sábado, 16 de fevereiro de 2013

Bispo português: Bento XVI deixa um pontificado de «diálogo»


Lisboa, 16 fev (SIR/Ecclesia) – D. Nuno Brás, bispo auxiliar de Lisboa, disse à ECCLESIA que Bento XVI vai ser lembrado pelo combate ao “relativismo” e pela “defesa da vida”, num pontificado com “muito para contar” para lá da renúncia final.
“É um pontificado marcado por uma tentativa de reconciliação com todos, que avançou muito no diálogo ecumênico. Creio, sobretudo, que é um pontificado que marcou muito no diálogo com o mundo”, declarou o prelado, para quem o atual Papa “aproximou muito a Igreja e razão, o mundo da cultura”. O sucessor de João Paulo II, refere D. Nuno Brás, apresentou um “magistério claro, profundo” e o seu pontificado “não é absolutamente de transição, muitas coisas foram feitas”. Para o bispo auxiliar de Lisboa, as posições de Bento XVI foram importantes para entender que “o mundo ocidental está a embarcar por situações que se irão revelar muito difíceis se não houver uma mudança. Em relação à renúncia ao pontificado, apresentada esta segunda-feira, o professor de Teologia admite que “em termos de tradição, há uma interrupção, não há nos séculos mais próximos nenhum caso em que o Papa tenha resignado”. “Este é um precedente que poderá ter consequências no futuro, o próximo Papa poderá dizer ‘como Bento XVI fez, também eu faço’”, acrescentou.
D. Nuno Brás, vogal da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, considera que “ninguém estava à espera, o mundo inteiro foi completamente surpreendido por esta decisão, tanto mais que ela não tinha nenhum precedente, de fato”. O prelado recordou o gesto realizado pelo Papa em abril de 2009, ao depositar o pálio – insígnia pessoal e de autoridade - que lhe fora imposto no dia do início de pontificado junto da porta santa da Basílica de de Collemaggio, de L’Aquila (Itália), em cima do relicário com os restos mortais do Papa Celestino V (1215-1296), pontífice que governou a Igreja Católica apenas durante uns meses, em 1294, antes de apresentar a sua renúncia. “É uma forma simbólica de uma certa identificação com alguns dos dramas do próprio Celestino V”, afirma. D. Nuno Brás assinala que, após a apresentação da renúncia, é possível “encontrar alguns indícios de que esta situação poderia vir a acontecer”.
O Papa, que apresentou a renúncia ao cargo na segunda-feira, admitiu essa possibilidade num livro publicado em 2010, frisando que esse é um direito e, nalguns casos, mesmo um “dever”. A posição foi assumida no livro «Luz do Mundo - O Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos», que resultou de uma entrevista ao jornalista alemão Peter Seewald. Segundo Bento XVI, quando um Papa tem a consciência de que “já não está em grau de cumprir os deveres do seu ofício, fisicamente, psicologicamente e espiritualmente, então tem o direito, e nalgumas circunstâncias, também o dever de se demitir”. D. Nuno Brás aludiu ainda ao fato de o Papa não ter visitado a Cidade do México, em março de 2012, por motivos de saúde e ao consistório de novembro do último ano, quando foram criados seis cardeais de países nãoeuropeus. “Creio que [a renúncia] está muito naquilo que é a própria personalidade do Papa”, conclui. Bento XVI, eleito em abril de 2005, vai concluir o seu pontificado a 28 de fevereiro, abrindo caminho à eleição de um sucessor.

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