segunda-feira, 6 de julho de 2015

Basílica da Penha: Patrimônio histórico e religioso reabre as portas neste domingo


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O bairro de São José, um dos mais antigos e populares do Recife, será testemunha de um renascimento. Neste domingo, 05 de julho, após quase oito anos fechada para restauração, a Basílica Nossa Senhora da Penha, tombada como patrimônio estadual, reabrirá suas portas. Em cerimônia presidida pelo arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, o templo voltará a acolher os fiéis para orações e missas. A concelebração eucarística está marcada para às 17h.
A solene celebração é cheia de ritos e significados. Por se tratar de um lugar privilegiado de encontro com Deus, o edifício deve ser consagrado antes que os cultos voltem a ser realizados. Antes da missa, as portas da imponente igreja estarão fechadas e serão abertas pelo arcebispo após a entrega das chaves feita pelo reitor da basílica, frei Luís de França.
Entre os rituais que se destacam estão a dedicação da igreja e do altar a Deus. Dom Fernando derramará sobre o altar o óleo do Crisma e o ungirá. Em seguida, fará a unção das paredes marcando as cruzes dispostas nos muros com o sinal da cruz.
Em seguida, um fogareiro será colocado no altar. O arcebispo depositará incenso sobre as brasas e benzerá. Logo após, as põe no turíbulo (vaso metálico usado nas cerimônias litúrgicas para queimar o incenso) ? e dá início ao rito de incensação do altar e de todo o templo. Concluído esse momento, o altar será limpo e decorado com toalha, flores, castiçais e crucifixo.
A última etapa do cerimonial será a iluminação da basílica. Todas as velas e luzes serão acesas. Sendo concluído o ritual de consagração da igreja. Logo após, a missa seguirá como de costume.
O governador do Estado, Paulo Câmara, e o prefeito do Recife, Geraldo Júlio, estarão presentes no evento. De acordo com frei França, além deles, outras autoridades civis e, também, religiosas já confirmaram presença.
10421645_744308492299196_7049056182434680277_nBasílica e restauro – A igreja foi construída entre os anos de 1870 e 1882. O estilo coríntio a torna única na capital pernambucana. Ela é um exemplar acadêmico da Basílica de San Giorgio Maggiore (São Jorge Maior) construída pelo arquiteto Andrea Palladio, na cidade de Veneza, Itália, e conterrâneo do autor do projeto da Basílica da Penha, frei Francesco. A edificação tem planta baixa em cruz finalizada por semicírculo e fachada neoclássica com estatuária em mármore no exterior, como a de Nossa Senhora da Penha. A descoberta foi fruto de estudos realizados pelos professores e restauradores antes do início do restauro.
As portas de entrada chamam a atenção do visitante pela riqueza de detalhes. Os entalhes foram feitos pelo artista plástico italiano Valentino Besarel em madeira, com alto relevo e recobertos com cobre. Ele também esculpiu o coro alto, os púlpitos, o trono do acima do altar-mor, as imagens de mármore branco de Santo Antônio e São Francisco e o painel abaixo do altar da Virgem. Destaque também para os murais de Murillo La Greca no seu interior e de vários afrescos de Bottazzi decorando os forros da nave central.
As intervenções feitas ao longo do processo proporcionaram algumas surpresas. Entre elas, a do painel de mosaico vitrificado feito pela Società Musiva Veneziana, na Itália. A relíquia permaneceu no anonimato por ter perdido o brilho com o tempo. A beleza do ornamento foi revelada após limpeza feita pelos restauradores. A cena retratada pelos vidros coloridos é a aparição de Nossa Senhora a Simão, pastor de ovelhas, que, segundo a tradição, seria devorado por um crocodilo e foi salvo pela mãe de Jesus.
10511274_744292548967457_4042611378486881501_nDesde que as obras tiveram início no dia 02 de setembro de 2007, as cerimônias e a tradicional bênção de São Felix ocorriam no pátio ao lado do templo. Órfãos da beleza e paz transmitida pelo templo, as pessoas poderão reencontrar a história, arte e fé presentes em cada detalhe da basílica.
Até o momento foram investidos mais de R$ 6 milhões na restauração. Os recursos foram obtidos através da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), Prefeitura do Recife, Lei Rouanet e da contribuição dos devotos.
As obras não terminaram. As torres sineiras ainda aguardam reparos. Há rachaduras e foi constatado o desprendimento do reboco. Por precaução, elas estão escoradas. Esses problemas não causam risco à nave central. Por conta disso, a Secretaria Municipal de Defesa Civil atendeu ao pedido dos frades capuchinhos, que a administram o templo, e permitiu o uso de dois terços da área da nave para as cerimônias religiosas. “Sabemos que a restauração ainda não foi concluída totalmente. Os trabalhos deverão continuar, no entanto, isso não é impedimento para que a Basílica da Penha seja reaberta”, destacou frei França.
Rampas de acessibilidade estão sendo construídas com dinheiro obtido a partir de campanhas feitas com os fiéis. A previsão é que estejam prontas em três meses.
10462540_744307458965966_1300918656020597027_nReencontro – No dia 4 de julho de 2014, dom Fernando presidiu missa no espaço celebrativo do Convento da Penha em memória dos 136 anos da morte do Servo de Deus Dom Vital Maria de Oliveira, em processo de beatificação e canonização. Após o ato litúrgico, os fiéis puderam visitar o jazigo do bispo capuchinho. Foi também uma oportunidade para apreciar a beleza da Basílica Nossa Senhora da Penha, que passa por restauração. As pessoas puderam por breves minutos ver os detalhes, ornamentos e pinturas no interior da igreja. Encantados e emocionados, muitos registraram através de fotografias a beleza que há por trás das grandes e ornadas portas do templo. Pessoas que passavam pela praça em frente à basílica também aproveitaram a chance de conferir.
Para muitos fiéis, voltar ao local foi um reencontro com o passado, com lembranças da fé e das inesquecíveis celebrações. Claudeci de Andrade, 51 anos, faz parte da Paróquia São Lucas, no bairro de Ouro Preto, em Olinda. Ela não escondia a alegria de poder voltar à basílica. “Aqui neste lugar eu iniciei uma história na minha vida. Entrar e ver a restauração me deixa ainda mais ansiosa pela reabertura. Comecei aqui a minha caminhada de fé. Quantas sextas-feiras estive aqui participando das Missas e pedindo graças? Alcancei muitas”, afirmou.
Claudeci vive uma nova etapa. Ela passará por tratamento quimioterápico contra o câncer. “Hoje pedi mais uma graças. Pedi a Deus a minha cura e saio daqui renovada e certa de que alcançarei mais essa graça”, disse confiante. Ela não registrou o momento através de fotos, mas guardou cada detalhe no coração e a fé deixa a certeza de que a restauração dela será tão bela quanto à da igreja de pedra. Seguiu de cabeça erguida. Pronta para escrever mais um capítulo.

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