quarta-feira, 16 de outubro de 2013

A 'nova evangelização', segundo Francisco


Por Andrea Tornielli

“A nova evangelização deve usar a linguagem da misericórdia, feita de gestos e de atitudes, antes que de palavras”. E é necessário “ir até os demais”, dialogando com todos. Foi o que disse o papa, nessa segunda-feira (14), ao receber na Sala Clementina os participantes da assembleia plenária do Pontifício Conselho para a Evangelização, conduzido pelo arcebispo Rino Fisichella. Bergoglio agradeceu pelo serviço desenvolvido e falou sobre o “primado do testemunho”, sobre a “urgência de ir ao encontro” e sobre a necessidade de um projeto pastoral “que se centre no essencial”.

“Em nosso tempo se verifica, muitas vezes, uma atitude de indiferença com a fé”, disse Francisco, e os cristãos, com seu testemunho de vida, devem suscitar perguntas dúvidas em todos os que encontram: “Por que vivem assim? O que os impulsionam?”. “O que necessitamos, especialmente nestes tempos, são de testemunhos credíveis que com a vida e também com a palavra tornem visível o Evangelho, despertem a atração por Jesus Cristo, pela beleza de Deus”.

Muitas pessoas, observou Francisco, distanciaram-se da Igreja, mas é errôneo culpar uns ou outros; “e mais, não se deve falar de culpas. Há responsabilidades na história da Igreja e de seus homens, há certas ideologias e também indivíduos. Como filhos da Igreja – acrescentou o papa – devemos continuar o caminho do Concílio Vaticano II, despojar-nos de coisas inúteis ou prejudiciais, de falsas seguranças mundanas que tornam a Igreja pesada e danificam seu verdadeiro rosto”.

É necessário que os cristãos “tornem visível aos homens de hoje a misericórdia de Deus, sua ternura por cada criatura. Sabemos que a crise da humanidade contemporânea não é superficial, mas profunda. Por isso, a nova evangelização, ao mesmo tempo em que convida a ter a coragem de ir contracorrente, chama a se converter dos ídolos para o único Deus verdadeiro, não pode mais do que usar a linguagem da misericórdia, feita de gestos e de atitudes, antes do que de palavras”.
Cada batizado é “um ‘cristóforo’, portador de Cristo, como diziam os antigos santos Padres. Quem encontrou a Cristo, como a Samaritana do poço, não pode guardar para si esta experiência... Todos devem se perguntar se aqueles com quem nos encontramos percebem em nossa vida o calor da fé, se veem em nosso rosto a alegria de ter encontrado a Cristo!”.

O papa ressaltou que a nova evangelização é um “movimento renovado para os que perderam a fé e o sentido profundo da vida”. E assim como o “Filho de Deus ‘saiu’ de sua condição divina e veio até nosso encontro”, nós, “cada cristão foi chamado a ir ao encontro dos demais, a dialogar com os que não pensam como nós, com os que possuem uma fé diferente ou não a possuem. Encontrar a todos, porque todos temos em comum o fato de termos sido criados à imagem e semelhança de Deus. Podemos ir ao encontro de todos, sem medo e sem renunciar a nossa pertença”.

“Ninguém – observou Francisco – está excluído da esperança da vida, do amor de Deus. A Igreja foi enviada a despertar por toda a parte esta esperança, especialmente nos lugares em que está sufocada por condições existenciais difíceis, às vezes desumanas, onde a esperança não respira, sufoca-se. Precisa do oxigênio do Evangelho, o sopro do Espírito de Cristo ressuscitado, que a volta a acender nos corações. A Igreja é a casa cujas portas estão sempre abertas, não apenas para que ali cada um possa encontrar acolhida ou respirar amor e esperança, mas também para que possamos sair e levar este amor e esta esperança”.

Para concluir, o papa apontou que “não é útil se perder em muitas coisas secundárias ou supérfluas”, mas que é necessário “concentrar-se na realidade fundamental, que é o encontro com Cristo, com sua misericórdia, com seu amor e o amar aos irmãos”. É preciso “percorrer novos caminhos, com coragem, sem petrificar-nos!”.
O papa enfatizou “a importância da catequese, como momento da Evangelização”, para superar a “fratura entre Evangelho e cultura e o analfabetismo de nossos dias em matéria de fé”. “Recordei em diferentes ocasiões – acrescentou – um fato que me impressionou em meu ministério: encontrar crianças que nem sequer sabiam fazer o sinal-da-cruz!”. Os catequistas desempenham um serviço precioso para a nova evangelização, e é importante que os pais sejam os primeiros catequistas, os primeiros “educadores na fé na própria família, com o testemunho e com a palavra”.
Vatican Insider, 14-10-2013.

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