos; São Lourenço, padroeiro dos diáconos; Santo Afonso Maria de Ligório, fundador da Congregação dos Missionários Redentoristas; São Tarcísio, padroeiro dos coroinhas; Santa Rosa de Lima, padroeira da América Latina e, de modo especial, nossa Santa Mãe do Céu, Maria Santíssima, que é recordada na solenidade da sua Assunção, apontando-nos o feliz destino de todos os que dizem “Sim” a Deus.
Rezemos pelas vocações e façamos tudo o que estiver ao nosso alcance para cumprir o mandato de Jesus: “Pedi ao Senhor da messe que envie operários para a sua messe”. (Mt 9,38). A Igreja no Brasil possui muitos subsídios que ajudam as comunidades a celebrar o mês de agosto. Destacamos, também, que cabe a cada equipe diocesana animar o serviço Vocacional.
CNBB 07-08-2015.
*Cardeal Orani João Tempesta é arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ).

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