quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Roteiro Homilético


    20 de janeiro / 2013 - 2º domingo do tempo comum/C



    Liturgia do domingo 

    AS NÚPCIAS MESSIÂNICAS 

    1ª leitura: (Is 62,1-5): Deus, o esposo; o povo, a amada – Depois do fim do exílio babilônico veio o difícil período da restauração. Decepcionado, o povo pergunta se isso aí é salvação. O profeta responde: “Esperança!” Não pode calar-se de anunciar, com nomes carinhosos, quanto Deus ama seu povo. É a renovação dos esponsais (cf. evangelho). * 62,1 cf. Is 62,6-7; 63,7-9; 46,12-13 * 62,2-3 cf. Is 52,10; 60,2-3.13-14; Jr 33,16; Ez 48,35; Br 4,30; Is 49,15-16 * 62,4-5 cf. Os 2,25; Rm 9,25-26; Is 49,14; Jr 3,1-13; Sf 3,15-17.
    2ª leitura: (1Cor 12,4-11) Diversidade de dons, um só Espírito – Início de uma sequência de leituras de 1Cor 12–15. Cap.12–14 trata dos carismas: são diversos, mas isso não pode ser causa divisão, pois têm a mesma fonte: a riqueza de Deus e o amor do Espírito, mandado pelo Filho por parte do Pai. Cada cristão está, com seu dom específico, a serviço da comunidade toda. * 12,7 cf. Is 11,2; 1Cor 12,28-30; Rm 12,6-8 * 12,8-10 cf. 1Cor 2,6-16; 13,2; 1Jo 4,1-3; At 11,27; 2,4.
    Evangelho: (Jo 2,1-11) As bodas de Caná – Como a adoração dos Magos e o batismo de Jesus (cf. domingos anteriores), o sinal de Caná é uma epifania, uma manifestação da glória de Deus em Jesus Cristo (2,11). E assim são todos os “sinais” de Jesus, especialmente no modo como Jo os apresenta. O milagre de Caná é apenas sinal; ainda não é a “hora” (2,4). Maria está presente ao primeiro sinal, assim também à “hora” que o sinal anuncia (2,4 e 19,25-27), a hora da realização de sua obra salvífica e da plena manifestação da glória. * 2,1-5 cf. Jo 19,25-27 (Gn 3,15); Gn 41,55 * “a hora” cf. Jo 7,30; 8,20; 12,23.27; 13,1; 17,1 * 2,10-11 cf. Lc 5,37-39; Jo 4,54; Jo 1,14. 
    ***   ***   *** 
    No Brasil, o Batismo de Jesus é celebrado no domingo depois de 8 de janeiro, que seria o 1º domingo do tempo comum. Deste modo, o 2º domingo comum, celebrado hoje, faz sequência direta à festa do Batismo do Senhor. Nos três anos do ciclo litúrgico, é lido um episódio dos primórdios da obra de Jesus segundo João (Jo 1,19–2,11); neste ano C, o último episódio, as bodas de Caná (evangelho). O conjunto Jo 1,19–2,11 é construído em forma de uma semana. Os dias são numerados: em 1,29, o 2º dia; em 1,35, o 3º; em 1,43, o 4º; e “três dias depois”, portanto, no fim da semana, estamos em Caná da Galileia, para ver Jesus operar seu primeiro sinal, numa festa de casamento. Os simbolismos se amontoam. Parece uma repetição da semana inicial da criação. Abundância de vinho é um sinal dos tempos messiânicos (Am 9,13-15; Jl 4,18-21). Este vinho novo é o último e o melhor: o escatológico (cf. Mc 2,22). Vem da transformação da água das abluções judaicas (Jo 2,6): o Novo Testamento substitui o Antigo. Quem oferece o vinho, é o esposo; o mestre-sala dirige-se ao “esposo” errado para observar que ele guardou o vinho bom até o fim em vez de servi-lo primeiro. É que ele não sabe que o verdadeiro Esposo só agora começou a servir seu vinho...
    Apenas começou: “Este fez Jesus como início dos sinais... e manifestou sua glória e seus discípulos creram nele” (2,11). Ainda não é a plenitude de sua obra. Ele faz questão de observá-lo, antes de realizar o sinal: “Mulher, que é isso para mim e para ti? Ainda não chegou minha hora” (2,4). Sua hora será quando, novamente, dirigirá a palavra a sua mãe, dizendo: “Mulher, eis seu filho...”, confiando-lhe o fruto de sua obra (19,25-27). Por enquanto, só um primeiro sinal, mas suficiente para que os que a ele se entregaram – seus discípulos – possam começar a acreditar que nele a presença de Deus se deixa entrever (2,11). Jesus não veio exatamente para transformar água em vinho. Veio para dar sua via, naquela “hora”. Mas o vinho vermelho de sangue nos fala desta hora e sua abundância messiânica nos faz acreditar: Deus está aí, como o verdadeiro esposo, que, no fim dos tempos, acolhe seu povo como esposa amada. A 1ª leitura é um dos muitos textos do A.T. que falam neste sentido, e um dos mais poéticos. Numa linguagem certamente não estranha para o nosso povo, nos faz sentir que o amor de Deus é verdadeira ternura, cordial afeição. Deus quer que tudo o que é seu seja de nós.
    Estamos ainda no espírito da Epifania, da manifestação de Deus em Jesus Cristo. Na liturgia antiga, as festas dos “Reis magos” e do Batismo de Jesus formavam, com as Bodas de Caná, a tríade da “Epifania”. Para apreender o mistério do Cristo, para “atender” a Deus na obra do Cristo, convém, desde o início, vê-la como manifestação do Pai, não como mera façanha. Todo o evangelho de João repete que em Jesus enxergamos o rosto do Pai (1,14.18; 12,45; 14,9), especialmente, na “hora” de sua “glória”, que é a hora da “elevação” na cruz e na glória. A hora que em Caná ainda não tinha chegado, mas para a qual esta narrativa nos orienta, mostrará a face de Deus em extremado amor para conosco.
    Também a 2ª leitura merece atenção. É o início da 3ª sequência de leituras da 1Cor (as duas anteriores são lidas no começo do tempo comum nos anos A e B). Este tema continua nos próximos domingos, para ser completado pelo famoso capítulo 1Cor 13, o hino da caridade. 

    NOSSO CASAMENTO COM DEUS 

    Entre Deus e o povo do Antigo Testamento, Israel, existia um pacto, uma aliança, como se fosse um casamento. Mas Israel foi infiel: por causa de presumidas vantagens materiais, correu atrás dos deuses dos povos pagãos. Isso se chama prostituição. O resultado foi que Israel caiu nas mãos desses estrangeiros. Foi levado ao cativeiro, na Babilônia: era o seu castigo. Mas agora, o profeta anuncia, em nome de Deus, a salvação. Deus vai acolher de novo sua esposa infiel, proclama a 1ª leitura.
    No evangelho, Jesus, introduzido por sua mãe, torna-se presente numa festa de casamento. Na Palestina, quem oferecia a festa de casamento era o próprio noivo; mandava e desmandava. Mas, no fim da festa, sem que os convidados e nem mesmo o noivo se deem conta, Jesus toma o comando e faz servir, milagrosamente, o “vinho melhor”. É ele o verdadeiro esposo do fim dos tempos, oferecendo a abundância do vinho da alegria a quantos comparecem à sua festa (cf. Jl 4,18; Am 9,13).
    Nós sentimos dificuldade em conceber a vida cristã como um casamento. Talvez porque hoje é difícil conceber um casamento de verdade... Casamento é questão de fé e de compromisso. A alegria da união amorosa para sempre não é fruto apenas de sentimentos espontâneos. Devemos crer que nossa fidelidade a Deus e Jesus Cristo é duradoura aliança de amor, que nos proporciona felicidade mais profunda do que o mais perfeito matrimônio. E para isso precisamos nos deixar amar, gostar que Deus goste de nós. Então faremos tudo para sermos amáveis para Deus e para os seus filhos. E isso não só individualmente, mas antes de tudo como povo, como comunidade.
    Será que fazemos o necessário para que a comunidade dos fiéis seja uma noiva radiante para Cristo? Quando vivermos realmente o que Cristo nos ensina, não há dúvida que a fé e a comunidade cristã serão uma alegria, um preparar-se para corresponder sempre melhor ao amor que Cristo nos testemunhou. Na dedicação aos nossos irmãos encarnamos o nosso amor e afeição a Cristo, que é fiel para sempre. 
    (O Roteiro Homilético é elaborado pelo Pe. Johan Konings SJ – Teólogo, doutor em exegese bíblica, Professor da FAJE. Autor do livro "Liturgia Dominical", Vozes, Petrópolis, 2003. Entre outras obras, coordenou a tradução da "Bíblia Ecumênica" – TEB e a tradução da "Bíblia Sagrada" – CNBB. Konings é Colunista do Dom Total. A produção do Roteiro Homilético é de responsabilidade direta do Pe. Jaldemir Vitório SJ, Reitor e Professor da FAJE.)

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