sábado, 24 de novembro de 2012

Card. Kasper: Concílio Vaticano II deve ser interpretado à luz da Igreja de todos os tempos


Salamanca, Espanha, 24 nov (SIR) - O Congresso "Aos cinquenta anos do Concílio Vaticano II (1962-2012)", organizado pela Junta de Decanos das Faculdades de Teologia de Espanha e Portugal, culminou na Espanha no último sábado, 17.
O documento final do evento esteve a cargo do Cardeal Walter Kasper, presidente emérito do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, que fez um chamado para conhecer de forma profunda o Concílio.
Para o prelado, este esforço "deve ser não só sincrônico, referido à Igreja atual, mas também diacrônico, referido à Igreja de todos os tempos, segundo o pensamento de Bento XVI". Esta visão de conjunto permite enfrentar os desafios atuais sem romper com a Tradição, para descobrir a vontade de "uma renovação da Igreja dentro da continuidade".
A interpretação do Concílio Vaticano II se beneficia atualmente da experiência das últimas décadas, segundo expressou o Cardeal: "Hoje, cinquenta anos depois, vivemos em um tempo totalmente mudado, globalizado. A fé otimista no progresso faz tempo que já se evaporou". Deste modo, as correntes mais entusiasmadas que anunciavam uma primavera da Igreja enfrentam o que o prelado descreveu para Europa como uma fase invernal. O Concílio Vaticano II tem um caráter histórico singular, já que "não foi convocado por uma situação de heresias ou cismas, nem se declararam dogmas formais ou medidas disciplinares concretas". Em troca, buscou "traduzir à linguagem de nossos dias a fé tradicional". Este desafio não esteve isento de dificuldades, o que deu lugar a interpretações contraditórias.
"Em muitos casos teve-se que encontrar fórmulas de compromisso para buscar o consenso, e por isso os textos conciliares abrigam um amplo potencial conflitivo", explicou o Cardeal Kasper. A confusão que geraram alguns setores da Igreja depois do Concílio teve efeitos lamentáveis, segundo recordou o prelado: "Produziu-se um êxodo de muitos sacerdotes e religiosos, uma queda da prática religiosa, e sobretudo depois da encíclica Humanae Vitae, rejeitada injustamente, surgiram protestos". Estes sucessos não estão diretamente causados pelo Concílio, explicou o Cardeal, mas por interpretações que ofuscaram os frutos bons do mesmo.
Para o Cardeal Kasper, as contribuições do Concílio Vaticano II contribuem positivamente na "vida nas dioceses, paróquias e comunidades religiosas, através da liturgia, da espiritualidade bíblica e da participação dos leigos". Também destacou o chamado universal à santidade e ao reconhecimento da variedade de carismas que deram origem aos novos movimentos. Também expressou que a Igreja tem a oportunidade de avançar em temas como "a colegialidade do episcopado, a corresponsabilidade dos leigos na missão da Igreja, o papel das Igrejas locais", entre outros.
No caminho da "renovação em meio da continuidade" que o prelado expôs como vontade da Igreja, comentou que algumas petições de reforma "são dignas de serem tidas em conta, como a exigência de transparência; outras, que se distancia, da Tradição da Igreja, como a petição da ordenação das mulheres, não são aceitáveis". Segundo o Cardeal Kasper, essas iniciativas comumente aceitas e promovidas por setores alheios à Igreja, desviariam a religião de seu verdadeiro fim. "A Igreja que se inspira nas principais correntes sociais terminará sendo indiferente e por fim, inútil", afirmou.
O Cardeal sustentou que a fidelidade à doutrina é o que verdadeiramente atrai e motiva aos fiéis. A Igreja "não será atraente enfeitando-se com plumas alheias, mas defendendo sua causa de forma crível, sendo valente e potente diante da crítica da sociedade". Sob esta perspectiva de reta interpretação, o Cardeal convidou a aproveitar o valor do Concílio Vaticano II. "Agora é a ocasião para ocupar-se outra vez e à fundo dos textos do Concílio, e extrair suas riquezas", expressou.

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