sábado, 18 de maio de 2013

A Igreja em dois meses já mudou linguagem


Através das homilias de Papa Francisco aparece com força a identidade do cristão genuíno
Por Serena Sartini.

Uma Igreja viva e concreta, não uma instituição abstrata, menos ainda uma Ong. E um cristão alegre e corajoso, que tenha a força de ir adiante, se necessário, também, contracorrente.

Em apenas dois meses na Cátedra de Pedro, Papa Francisco aponta as linhas-mestras de seu Pontificado, através de mensagens ao estilo de lemas, que ressoam como um verdadeiro manifesto programático. Jorge Mário Bergoglio é direto, sincero, transparente e utiliza uma linguagem incomum para um Pontífice. Como quando afirma que “Deus não é um Deus-spray” ou que “o confessionário não é uma lavanderia”, ou, até mesmo, que as religiosas não são “solteironas”. No “manifesto” do Pontífice argentino existe o espaço para uma redescoberta de Deus, de uma fé viva e de uma Igreja renovada. Mensagens que chegam com toda sua força aos corações dos fiéis, através do twitter ou de suas palavras espontâneas nas homilias que celebra todos os dias na Casa Santa Marta, onde ainda moras, através das ondas da Rádio Vaticano e da internet.

A Igreja que sonha Francisco

Aquela que sonha Francisco é uma Igreja próxima das pessoas, não um lugar onde montar uma fé tipicamente individual e, sobretudo, uma instituição que é pura caridade e assistencialismo. Mas deve ser uma comunidade viva, renovada, onde se respira o amor de Deus. O Papa insistiu nisso mais de uma vez para destacar a urgência de uma renovação. “Sem Jesus a Igreja é só uma Ong”, observou em sua primeira missa na Capela Sistina. “Quando a Igreja quer se orgulhar de suas qualidades e se organiza, monta setores e se torna um tanto burocrática – acrescentou -, a Igreja perde sua principal substância e corre o risco de se transformar numa Ong. Mas a Igreja não é uma Ong. É uma história de amor”.

Uma Igreja, portanto, que como uma mãe paga pela mãe seus filhos, os fiéis, e os acompanha no caminho da vida. Mas atenção, lembra o Papa, a não confundir a mãe com uma babá. Porque quando os cristãos anunciam Jesus “com a vida, com o testemunho e com as palavras” então a Igreja “torna-se uma Igreja Mãe que gera filhos”. “Mas quando não o fazemos – observa Francisco -, a Igreja torna-se não mãe, mas uma Igreja babá, que toma conta da criança para fazê-la dormir. É uma Igreja sonolenta”.

A identidade do cristão genuíno

Corajoso, alegre, que tenha a força de ir contracorrente. Através das homilias de Papa Francisco aparece com força a identidade do cristão genuíno. Que deve anunciar o Evangelho com convicção, e não ser – afirma o Papa – “um cristão morno”. “Apostar a vida nos grandes ideais – afirmou, dirigindo-se particularmente aos jovens -; não fomos escolhidos por Deus para coisas pequenas; então, ir além, apostar a vida nos grandes ideais”. “Deus nos dá a coragem de ir contracorrente: isto faz bem ao coração, mas é preciso ter coragem”. O Papa também destaca outra característica que deve pertencer ao cristão: o júbilo, que não significa alegria. “O cristão é um homem e uma mulher de júbilo. A alegria é boa, se alegrar é bom – explicou Francisco -, mas o júbilo é algo mais, é outra coisa. É uma coisa que não nasce dos motivos conjunturais, das motivações da hora: é algo mais profundo”. O Pontífice argentino sabe que o tempo, para os cristãos, não é dos melhores. As perseguições, a opressão das minorias, o relativismo, são sempre atrás da esquina. E convite, para os cristãos genuínos, é ter “a coragem de responder ao mal com o bem”.

Em que Deus acreditar?

Papa Francisco convida a viver a fé não como um conceito abstrato, mas a redescobrir a beleza de um Deus que é pessoa concreta. Por isso Bergoglio exorta os cristãos a restabelecer um laço sólido com a oração. “A verdadeira oração – afirmou – nos faz sair de nós mesmos e nos abre ao Pai e aos irmãos mais necessitados”.

E novamente, com uma linguagem direta, o Papa lembra que Deus é “uma pessoa concreta, um Pai”. “Quantas vezes – afirmou num das missas celebradas em Santa Marta – tantas pessoas afirmam acreditar em Deus, mas em que Deus? Um Deus indefinido, um Deus-spray, que está em todos os lugares, mas não se sabe o que seja, uma presença que não se percebe apalpar, uma essência nebulosa que estão ao redor sem saber bem o que seja. Deus é Pessoa concreta, é um Pai e a fé nEle nasce de um encontro vivo, do qual se faz uma experiência concreta”.

Um Deus, afinal, que é também misericordioso porque perdoa e acolhe seus filhos pecadores. “Tantas vezes pensamos que ir a nos confessar ser como ir até à lavanderia para limpar a sujeira de nossas roupas. Mas Jesus no confessionário – destacou o Papa – não é uma lavanderia”. Confessar-se “é um encontro com Jesus, que nos espera como somos”.
SIR

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