terça-feira, 10 de setembro de 2013

'Fazem as guerras para vender armas': o pacifismo vaticano


Por Paolo Rodari
O papa Francisco puxa o tapete debaixo dos pés de Barack Obama, que, dirigindo-se à nação, tinha justificado o eventual ataque à Síria como um gesto necessário, envolvido em motivações humanitárias. "Essa guerra é realmente uma guerra por alguma coisa ou serve para vender as armas do comércio ilegal?", perguntou Francisco nesse domingo, à queima-roupa, falando de improviso durante um Ângelus em que deixou claro o que pensa sobre os ventos de guerra na Síria e em todo o Oriente Médio.

"É preciso dizer ´não´ ao ódio fratricida e às mentiras das quais ele se serve, à violência em todas as suas formas, à proliferação das armas e ao seu comércio ilegal", disse o papa, fortalecido pelo fato de que, também no Vaticano, as dúvidas são muitas. Do outro lado do Tibre, há quem lembre as armas químicas nunca encontradas no Iraque depois de Saddam, quando o governo Bush interveio mostrando provas que se revelaram falsas. Daí mais este apelo do papa pela paz: "Cesse logo a violência, trabalhe-se com renovado empenho por uma solução justa ao conflito fratricida".

No Vaticano, oração e diplomacia sempre andam de mãos dadas. Francisco leva adiante ambas, consciente de que é preciso trabalhar até o último minuto possível para levar os poderosos pelo caminho da paz. Em Damasco, foi o núncio apostólico Mario Zenari que confirmou à Rádio Vaticano que toda intervenção papal tem um valor político também: "As palavras do papa irão pesar", disse ele.

O cessar imediato da violência na Síria é o primeiro ponto indicado pela diplomacia pontifícia nestes dias. E foi também indicado aos embaixadores reunidos há dois dias no Vaticano, para a ilustração da ação da Santa Sé na crise síria. Sobre o comércio mundial de armas, legal ou ilegal, a diplomacia papal conduz há muito tempo uma forte ação também na sede da ONU.

Diante de 100 mil pessoas reunidas na Praça de São Pedro, Francisco ofereceu uma fotografia do Oriente Médio que arde. Ele pediu "paciência e perseverança" para chegar à paz, não só na Síria, mas também no Líbano, Israel, Palestina, Iraque e Egito. "De que serve – perguntou-se – fazer guerras, tantas guerras, se tu não és capaz de fazer essa guerra contra o mal? Isso envolve, dentre outras coisas, dizer ´não´ ao ódio fratricida e às mentiras das quais ele se serve, à violência em todas as suas formas, à proliferação das armas e ao seu comércio ilegal".

Francisco está convencido de que todas as religiões podem se unir na luta contra o mal que "está em cada um de nós". O seu chamado é universal. Uma "Ostpolitik" dirigida também ao Islã, construída desde os tempos de Buenos Aires, quando – como confidenciou o cardeal Tauran – ele enviara um sacerdote ao Cairo para estudar árabe.
La Repubblica, 09-09-2013.

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