sábado, 8 de junho de 2013

'Não quis ser o papa. E me agrada estar no meio do povo'


“Vivo em Santa Marta porque me agrada estar no meio do povo...” Tem tudo a ver com isso o diálogo extemporâneo do Papa Francisco com os alunos dos colégios dos jesuítas na Itália e na Albânia, acompanhados de educadores e famílias, recebidos nesta manhã em audiência. Bergoglio se apresenta com o discurso escrito. Mas vê a plateia e diz: “Eu preparei um texto, mas são cinco páginas! Um pouco fastidioso... Façamos uma coisa: eu farei um pequeno resumo e depois consignarei isto, por escrito, ao padre provincial e o darei ao padre Lombardi, para que todos vocês o tenham por escrito”.

“Eis, pois, em poucas batidas, o suco do discurso. Primeiro ponto deste texto” – explica Francisco – é que “na educação que damos aos jesuítas o ponto-chave é, para o nosso desenvolvimento de pessoa, a magnanimidade. Nós devemos ser magnânimos, com o coração grande, sem medo. Apostar sempre nos grandes ideais. Mas também magnanimidade com as coisas pequenas, com as coisas cotidianas. O coração amplo, o coração grande... E esta magnanimidade é importante encontrá-la com Jesus, na contemplação de Jesus. Jesus é aquele que nos abre as janelas ao horizonte”.

Depois, um conselho aos pais e aos professores: no educar é preciso “balançar bem os passos. Um passo firme na zon de segurança, mas o outro andando na zona de risco... Não se pode educar somente na zona de segurança: somente não. Isso é impedir que as personalidades cresçam. Mas também não se pode educar somente na zona de risco: isso é demasiado perigoso”. Francisco também convidou os educadores a procurarem novas formas de educação não convencionais, segundo a necessidade de lugares, tempos e pessoas. “Isto é importante na nossa espiritualidade inaciana’.

Depois começou o diálogo com os meninos, que se dirigiram ao papa tratando-o de “tu”. Por que não escolheu viver no palácio apostólico, não ter uma grande máquina, nem horários e preciosidades? “Não é somente uma questão de riqueza", explica. "É um problema de personalidade: eu tenho necessidade de viver entre o povo. Seu eu vivesse sozinho, talvez um pouco isolado, não me faria bem. Esta pergunta me foi feita por um professor: por que não vai morar lá? E eu respondi: veja, professor. É por motivos psicológicos! É a minha personalidade. O apartamento não é tão luxuoso, é tranquilo, mas não posso viver sozinho.

E sobre a sobriedade acrescentou: “creio que os tempos nos falam de tanta pobreza no mundo, e isto é um escândalo! Num mundo em que temos tantas riquezas, tantos recursos para dar de comer a todos, não se pode entender como há tantas crianças famintas, tantas crianças sem educação, tantos pobres. A pobreza hoje é um clamor, todos nós devemos pensar se podemos tornar-nos um pouco mais pobres. Como posso tornar-me um pouco pobre, para assemelhar-me a Jesus, Mestre pobre?”

O Papa falou depois dos seus amigos, respondendo à pergunta de outra menina. “Eu sou papa há dois meses e meio, e meus amigos estão a catorze horas daqui, estão longe... Vieram três deles a visitar-me e saudar-me, vejo-os e lhes escrevo... Não se pode viver sem amigos, são importantes!”

Francisco, respondendo a uma outra pergunta, falou do empenho político dos que creem: “Envolver-se na política é uma obrigação para o cristão. Nós cristãos não podemos brincar de Pilatos, lavar-nos as mãos. Devemos envolver-nos na política, porque a política é uma das formas mais altas da caridade, porque procura o bem comum. Os leigos cristãos devem trabalhar em política. Você me dirá: Não é fácil. Mas também não o é tornar-se padre! A política é demasiadamente conspurcada, mas é conspurcada porque os cristãos não se envolveram com o espírito evangélico. É fácil dizer: culpa daquilo... Mas eu, o que faço? Trabalhar para o bem comum é dever do cristão.”
Vatican Insider

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