Jesus anuncia o Reino de Deus, o Reino
da vida. Nele devem participar sobretudo aqueles que foram privados da vida,
isto é, os pobres e oprimidos. Mas onde está o Reino de Deus? Anunciado por
Jesus há mais de dois mil anos, mas o que vemos é um mundo cada vez mais
violento e opressor, uma desagregação geral das famílias, dos jovens pelas
drogas, pelo consumo excessivo de produtos que nos são impostos pela mídia. Sem
falarmos de uma vasta rede de supermercados da fé, vendendo e apresentando
através de seus pacotes promocionais para a prosperidade uma solução fácil e
induzindo para que fechem os olhos aos sofrimentos de nossos irmãos,
empobrecidos e excluídos de nossa sociedade.
Onde está, então o Reino de Deus? Em
Lucas 17, 20-21, Jesus Cristo diz: o Reino de Deus não vem ostensivamente. Nem
se poderá dizer: Ei-lo aqui...Ei-lo acolá; porque na verdade o reino de Deus já
está no meio de vós. Se Cristo diz que já está no meio de nós, é muito
importante para nós que procuremos reconhece-lo. O homem, sedento de notícias,
sempre à procura de algum sinal de esperança para sua vida, não pode ficar
indiferente diante desta grande notícia.
Mas se o Reino não chega com aparatosa
ostentação, se não vê, pelos caminhos da publicidade demagógica, se não se pode
dizer: ei-lo aqui ou ali, é bem possível que sua descoberta exija do homem
algumas atitudes especiais. “Nós devemos procurar nos evangelhos os sinais que
nos permita reconhecê-lo.”
O Reino nasce no coração do homem.
Chega quando o homem se converte, mas não é uma conversão imposta por
interesse, mesmo porque Deus não se impõe. Ele propõe e convida e as pessoas
são livres e devem decidir livre e conscientemente se aceitam ou não o Reino,
isto é, se aceitam ou não comprometer-se com Jesus. Aceitar significa mudar
radicalmente, deixando o egoísmo que gera a desigualdade e a injustiça, para
aceitar o compromisso com Jesus e sua ação, tornando-se disponível ao amor que
gera a verdade e a justiça, produzindo relações humanas igualitárias, fundadas na
partilha e na fraternidade, e nos conduzindo ao encontro dos irmãos. É um
desafio à liberdade humana.
Quando o homem acolhe a palavra de
Jesus que se revela nos apelos dos irmãos (Mt 25, 31-46), quando reconhece que
o próximo não é apenas o vizinho, o amigo, mas também o estrangeiro, o inimigo,
qualquer homem (Lc 10, 25-37); quando aprendemos a rezar fraternalmente o “Pai
Nosso, venha a nós o vosso Reino”.
Jesus nos fala do Reino com palavras
simples, com singelas comparações da vida cotidiana, pois o mistério do Reino
não é aberto com as chaves da sabedoria e esperteza humanas, mas é revelado aos
simples, aos corações dispostos a acolher o dom de Deus (Mt 13, 11-12). O Reino
é uma força transformadora de toda a realidade, é como uma semente: ninguém nota
que ela caiu na terra. Mas, se o coração do homem a acolhe, como terra boa, a
semente frutifica e produz trinta, sessenta, cem por um (Mt 13, 1-23). Ou como
um grão de mostarda que chega e converte-se numa grande árvore (Mt 13, 31-32).
Ou como fermento que uma mulher mistura em três porções medidas de farinha para
fermentar toda a massa (Mt 13, 33).
Concluiremos dizendo que transformando
o coração do homem, o Reino tende a transformar toda a realidade. Inspira
projetos concretos de transformação da sociedade. Procura tornar mais humanas,
mais justas, as suas estruturas. Como fermento vai transformando a terra dos
homens numa terra fraterna, a terra dos filhos de Deus, e é através de uma
atitude prática de compromisso, em que as mãos e os pés se empenham para
continuar a ação de Jesus.
O Reino de Deus se torna próximo e
sempre vai chegando na medida em que as pessoas se comprometem e continuam o
que Jesus começou, criando, através da palavra e da ação, o mundo novo que Deus
sempre desejou para todos.
Carlos
Albérico
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