quinta-feira, 6 de novembro de 2014

A pedra que se transformou em pérola


Uma fábula que nos mostra como o amor é capaz de nos fazer brilhar.
A pedra pode ser Deus, podemos ser nós, pode ser a vida.
Por Carlos Padilla*

Sempre gostei de dizer para Deus que quero construir uma casa para Ele. Que a minha vida seja transformada em moradia dele. Uma casa na qual Ele e todas as pessoas possam descansar. Uma casa aberta. Uma casa transparente. Uma casa cheia de alma, da sua presença. Uma casa sem grades, vulnerável, onde seja possível entrar e roubar. Uma casa simples e cheia de luz.

Nossa própria vida pode ser esta casa. Muitas vezes, eu quis construir essa casa sozinho, mas sua ajuda, com minhas mãos fracas. Achei que eu era forte e que podia fazer isso sozinho.

Ergui os braços querendo segurar a vida nas minhas mãos, obcecado com ganhar, negando minha fraqueza. Ocultando feridas por medo de fracassar, de ser rejeitado. Pretendi ser arquiteto, pedreiro, carpinteiro e eletricista, deixar tudo perfeito, sem erros, sem manchas.

Eu quis ser tudo, até perceber que isso era impossível. E caí. Não consigo sozinho. Esta casa só pode ser construída com Deus. Ele trabalha a minha pedra e tira o melhor dela. Nossa vida é sempre assim. Ele constrói a partir da nossa terra.

Há algum tempo, escrevi um pequeno conto. Pensava na minha própria vida, em Deus:

"Certo diz, um homem encontrou uma pedra debaixo da terra. Parecia uma pedra normal, mas não era. Ele gostou da pedra porque agora ela era dele. No começo, pensou que era uma pedra como as outras. Mas, com o tempo, deixou de sê-lo, porque o carinho faz que as coisas sejam diferentes, únicas.

Ele a guardou no bolso. Os anos passaram e ele sempre carregava a pedra consigo. Tocava-a em momentos de temor. Usava-a para tranquilizar sua alma inquieta. Apertava-a nas dificuldades. A pedra sempre estava com ele. E ele sempre estava com ela.

Um dia, já idoso, ele pegou a pedra à luz da lua. E a pedra começou a brilhar. Ele não entendi muito. Porque a vida é assim, não a entendemos muito. Mas ele se comoveu. E olhou para ela, feliz.

Era sua pedra, mas ao mesmo tempo não era. Ele viu em seu interior uma beleza que nunca havia percebido antes. Surpreso, beijou-a. E, dentro da sua alma, algo desse brilho ficou para sempre. Essa pedra vulgar que ele um dia encontrou, na verdade, nunca foi uma pedra.

O amor faz que as coisas não sejam vulgares. Essa pedra era uma pérola preciosa; seu uso, seu amor, o tato e o carinho haviam mostrado a beleza antes escondida. Essa beleza sagrada que só têm as coisas que amamos. Era uma pedra preciosa.

O segredo era que o homem sempre olhou para ela como uma pérola. Amou-a como a uma pérola. Tratou-a como uma pérola. Acariciou-a como uma pérola. Tanto foi assim, que a pedra, um pouco tosca no início, acabou acreditando que em seu interior havia luz, e descobriu que podia chegar a ser uma pérola.

A maior alegria da pedra foi poder dar luz a ele, poder embelezar um pouco sua vida, dar-lhe calor nos dias frios, sustentar seus passos. Brilhava sob seu olhar, porque seus olhos, cheios de vida, eram um motivo para continuar iluminando o mundo. Sem esse olhar, a pedra tampouco poderia viver e chegar a ser uma pérola".

Gosto desse conto da pedra e da pérola. A pedra pode ser Deus, podemos ser nós, pode ser a vida. A pedra são as pessoas que souberam amar em seu caminho. A pedra é nosso coração duro e mole, bruto e precioso.

Na verdade, todos nós temos muito de pedra e de pérola. Mas o amor nos torna brilhantes. O amor transforma a pedra em pérola. O desprezo e o ódio nos tornam toscos, duros, escuros.

Deus pode trabalhar a pedra da minha alma e fazer dela uma pérola com brilho para iluminar muitas pessoas. Só assim posso pensar em construir uma nova casa. Uma casa aberta para as pessoas. Uma casa, um lar, um espaço sagrado.

Só contando com que Deus trabalhe minha pedra, minha pérola. Ele acredita em mim. E, quando Ele constrói, a obra parece fácil. Ele modela as pedras, minha pedra, minha alma. Sabe esculpir seu rosto em meu rosto com amor. Terá de me transformar, pois assim será mais fácil. Dói, mas vale a pena.
SIR
*Carlos Padilla é padre.

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