terça-feira, 20 de agosto de 2013

A revolução de uma verdadeira teologia da mulher


O significado da Assunção não se refere apenas às mulheres na Igreja, mas ilumina, e não apenas simbolicamente, a ambivalente figura da mulher: onipotente, mas também submissa.

Assunção de Maria: ambivalência da mulher mediterrânea.
Por Emma Fattorini

O papel da mulher e a sua "dignidade" na Igreja devem ser compreendidos e exaltados. O papa Francisco falou isso aos fiéis na praça de Castel Gandolfo, antes de recitar o Ângelus na Solenidade da Assunção. "Compreendidos e exaltados", ainda na viagem ao Brasil ele havia falado da necessidade de uma verdadeira "teologia da mulher": referências, passagens, mas muito importantes.

O fato de retomá-las no dia de Ferragosto tem um significado todo particular. Na antiguidade, as Feriae eram uma celebração da fertilidade e da maternidade, de origem oriental, a deusa-mãe Sira, padroeira do trabalho dos campos, prerrogativas que, ao longo dos séculos, a tradição popular atribuiu à Virgem Maria.

Mas, em Ferragosto, não se celebra uma das tantas festas dedicadas à Nossa Senhora, mas sim a festa muito especial da Assunção, o último dogma mariano declarado por Pio XII em 1950. E por que seria tão especial? Carl Gustav Jung o explicou muito bem em um texto, que se tornou importante para a história das mulheres no Ocidente.

O fundador da psicologia profunda, baseada nos símbolos e nos arquétipos de origem protestante, no livro Resposta a Jó, escrevia: "O dogma da Assunção de Maria ao céu é o acontecimento religioso mais importante da era moderna depois da Reforma". Porque era, segundo Jung, o evento simbolicamente mais importante para a história das mulheres modernas, para a sua emancipação e o seu reconhecimento.

Para Jung, o fato de que o único ser humano já assunto ao céu, antes do fim dos tempos, além do filho de Deus, era uma mulher representava uma revolução no imaginário coletivo e um reconhecimento do enorme poder. No limite da onipotência e, portanto, da heresia, porque corria o risco de equiparar perigosamente demais a mãe, somente mulher e totalmente humana, ao filho, homem, sim, mas também filho de Deus.

Um belo emaranhado teológico e histórico. Tanto que, na história da Igreja, os movimentos assuncionistas tiveram uma vida muito difícil, porque, entre outras tantas razões, corriam o risco de dilatar demais as prerrogativas de Nossa Senhora e, assim, das mulheres.

Creio, portanto, que é de grande relevância que o Papa Francisco, escolha uma ocasião tão significativa para falar do novo papel da mulher e para celebrar o 25º aniversário da Carta Apostólica Mulieris dignitatem, de João Paulo II, sobre a dignidade e a vocação da mulher.

O significado da Assunção não se refere apenas às mulheres na Igreja, mas ilumina, e não apenas simbolicamente, a ambivalente figura da mulher mediterrânea: onipotente – para Jung, a Assunção era o retorno a uma deusa feminina –, mas também submissa. Muito poderosa como mãe, mas também subalterna ao homem-marido. Uma natureza muito frágil e muito forte, a da mulher mediterrânea, diferente da emancipada mulher protestante.

É importante voltar a essas raízes profundas da identidade feminina contemporânea diante do crescimento da violência contra as mulheres. É daí que devemos recomeçar, todos e todas. A sensibilidade ao feminicídio cresce a cada dia, e estamos contentes com isso. Os movimentos das mulheres estão em alerta permanente, as deputadas e as senadoras, todas, têm trabalhado com um empenho extraordinário; mais recentemente, o decreto do governo italiano vai estabelecer procedimentos urgentes.
Tudo isso nos deixa justamente orgulhosas. O "mas" que se segue obrigatoriamente a essas observações fala justamente de prevenção. Mas nenhuma prevenção é mais eficaz do que recomeçar da força das mulheres mediterrâneas, e não somente da sua fraqueza. Porque hoje é a sua força que assusta, quando desaparecem os contrapesos que a cultura ocidental masculina tinha posto de pé, a fim de chegar a um acordo com ela e de fazer dela o fruto de um relacionamento amoroso. Nesse sentido, as culturas religiosas podem ser valiosas aliadas das mulheres e da sua capacidade de construir bons relacionamentos.
L'Unità, 17-08-2013.

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