O bairro de São José, um dos mais antigos e populares do Recife, será testemunha de um renascimento. Neste domingo, 05 de julho, após quase oito anos fechada para restauração, a Basílica Nossa Senhora da Penha, tombada como patrimônio estadual, reabrirá suas portas. Em cerimônia presidida pelo arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, o templo voltará a acolher os fiéis para orações e missas. A concelebração eucarística está marcada para às 17h.
A solene celebração é cheia de ritos e significados. Por se tratar de um lugar privilegiado de encontro com Deus, o edifício deve ser consagrado antes que os cultos voltem a ser realizados. Antes da missa, as portas da imponente igreja estarão fechadas e serão abertas pelo arcebispo após a entrega das chaves feita pelo reitor da basílica, frei Luís de França.
Entre os rituais que se destacam estão a dedicação da igreja e do altar a Deus. Dom Fernando derramará sobre o altar o óleo do Crisma e o ungirá. Em seguida, fará a unção das paredes marcando as cruzes dispostas nos muros com o sinal da cruz.
Em seguida, um fogareiro será colocado no altar. O arcebispo depositará incenso sobre as brasas e benzerá. Logo após, as põe no turíbulo (vaso metálico usado nas cerimônias litúrgicas para queimar o incenso) ? e dá início ao rito de incensação do altar e de todo o templo. Concluído esse momento, o altar será limpo e decorado com toalha, flores, castiçais e crucifixo.
A última etapa do cerimonial será a iluminação da basílica. Todas as velas e luzes serão acesas. Sendo concluído o ritual de consagração da igreja. Logo após, a missa seguirá como de costume.
O governador do Estado, Paulo Câmara, e o prefeito do Recife, Geraldo Júlio, estarão presentes no evento. De acordo com frei França, além deles, outras autoridades civis e, também, religiosas já confirmaram presença.

As portas de entrada chamam a atenção do visitante pela riqueza de detalhes. Os entalhes foram feitos pelo artista plástico italiano Valentino Besarel em madeira, com alto relevo e recobertos com cobre. Ele também esculpiu o coro alto, os púlpitos, o trono do acima do altar-mor, as imagens de mármore branco de Santo Antônio e São Francisco e o painel abaixo do altar da Virgem. Destaque também para os murais de Murillo La Greca no seu interior e de vários afrescos de Bottazzi decorando os forros da nave central.
As intervenções feitas ao longo do processo proporcionaram algumas surpresas. Entre elas, a do painel de mosaico vitrificado feito pela Società Musiva Veneziana, na Itália. A relíquia permaneceu no anonimato por ter perdido o brilho com o tempo. A beleza do ornamento foi revelada após limpeza feita pelos restauradores. A cena retratada pelos vidros coloridos é a aparição de Nossa Senhora a Simão, pastor de ovelhas, que, segundo a tradição, seria devorado por um crocodilo e foi salvo pela mãe de Jesus.

Até o momento foram investidos mais de R$ 6 milhões na restauração. Os recursos foram obtidos através da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), Prefeitura do Recife, Lei Rouanet e da contribuição dos devotos.
As obras não terminaram. As torres sineiras ainda aguardam reparos. Há rachaduras e foi constatado o desprendimento do reboco. Por precaução, elas estão escoradas. Esses problemas não causam risco à nave central. Por conta disso, a Secretaria Municipal de Defesa Civil atendeu ao pedido dos frades capuchinhos, que a administram o templo, e permitiu o uso de dois terços da área da nave para as cerimônias religiosas. “Sabemos que a restauração ainda não foi concluída totalmente. Os trabalhos deverão continuar, no entanto, isso não é impedimento para que a Basílica da Penha seja reaberta”, destacou frei França.
Rampas de acessibilidade estão sendo construídas com dinheiro obtido a partir de campanhas feitas com os fiéis. A previsão é que estejam prontas em três meses.

Para muitos fiéis, voltar ao local foi um reencontro com o passado, com lembranças da fé e das inesquecíveis celebrações. Claudeci de Andrade, 51 anos, faz parte da Paróquia São Lucas, no bairro de Ouro Preto, em Olinda. Ela não escondia a alegria de poder voltar à basílica. “Aqui neste lugar eu iniciei uma história na minha vida. Entrar e ver a restauração me deixa ainda mais ansiosa pela reabertura. Comecei aqui a minha caminhada de fé. Quantas sextas-feiras estive aqui participando das Missas e pedindo graças? Alcancei muitas”, afirmou.
Claudeci vive uma nova etapa. Ela passará por tratamento quimioterápico contra o câncer. “Hoje pedi mais uma graças. Pedi a Deus a minha cura e saio daqui renovada e certa de que alcançarei mais essa graça”, disse confiante. Ela não registrou o momento através de fotos, mas guardou cada detalhe no coração e a fé deixa a certeza de que a restauração dela será tão bela quanto à da igreja de pedra. Seguiu de cabeça erguida. Pronta para escrever mais um capítulo.
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