
Papa Francisco em oração na
Porciúncula, em Assis - AFP
30/07/2015 16:58
PARTILHA:
Assis (RV) - Teve início, nesta
quinta-feira, o Tríduo de preparação para a solenidade do Perdão de Assis.
Nestes dias, milhares de fiéis irão à Porciúncula para alcançar a Indulgência
Plenária. A propósito, o colega Alberto Goroni ouviu o ministro geral da Ordem
dos Frades Menores, Frei Michael Perry, que nos falou sobre a história do
“Perdão” almejado por São Francisco:
Frei Michael Perry:- “Em primeiro
lugar, devemos considerar o contexto em que São Francisco pediu esta graça. O
contexto era de um mundo em guerra, em conflito, em que os ricos buscavam
manter o poder; além disso, havia a guerra entre a França e a Alemanha, havia
as Cruzadas na Terra Santa entre os cristãos e os muçulmanos; mas havia também
conflitos no seio das famílias e também conflitos dentro da Igreja. Esse é o
contexto que se deve ter em mente para entender melhor o significado desta
Festa do Perdão de Assis. Vejamos a experiência de Francisco: numa noite de
1216 Francisco encontrava-se imerso na oração na Porciúncula, como sempre
fazia; viu uma luz, uma luz muito forte. Francisco viu Cristo no do altar e à
sua direita Nossa Senhora e os anjos, que lhe perguntaram o que desejava para a
salvação das almas. A resposta imediata foi: “Embora eu seja mísero e pecador,
peço-lhe que conceda amplo e generoso perdão”. Francisco pediu e recebeu do
Papa Honório III, em 2 de agosto de 1216, essa graça de celebrar a Festa do
Perdão na Basílica de Santa Maria dos Anjos. Em todas as paróquias
franciscanas, em quaisquer lugar no mundo, é concedida a indulgência a quem se
confessa, recebe a comunhão e reza pelo Papa. Creio que essa festa expresse o
desejo de receber a graça da libertação interior e da libertação a nível
relacional, a fim de que não sendo mais escravos do nosso passado e dos nossos
limites humanos, possamos entrar no Reino dos filhos e das filhas de Deus.
Creio que seja tornar-se, de certo modo, uma bênção e portadores da
misericórdia espiritual e material rumo a toda a humanidade e também rumo a
toda a Criação. A meu ver, esse é o significado desta Festa do Perdão de
Assis.”
RV: Nestes dias da solenidade milhares
de pessoas acorrem à Porciúncula para confessar-se. Hoje, como viver a
confissão de modo maduro?
Frei Michael Perry:- “Em primeiro
lugar, gostaria de dizer que há várias dimensões desta Confissão. Por primeiro,
esse percurso começa a nível pessoal, portanto, a dimensão pessoal. Vemos que
as pessoas buscam sempre a misericórdia de Deus na própria vida e, de certo
modo, fazem uma confissão pessoal no coração, na profundidade de seu coração e
da sua experiência humana. Esse é o primeiro passo rumo a uma vida
reconciliada. Depois, há uma dimensão eclesial. A Igreja oferece sempre a
possibilidade aos cristãos de se confessarem no Sacramento da Reconciliação.
Portanto, a Igreja reconhece a dimensão social e sacramental do ato, ou melhor,
do movimento interior da pessoa que quer aproximar-se novamente de Deus e que
quer também receber essa graça do Sacramento da Reconciliação. Além disso, a
Igreja serve como instrumento dessa graça através da Confissão. Em todas as
partes do mundo os franciscanos verificam um aumento numérico de católicos que
querem receber essa graça do Sacramento. De fato, estive dias atrás em Chicago
e, antes disso, na Ásia, e senti que agora há mais cristãos em relação aos
últimos 5, 10 anos, que estão retomando essa prática de ir confessar-se pedindo
a bênção, o perdão e a possibilidade de retomar a própria vida. Porém, para
isso é preciso também uma conversão madura. A Igreja deve formar os cristãos a
superar a prática tradicional de confessar ou apresentar um elenco superficial
de fatos, e buscar identificar as raízes de seus pecados, da experiência de
viver como escravos. Ademais, creio que seria importante apresentar o
Sacramento como uma verdadeira experiência de libertação, de conversão, de
reconciliação, de alegria. E, por fim, ajudar os cristãos a fazerem aquilo que
o Papa Francisco nos disse em sua convocação do Jubileu da Misericórdia, ou
seja, confessar-se e depois agir e produzir os frutos da caridade e da justiça
no mundo de hoje.”
RV: O Papa Francisco disse que este é o
tempo da misericórdia. O que isso significa para a Igreja?
Frei Michael Perry:- “Todo o tempo da
história da nossa vida é o tempo da misericórdia. Então, estamos realmente
contentes que o Papa Francisco tenha convocado este Ano da Misericórdia.
Parece-me, porém, segundo o que ele disse em diferentes lugares, que este tempo
da misericórdia não é somente limitado a este ano de graça, a este Ano do
Jubileu: o sentido deste tempo é tornar-se uma pessoa que viva da misericórdia
de Deus e que partilhe essa misericórdia com todas as pessoas com as quais
vivemos, que encontramos, e estender isso ao mundo. Tornar-se missionários da
misericórdia e aprofundar essa experiência do perdão em nossa vida, sentir-se
amados, acolhidos, abraçados por Deus, assim como o Filho pródigo. E, ademais,
podemos tornar-nos sinal concreto para o mundo de hoje que está buscando essa
reconciliação e essa misericórdia. De certo modo, esse me parece ser o sentido
deste tempo da misericórdia.” (RL)
Nenhum comentário:
Postar um comentário