terça-feira, 17 de março de 2015

Liturgia Diária

DIA 17 DE MARÇO - TERÇA-FEIRA

IV SEMANA DA QUARESMA *
(ROXO – OFÍCIO DO DIA)

Antífona de entrada:
Vós, que tendes sede, vinde às águas; vós que não tendes com que pagar, vinde e bebei com alegria (Is 55,1).
Oração do dia
Ó Deus, que a fiel observância dos exercícios quaresmais prepare o coração dos vossos filhos e filhas para acolher com amor o mistério pascal e anunciar ao mundo a salvação. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Leitura (Ezequiel 47,1-9.12)
Leitura da profecia de Ezequiel.
Naqueles dias, 47 1 o anjo conduziu-me então à entrada do templo. Eis que águas jorravam de sob o limiar do edifício, em direção ao oriente (porque a fachada do templo olhava para o oriente). Essa água escorria por baixo do lado direito do templo, ao sul do altar.
2 Fez-me sair pela porta do norte e contornar o templo do lado de fora até o pórtico exterior oriental; eu vi a água brotar do lado sul.
3 O homem foi para o oriente com uma corda na mão: mediu mil côvados; a seguir fez-me passar na água, que me chegou até os tornozelos. Mediu ainda mil côvados e me fez atravessar a água, que me subiu até os joelhos.
4 Mediu de novo mil côvados e fez-me atravessar a água, que me subiu até os quadris.
5 Mediu, enfim, mil côvados; e era uma torrente que eu não podia atravessar, de tal modo as águas tinham crescido! E era preciso nadar, era um curso de água que não se podia passar (a vau).
6 "Viste, filho do homem?" - falou-me, e me levou ao outro lado da torrente.
7 Ora, retornando, avistei nas duas margens da torrente uma grande quantidade de árvores.
8 "Essas águas", disse-me ele, "dirigem-se para a parte oriental, elas descem à planície do Jordão; elas se lançarão no mar, de sorte que suas águas se tornarão mais saudáveis.
9 Em toda parte aonde chegar a corrente, todo animal que se move na água poderá viver, e haverá lá grande quantidade de peixes. Tudo o que essa água atingir se tornará são e saudável e em toda parte aonde chegar a torrente haverá vida.
12 Ao longo da torrente, em cada uma de suas margens, crescerão árvores frutíferas de toda espécie, e sua folhagem não murchará, e não cessarão jamais de dar frutos: todos os meses frutos novos, porque essas águas vêm do santuário. Seus frutos serão comestíveis e suas folhas servirão de remédio".
Palavra do Senhor.

 
Salmo responsorial 45/46
Conosco está o Senhor do universo!
O nosso refúgio é o Deus de Jacó.


O Senhor para nós é refúgio e vigor,
sempre pronto, mostrou-se um socorro na angústia;
assim não tememos se a terra estremece,
se os montes desabam, caindo nos mares.

Os braços de um rio vêm trazer alegria
à cidade de Deus, à morada do Altíssimo.
Quem a pode abalar? Deus está no seu meio!
Já bem antes da aurora, ele vem ajudá-la.

Conosco está o Senhor do universo!
O nosso refúgio é o Deus de Jacó!
Vinde ver, contemplai os prodígios de Deus
e a obra estupenda que fez no universo.

 
Evangelho (João 5,1-16)
Glória a vós, Senhor Jesus, primogênito dentre os mortos! 
Criai em mim um coração que seja puro, dai-me de novo a alegria de ser salvo! (Sl 50,12.14

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João.
5 1 Depois disso, houve uma festa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém.
2 Há em Jerusalém, junto à porta das Ovelhas, um tanque, chamado em hebraico Betesda, que tem cinco pórticos.
3 Nestes pórticos jazia um grande número de enfermos, de cegos, de coxos e de paralíticos, que esperavam o movimento da água.
4 De fato, um anjo descia, de vez em quando, e movimentava a água da piscina, e o primeiro doente que aí entrasse, depois do borbulhar da água, ficava curado de qualquer doença que tivesse.
5 Estava ali um homem enfermo havia trinta e oito anos.
6 Vendo-o deitado e sabendo que já havia muito tempo que estava enfermo, perguntou-lhe Jesus: "Queres ficar curado?"
7 O enfermo respondeu-lhe: "Senhor, não tenho ninguém que me ponha no tanque, quando a água é agitada; enquanto vou, já outro desceu antes de mim".
8 Ordenou-lhe Jesus: "Levanta-te, toma o teu leito e anda".
9 No mesmo instante, aquele homem ficou curado, tomou o seu leito e foi andando. Ora, aquele dia era sábado.
10 E os judeus diziam ao homem curado: "É sábado, não te é permitido carregar o teu leito".
11 Respondeu-lhes ele: "Aquele que me curou disse: Toma o teu leito e anda".
12 Perguntaram-lhe eles: "Quem é o homem que te disse: ´Toma o teu leito e anda?´"
13 O que havia sido curado, porém, não sabia quem era, porque Jesus se havia retirado da multidão que estava naquele lugar.
14 Mais tarde, Jesus o achou no templo e lhe disse: "Eis que ficaste são; já não peques, para não te acontecer coisa pior".
15 Aquele homem foi então contar aos judeus que fora Jesus quem o havia curado.
16 Por esse motivo, os judeus perseguiam Jesus, porque fazia esses milagres no dia de sábado.
Palavra da Salvação.
 
Comentário ao Evangelho
UM GESTO SOLIDÁRIO
            Traço característico da ação de Jesus foi sua solidariedade com os excluídos. Ele foi extremamente sensível com os marginalizados da vida social e religiosa. Os doentes eram uma destas categorias. Naquele tempo, a doença era considerada como castigo de Deus por possíveis pecados cometidos. Sendo assim, suas vítimas eram impedidas de participar das liturgias do templo, e mesmo mantidas longe do espaço sagrado e do ambiente social.
            Ao chegar na Cidade Santa, Jesus dirigiu-se ao lugar onde se concentrava um grande número de doentes: a piscina de Betesda. Aí permaneciam à espera que as águas da piscina borbulhassem, para, ao contato com elas, conseguir a cura.. Entre eles, estava um doente que talvez fosse o mais excluído de todos. Havia 38 anos, esperava que alguém lhe fizesse a caridade de aproximá-lo das águas, quando se pusessem a borbulhar. Outros menos afetados pela doença e talvez com a ajuda alheia, chegavam antes dele. Foi precisamente ele, o paralítico, o escolhido por Jesus para ser objeto de sua misericórdia. Com uma só palavra, o Mestre o curou.
            Contudo, o miraculado não percebeu a animosidade dos judeus contra Jesus. Estes estavam à procura de um pretexto para eliminar o Mestre. Foi o próprio homem, que tinha sido curado, quem apresentou-lhes um: Jesus o havia curado em dia de sábado.
 

Oração
            Senhor Jesus, és solidário com os excluídos e te manifestaste como senhor da vida. Que também eu seja solidário com os marginalizados da sociedade.


 

(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês).
Sobre as oferendas
Nós vos oferecemos, ó Deus, os dons que nos destes para que estes sinais que manifestam vossa solicitude para conosco nesta vida sejam remédio para a vida eterna. Por Cristo, nosso Senhor.
Antífona da comunhão:
O Senhor é meu pastor, nada me falta; em verdes pastagens me faz repousar. Ele me leva até águas tranqüilas e refaz as minhas forças (Sl 22,1s).
Depois da comunhão
Ó Deus de bondade, purificai-nos e renovai-nos pelo sacramento que recebemos, de modo que sejamos auxiliados hoje e por toda a nossa vida. Por Cristo, nosso Senhor.


MEMÓRIA FACULTATIVA

SÃO PATRÍCIO
(BRANCO – OFÍCIO DA MEMÓRIA)

Oração do dia:
Ó Deus, que, na vossa providência, para anunciar o Evangelho aos povos da Irlanda, escolhestes o bispo são Patrício, concedei, por seus méritos e preces, que os cristãos anunciem a todos as maravilhas do vosso reino. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Sobre as oferendas:
Olhai com bondade, ó Deus, o sacrifício que vamos oferecer em vosso altar na festa de são Patrício, para que, alcançando-nos o perdão, glorifique o vosso nome. Por Cristo, nosso Senhor.
Depois da comunhão:
Alimentados pela eucaristia, nós vos pedimos, ó Deus, que, seguindo o exemplo de são Patrício, procuremos proclamar a fé que abraçou e praticar a doutrina que ensinou. Por Cristo, nosso Senhor.
Santo do Dia / Comemoração (SÃO PATRÍCIO):
Há poucos dados sobre a origem de Patrício, mas os que temos foram tirados do seu livro autobiográfico "Confissão". Nele, Patrício diz ter nascido numa vila de seu pai, situada na Inglaterra ou Escócia, no ano 377. Era filho de Calpurnius, e neto de um padre e apesar de ter nascido cristão, só na adolescência passou a se dedicar à religião, e aos estudos. Aos dezesseis anos, foi raptado por piratas irlandeses e vendido como escravo. Levado para a Irlanda foi obrigado a executar duros trabalhos em meio a um povo rude e pagão. Por duas vezes Patrício tentou a fuga, até que na terceira vez conseguiu se libertar. Embarcou para a Grã-Bretanha e depois para as Gálias, atual França, onde freqüentou vários mosteiros e se habilitou para a vida monástica e missionária. A princípio, acompanhou São Germano do mosteiro de Auxerre, numa missão apostólica na Grã-Bretanha. Mas seu destino parecia mesmo ligado à Irlanda, mesmo porque sua alma piedosa desejava evangelizar aquela nação pagã, que o escravizara. Quando faleceu o Bispo Paládio, responsável pela missão no país, o Papa Celestino I o convocou para dar segmento à missão. Foi consagrado bispo e viajou para a "Ilha Verde", no ano 432. Sua obra naquelas terras ficará eternamente gravada na História da Igreja Católica e da própria Humanidade, pois mudou o destino de todo um povo. Em quase três décadas, o bispo Patrício converteu praticamente todo o país. Não contava com apoio político e muito menos usou de violência contra os pagãos. Com isso, não houve repressão também contra os cristãos. O próprio rei Leogário deu o exemplo maior, possibilitando a conversão de toda sua corte. O trabalho desse fantástico e singelo bispo foi tão eficiente que o catolicismo se enraizou na Irlanda, vendo nos anos seguintes florescer um grande número de Santos e evangelizadores missionários. O método de Patrício para conseguir tanta conversão foi a fundação de incontáveis mosteiros. Esse método foi imitado pela Igreja também na Inglaterra e na evangelização dos alemães do norte da Europa. Promovendo por toda parte a construção e povoação de mosteiros, o bispo Patrício fez da Ilha um centro de irradiação de fé e cultura. Dali partiram centenas de monges missionários que peregrinaram por terras estrangeiras levando o Evangelho. Temos, como exemplo, a atuação dos célebres apóstolos Columbano, Galo, Willibrordo, Tarásio, Donato e tantos outros. A obra do bispo Patrício interferiu tanto na cultura dos irlandeses, que as lendas heróicas desse povo falam sempre de monges simples com suas aventuras, prodígios e graças, enquanto outras nações têm como protagonistas seus reis e suas façanhas bélicas. Patrício morreu no dia 17 de março de 461, na cidade de Down, atualmente Downpatrick. Até hoje, no dia de sua festa os irlandeses fixam à roupa um trevo, cuja folha se divide em três, numa homenagem ao venerado São Patrício que o usava para exemplificar melhor o sentido do mistério da Santíssima Trindade: "um só Deus em três pessoas". A data de 17 de março há séculos marca a festa de São Patrício, a glória da Irlanda. Os irlandeses sempre sentiram um enorme orgulho de sua pátria, tanto, por ter ela nascido na chamada Ilha dos Santos, quanto, por ter sido convertida pelo venerado bispo. Só na Irlanda existem duzentos santuários erguidos em honra a São Patrício, seu padroeiro. Rezo com São Patrício: Cristo guarde-me hoje, Cristo comigo, Cristo à minha frente, Cristo atrás de mim, Cristo em mim, Cristo embaixo de mim, Cristo acima de mim, Cristo à minha direita, Cristo à minha esquerda, Cristo ao me deitar, Cristo ao me sentar, Cristo ao me levantar, Cristo no coração de todos os que pensarem em mim, Cristo na boca de todos que falarem em mim, Cristo em todos os olhos que me virem, Cristo em todos os ouvidos que me ouvirem. Levanto-me, neste dia que amanhece, Por uma grande força, pela invocação da Trindade, Pela fé na Trindade, Pela afirmação da Unidade, Pelo Criador da Criação. Amém.  

PROCLAMAS MATRIMONIAIS



14 e 15 de março de 2015


COM O FAVOR DE DEUS E DA SANTA MÃE A IGREJA, QUEREM SE CASAR:
                                                                                  



·         JOÃO PAULO BEZERRA DE CARVALHO
E
RENATA MÍRIAN MOUTINHO DO RÊGO BARROS













                       Quem souber algum impedimento que obste à celebração destes casamentos está obrigado em consciência a declarar.

sábado, 14 de março de 2015

Meu Dia com Deus

DIA 14 DE MARÇO - SÁBADO

Ouça: 
Evangelho do Dia: (Lucas 18,9-14)
Honra, glória poder e louvor a Jesus, nosso Deus e Senhor!
Oxalá ouvísseis hoje a sua voz: não fecheis os corações como em Meriba! (Sl 94,8)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
Naquele tempo, 18 9 Jesus lhes disse ainda esta parábola a respeito de alguns que se vangloriavam como se fossem justos, e desprezavam os outros:
10 “Subiram dois homens ao templo para orar. Um era fariseu; o outro, publicano.
11 O fariseu, em pé, orava no seu interior desta forma: ‘Graças te dou, ó Deus, que não sou como os demais homens: ladrões, injustos e adúlteros; nem como o publicano que está ali.
12 Jejuo duas vezes na semana e pago o dízimo de todos os meus lucros’.
13 O publicano, porém, mantendo-se à distância, não ousava sequer levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: ‘Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador!’
14 Digo-vos: este voltou para casa justificado, e não o outro. Pois todo o que se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado”.
Palavra da Salvação.


 
Meditando o Evangelho
DOIS MODOS DE REZAR
            O contraste entre a oração do fariseu e a do publicano ilustra duas posturas diante de Deus, o modo inconveniente e o modo conveniente de rezar.
            O fariseu encarna o modo inconveniente de se dirigir a Deus. Sua postura empertigada deixa transparecer a consciência de ser estimado por Deus e gozar de grande prestígio diante dele. Suas palavras denotam o grande conceito que tinha de si mesmo. Sabia-se ser uma pessoa acima de qualquer suspeita, muito diferente do resto da humanidade formada por ladrões, injustos e adúlteros. Deus não tinha como fazer-lhe nenhuma censura, uma vez que era fiel no cumprimento dos mandamentos, dentre os quais, o pagamento do dízimo.
            A oração revestida de tal soberba, de forma alguma pode ser agradável a Deus. Quem se serve dela, terá a humilhação como resposta.
            O publicano situa-se no pólo oposto: mantém-se distante, de cabeça baixa, temendo erguer os olhos para os céus, pois tinha consciência de ser pecador, carente da misericórdia e do perdão divinos. Sem títulos de grandeza nem provas de virtude, só lhe restava colocar-se, humildemente, nas mãos do Pai.
            A oração do humilde toca o coração de Deus e é atendida. Ele vem em socorro de quem sabe reconhecer-se limitado e impotente para se salvar com as próprias forças.
 
Oração
            Pai, faze-me consciente de minha condição de pecador, livrando-me da soberba que me dá a falsa ilusão de ser superior a meu próximo e mais digno de me dirigir a ti.

Erguer os olhos para o crucificado


Basta erguer os olhos para Jesus, para que dele recebamos a graça do perdão.
Enquanto os mitos clássicos veem como magnífico o herói vencedor, a Bíblia nos força a voltar o olhar para as vítimas, para todos os que temos sacrificado na construção da nossa prosperidade. O pequeno, o pobre, a ovelha perdida. Em Mateus 23,29-35, Jesus diz aos notáveis de Israel que, agora, ao levarem o Filho à morte, irão completar a obra dos seus pais, os quais haviam assassinado os profetas. O Cristo recapitula todas as nossas vítimas, as antigas, as atuais e as futuras, e é para Ele que devemos voltar os nossos olhos: "olhar para".
Este tema retorna diversas vezes em João. Vamos encontrá-lo no começo do evangelho de hoje, onde a expressão "olhar para", que encontramos em 19,37 a propósito de Jesus traspassado na cruz, é substituída por "crer em". Em 12,32 lemos: "e, quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim", todos os olhares. Assim, pois, “olhar para”, “crer”, “ceder à atração divina” são fórmulas equivalentes.
Para João, a crucifixão de Jesus é ao mesmo tempo suplício e elevação. O crucificado torna-se o ponto de mira, o centro da atenção universal. Como pano de fundo, temos Isaías 52,13 - 53,12, onde vemos o Servo levantar-se, erguer-se, ser exaltado ao extremo. Mas o caminho desta exaltação é paradoxal, porque coincide com um caminho de cruz.

O percurso do servo

Isaías põe em cena um grupo ou uma multidão de espectadores que, em 53,3, torna-se um "nós", todos nós: vocês, eu, todos os homens e mulheres. O que estão olhando? Um homem "que não tinha beleza nem esplendor que pudesse atrair o nosso olhar"; um homem desprezado, abandonado, rejeitado e punido por Deus. E eis que no versículo 5 os espectadores se dão conta de que estão em vias de contemplar a sua própria decadência, ao verem que este homem foi «trespassado (ver João 19,37) por causa das nossas transgressões".
Os nossos sofrimentos e as nossas dores, ele as toma para si e, por suas chagas, é que somos curados. Jesus na cruz é a imagem do nosso mal. Exatamente a maldade dos homens o fez morrer. E vamos encontrar aqui a imagem da serpente de bronze. Em êxodo pelo deserto, os Hebreus estavam sendo dizimados por "serpentes tortuosas", segundo a expressão de Sabedoria 16,5-8, que comenta Números 21,4-9. Estas serpentes são a materialização da perversidade do povo, da sua desconfiança para com o amor de Deus (versículos 4 e 5).
Pregada numa haste de madeira, a serpente de bronze é a figura deste mal. Para curar, é preciso aceitar não fechar os olhos, olhar de frente o seu próprio mal. Em Zacarias 12,10, "Aquele que transpassaram" (pregado num madeiro), torna-se o próprio Deus. A crucifixão do Cristo é a tentativa de levar Deus à morte. Assim é que aquele que traspassaram torna-se a imagem do nosso mal. Jesus se fez serpente e, voltando os olhos para ele, estamos frente ao mal que aceitamos olhar. Na certeza de que o tenha tomado para si e de que nos liberte.

O julgamento

A sequência do texto evangélico nos diz a mesma coisa, mas com outra linguagem: a linguagem do julgamento. Quem olhar para a serpente de bronze não morrerá mais. "Assim, é necessário que o Filho do homem seja levantado, para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna".
O Cristo levantado da terra, na cruz: este é o julgamento do mundo. Por quê? Como? Pelo fato de este espetáculo do Deus crucificado, esta demonstração de que o amor é a nossa luz e a nossa verdade, operar uma divisão: há os que aceitam «olhar» e há os que desviam os olhos. Quando ouvimos falar em «juízo final», não esqueçamos que o Pai nos deu o seu Filho não para nos julgar, mas para nos salvar. E, então, produz-se um segundo julgamento, ou o julgamento se amplia. E, desta vez, são os homens que julgam: «preferiram as trevas à luz", diz o nosso texto.
Preferir, escolher, decidir-se é exatamente "julgar". Podemos crer que, um dia, tudo o que existe em nós de verdadeiro e de falso, verdade e mentira, aparecerá em plena luz. Mas Paulo, em Efésios 5,11-14, escreve que tudo o que vem à luz, inclusive o que há de pior, torna-se luz. Somente então, tomando consciência do nosso mal, é que, na verdade, poderemos olhar para aquele a quem traspassamos, cada vez que o excluímos das nossas vidas. Mas, então, o julgamento se tornará absolvição, reabilitação.
Croire
*Marcel Domergue é sacerdote jesuíta. O texto é baseado nas leituras do 4º Domingo da Quaresma - Ano B (15 de março de 2015). A tradução é de Francisco O. Lara, João Bosco Lara, e José J. Lara.

Evangelho do Dia

B - 14 de março de 2015

Lucas 18,9-14

Honra, glória poder e louvor a Jesus, nosso Deus e Senhor!
Oxalá ouvísseis hoje a sua voz: não fecheis os corações como em Meriba! (Sl 94,8)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
Naquele tempo, 18 9 Jesus lhes disse ainda esta parábola a respeito de alguns que se vangloriavam como se fossem justos, e desprezavam os outros:
10 “Subiram dois homens ao templo para orar. Um era fariseu; o outro, publicano.
11 O fariseu, em pé, orava no seu interior desta forma: ‘Graças te dou, ó Deus, que não sou como os demais homens: ladrões, injustos e adúlteros; nem como o publicano que está ali.
12 Jejuo duas vezes na semana e pago o dízimo de todos os meus lucros’.
13 O publicano, porém, mantendo-se à distância, não ousava sequer levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: ‘Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador!’
14 Digo-vos: este voltou para casa justificado, e não o outro. Pois todo o que se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado”.
Palavra da Salvação.


 

Comentário do Evangelho
DOIS MODOS DE REZAR
            O contraste entre a oração do fariseu e a do publicano ilustra duas posturas diante de Deus, o modo inconveniente e o modo conveniente de rezar.
            O fariseu encarna o modo inconveniente de se dirigir a Deus. Sua postura empertigada deixa transparecer a consciência de ser estimado por Deus e gozar de grande prestígio diante dele. Suas palavras denotam o grande conceito que tinha de si mesmo. Sabia-se ser uma pessoa acima de qualquer suspeita, muito diferente do resto da humanidade formada por ladrões, injustos e adúlteros. Deus não tinha como fazer-lhe nenhuma censura, uma vez que era fiel no cumprimento dos mandamentos, dentre os quais, o pagamento do dízimo.
            A oração revestida de tal soberba, de forma alguma pode ser agradável a Deus. Quem se serve dela, terá a humilhação como resposta.
            O publicano situa-se no pólo oposto: mantém-se distante, de cabeça baixa, temendo erguer os olhos para os céus, pois tinha consciência de ser pecador, carente da misericórdia e do perdão divinos. Sem títulos de grandeza nem provas de virtude, só lhe restava colocar-se, humildemente, nas mãos do Pai.
            A oração do humilde toca o coração de Deus e é atendida. Ele vem em socorro de quem sabe reconhecer-se limitado e impotente para se salvar com as próprias forças.
 
Leitura
Oséias 6,1-6
Leitura da profecia de Oséias.
6 1 “Vinde, voltemos ao Senhor, ele feriu-nos, ele nos curará; ele causou a ferida, ele a pensará.
2 Dar-nos-á de novo a vida em dois dias; ao terceiro dia levantar-nos-á, e viveremos em sua presença.
3 Apliquemo-nos a conhecer o Senhor; sua vinda é certa como a da aurora; ele virá a nós como a chuva, como a chuva da primavera que irriga a terra”.
4 Que te farei, Efraim? Que te farei, Judá? Vosso amor é como a nuvem da manhã, como o orvalho que logo se dissipa.
5 Por isso é que os castiguei pelos profetas, e os matei pelas palavras de minha boca, e meu juízo resplandece como o relâmpago,
6 porque eu quero o amor mais que os sacrifícios, e o conhecimento de Deus mais que os holocaustos.
Palavra do Senhor.
 
Salmo 50/51
Eu quis misericórdia e não o sacrifício!

Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia!
Na imensidão de vosso amor, purificai-me!
Lavai-me todo inteiro do pecado
e apagai completamente a minha culpa!

Pois não são de vosso agrado os sacrifícios,
e, se oferto um holocausto, o rejeitais.
Meu sacrifício é minha lama penitente,
não desprezeis um coração arrependido!

Sede benigno com Sião, por vossa graça,
reconstruí Jerusalém e os seus muros!
E aceitareis o verdadeiro sacrifício,
os holocaustos e oblações em vosso altar!

 
Oração
Ó Deus, alegrando-nos cada ano com a celebração da Quaresma, possamos participar com fervor dos sacramentos pascais e colher com alegria todos seus frutos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Liturgia Diária

DIA 14 DE MARÇO - SÁBADO

III SEMANA DA QUARESMA
(ROXO – OFÍCIO DO DIA)

Antífona de entrada:
Bendize, ó minha alma, ao Senhor, não esqueças nenhum dos seus benefícios: é ele quem te perdoa todas as ofensas (Sl 102,2s).
Oração do dia
Ó Deus, alegrando-nos cada ano com a celebração da Quaresma, possamos participar com fervor dos sacramentos pascais e colher com alegria todos seus frutos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Leitura (Oséias 6,1-6)
Leitura da profecia de Oséias.
6 1 “Vinde, voltemos ao Senhor, ele feriu-nos, ele nos curará; ele causou a ferida, ele a pensará.
2 Dar-nos-á de novo a vida em dois dias; ao terceiro dia levantar-nos-á, e viveremos em sua presença.
3 Apliquemo-nos a conhecer o Senhor; sua vinda é certa como a da aurora; ele virá a nós como a chuva, como a chuva da primavera que irriga a terra”.
4 Que te farei, Efraim? Que te farei, Judá? Vosso amor é como a nuvem da manhã, como o orvalho que logo se dissipa.
5 Por isso é que os castiguei pelos profetas, e os matei pelas palavras de minha boca, e meu juízo resplandece como o relâmpago,
6 porque eu quero o amor mais que os sacrifícios, e o conhecimento de Deus mais que os holocaustos.
Palavra do Senhor.
 
Salmo responsorial 50/51
Eu quis misericórdia e não o sacrifício!

Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia!
Na imensidão de vosso amor, purificai-me!
Lavai-me todo inteiro do pecado
e apagai completamente a minha culpa!

Pois não são de vosso agrado os sacrifícios,
e, se oferto um holocausto, o rejeitais.
Meu sacrifício é minha lama penitente,
não desprezeis um coração arrependido!

Sede benigno com Sião, por vossa graça,
reconstruí Jerusalém e os seus muros!
E aceitareis o verdadeiro sacrifício,
os holocaustos e oblações em vosso altar!

 
Evangelho (Lucas 18,9-14)
Honra, glória poder e louvor a Jesus, nosso Deus e Senhor!
Oxalá ouvísseis hoje a sua voz: não fecheis os corações como em Meriba! (Sl 94,8)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
Naquele tempo, 18 9 Jesus lhes disse ainda esta parábola a respeito de alguns que se vangloriavam como se fossem justos, e desprezavam os outros:
10 “Subiram dois homens ao templo para orar. Um era fariseu; o outro, publicano.
11 O fariseu, em pé, orava no seu interior desta forma: ‘Graças te dou, ó Deus, que não sou como os demais homens: ladrões, injustos e adúlteros; nem como o publicano que está ali.
12 Jejuo duas vezes na semana e pago o dízimo de todos os meus lucros’.
13 O publicano, porém, mantendo-se à distância, não ousava sequer levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: ‘Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador!’
14 Digo-vos: este voltou para casa justificado, e não o outro. Pois todo o que se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado”.
Palavra da Salvação.


 
Comentário ao Evangelho
DOIS MODOS DE REZAR
            O contraste entre a oração do fariseu e a do publicano ilustra duas posturas diante de Deus, o modo inconveniente e o modo conveniente de rezar.
            O fariseu encarna o modo inconveniente de se dirigir a Deus. Sua postura empertigada deixa transparecer a consciência de ser estimado por Deus e gozar de grande prestígio diante dele. Suas palavras denotam o grande conceito que tinha de si mesmo. Sabia-se ser uma pessoa acima de qualquer suspeita, muito diferente do resto da humanidade formada por ladrões, injustos e adúlteros. Deus não tinha como fazer-lhe nenhuma censura, uma vez que era fiel no cumprimento dos mandamentos, dentre os quais, o pagamento do dízimo.
            A oração revestida de tal soberba, de forma alguma pode ser agradável a Deus. Quem se serve dela, terá a humilhação como resposta.
            O publicano situa-se no pólo oposto: mantém-se distante, de cabeça baixa, temendo erguer os olhos para os céus, pois tinha consciência de ser pecador, carente da misericórdia e do perdão divinos. Sem títulos de grandeza nem provas de virtude, só lhe restava colocar-se, humildemente, nas mãos do Pai.
            A oração do humilde toca o coração de Deus e é atendida. Ele vem em socorro de quem sabe reconhecer-se limitado e impotente para se salvar com as próprias forças.
 

Oração
            Pai, faze-me consciente de minha condição de pecador, livrando-me da soberba que me dá a falsa ilusão de ser superior a meu próximo e mais digno de me dirigir a ti.
 

(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada
Sobre as oferendas
Ó Deus, é por vossa graça que, de coração purificado, nos aproximamos dos santos mistérios. Concedei que vos rendamos o devido culto, para celebrar solenemente a liturgia pascal. Por Cristo, nosso Senhor.
Antífona da comunhão:
O publicano, de longe, batia no peito, dizendo: Deus, tende piedade de mim, pois sou pecador! (Lc 18,13)
Depois da comunhão
Ó Deus de misericórdia, sustentados pela eucaristia, dai-nos celebrar dignamente vossos sacramentos e recebê-los sempre com fé. Por Cristo, nosso Senhor.

Rasgai o coração


Muitas reformas necessárias para superar os problemas demandam a mudança do próprio coração.
Esta é uma clamorosa convocação proclamada pelo profeta Joel em época remota, há cerca de 400 anos antes de Cristo. O clamor do profeta é um apelo que indica o caminho para se vencer as pragas. Hoje, ainda que não acolhida pela vivência da religiosidade, é oportuno ouvi-la e compreendê-la como interpelação para enfrentar as crises que estão desarrumando o funcionamento da sociedade. Particularmente, é importante escutá-la quando se chega à conclusão de que a maior crise na atualidade é a de confiança. A credibilidade está em baixa, em razão de posturas e práticas adotadas na esfera privada e no inadequado tratamento do que é de domínio público. É hora de um recomeço, que é complexo e altamente exigente. Esse processo exige a indispensável ação e posicionamentos de lideranças, para que se alcance um novo tempo pela força da credibilidade que cada cidadão precisa prezar.  Ser digno de confiança é o aspecto mais honroso da vida particular, profissional e cidadã.
As muitas reformas necessárias para superar os graves problemas enfrentados pelo país demandam a mudança prioritária e urgente do próprio coração, que é referência simbólica da confluência da racionalidade e dos sentimentos. O coração é lugar da produção e da manutenção de uma consciência pautada em valores cidadãos, no gosto pelo altruísmo e no mais nobre sentido de respeito ao outro. A incompetência humanística de lideranças e a falta de densidade espiritual são os mais desafiadores obstáculos que impedem a recuperação da confiança.
A mesquinhez de se priorizar o atendimento de interesses cartoriais, a estreiteza dos egoísmos, a busca do lucro e da acumulação de riquezas sem parâmetros éticos produziram processos de desumanização que agora não são fáceis de serem revertidos. Sem a recuperação da confiança, alicerçada na verdade das ações e na reverência pela justiça, de nada adiantará a operação de um conjunto, mesmo significativo, de reformas. As mudanças precisam ser precedidas e acompanhadas pela reforma do coração. “Rasgai o coração” precisaria se tornar uma “onda” que leva a um despertar novo da consciência. Um movimento que deveria envolver, inicialmente, os mais altos dirigentes, os ocupantes de cargos representativos, os formadores de opinião e os que têm papel mais decisivo na construção da sociedade. Essa “onda” deve incluir o cidadão simples, que paga o preço mais alto por tudo o que está na raiz da falta de confiança.
A crise de credibilidade envenena os funcionamentos de instituições diversas e desestabiliza as relações interpessoais. Trata-se de um sério problema que não se enfrenta sem a recuperação da competência humanística e também espiritual. A carência dessa qualificação leva às escolhas equivocadas que impedem a sociedade de funcionar nos parâmetros da verdade e da justiça. É hora de fixar o olhar não apenas nas dinâmicas viciadas em tantos segmentos, setores e instâncias. É urgente e prioritária uma reconfiguração do sentido mais profundo que rege o coração.
“Rasgar o coração” é prática que sempre se começa por uma escuta mais atenta e permanente dos clamores dos mais pobres. É inadiável o exercício de reconhecer e buscar superar as muitas misérias, todas produzidas pela falta de cidadania. Trata-se de tarefa capaz de gerar novas lideranças. “Rasgai os corações” é convocação e também um alerta. Indica que eventuais novas estruturas e funcionamentos, se não forem alcançados sem a geração interior e pessoal de novas atitudes, mais cedo ou mais tarde, se tornarão também corruptos, pesados e ineficazes.
É hora de ouvir o clamor dos mais pobres.  Estamos todos desafiados a enfrentar a crise de credibilidade com novas respostas, particularmente com um discurso político que não seja paliativo. A sociedade na qual estamos inseridos estampa a vergonha de uma generalizada falta de envergadura moral e solidária. Um mal que cria o ambiente propício para sermos, cedo ou tarde, as próprias vítimas de alguma praga. O alcançar de um novo tempo tem como ponto de partida o convite: Rasgai o coração!

Dom Walmor Oliveira de AzevedoO arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma (Itália) e mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma (Itália). Membro da Congregação do Vaticano para a Doutrina da Fé. Dom Walmor presidiu a Comissão para Doutrina da Fé da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), durante os exercícios de 2003 a 2007 e de 2007 a 2011. Também exerceu a presidência do Regional Leste II da CNBB - Minas Gerais e Espírito Santo. É o Ordinário para fiéis do Rito Oriental residentes no Brasil e desprovidos de Ordinário do próprio rito. Autor de numerosos livros e artigos. Membro da Academia Mineira de Letras. Grão-chanceler da PUC-Minas.