segunda-feira, 6 de julho de 2015

Maria e a Missão


Estamos no Ano da Esperança e o grande gesto concreto deste ano é a nossa missão.
Por Cardeal Orani João Tempesta*
Isabel, ao saudar Maria, sabia que por trás de um simples acolhimento daquela que era sua prima havia uma magnífica obra de redenção entre os homens. O Brasil comemorará, em 2017, os 300 anos do aparecimento da imagem enegrecida de Nossa Senhora da Conceição, encontrada nas águas do Rio Paraíba, no Estado de São Paulo. Neste sentido comemorativo, de jubileu, em preparação para essa grande festa, a réplica da imagem de Nossa Senhora Aparecida vem até nós como peregrina-missionária. Mulher de serviço, a sua presença nos leva a perceber a importância da vontade de Deus. Esta visita é uma forma de retribuir a visita dos romeiros ao seu Santuário, que hoje recebe um número superior a 10 milhões de peregrinos ao ano. Lembramos que, anualmente, no último sábado de agosto, nós cariocas enchemos com alegria e entusiasmo a Casa da Mãe Aparecida, em seu Santuário Nacional, para a nossa tradicional romaria da Arquidiocese, a maior romaria individual àquele Santuário Nacional. É, também, agora, esta peregrinação de Aparecida para o Rio de Janeiro uma maneira de vir ao encontro daqueles que ainda não tiveram condições de visitar a Casa da Mãe Aparecida. A comunidade que recebe a visita da Padroeira do Brasil vive um tempo especial da graça de Deus, tendo oportunidade de aproximar-se de Jesus e entrar na dinâmica da salvação.
No ano de 1931 foi realizada a primeira visita da Imagem à cidade do Rio de Janeiro, na época Capital Federal do Brasil. Essa visita da Imagem de Nossa Senhora Aparecida ao Rio de Janeiro aconteceu por ocasião de sua proclamação como “Rainha e Padroeira do Brasil”. Mais de um milhão de pessoas lá se reuniram para receber a ilustre visita. Desde então ocorreram inúmeras peregrinações, especialmente com o missionário redentorista Pe. Vítor Coelho de Almeida. No ano de 2004, por ocasião do centenário de sua Coroação, a Imagem Peregrina percorreu várias arquidioceses, dioceses e paróquias do nosso imenso Brasil e também do exterior. Nossa Senhora, sempre fiel aos princípios de seu Filho, continua presente em nossa história, indo ao encontro dos que clamam por amor, justiça e paz. Durante a Jornada Mundial da Juventude recebemos uma réplica da imagem especialmente dedicada ao evento e que esteve presente nos principais momentos da JMJ, tendo depois percorrido toda a nossa Arquidiocese. Agora, a réplica da imagem que nos visita a partir deste domingo vem abrir o grande trabalho missionário, gesto concreto, neste Ano da Esperança.
Maria é a Mulher do sim! O sim dado ao Amor. A obediência dada por amor. A entrega dada no amor. Desta maneira, Maria tem uma grande importância na história da salvação e na vida de muitos cristãos, e sua figura é tradicionalmente reconhecida na Igreja Católica. Certamente, a Virgem tem na Bíblia um lugar discreto. Ela ali é representada toda em função de Cristo e não por si mesma. Mas sua relevância consiste na estreiteza de seus laços com Cristo. Maria está presente em todos os momentos de importância fundamental na história da salvação: não somente no princípio (Lc 1-2) e no fim (Jo 19,27) da vida de Cristo, mistérios da Encarnação e da morte redentora, mas na inauguração de seu ministério (Jo 2) e no nascimento da Igreja (At 1,14). Presença discreta, na maior parte das vezes, silenciosa, animada pelo ideal de uma fé pura, e de um amor pronto a compreender e a servir aos desejos de Deus e dos homens (Lc 1,38-39.46-56; Jo 2,3).
Nossa Senhora Aparecida recorda a proteção da Virgem Maria, sua presença materna e consoladora, experimentada em 1717 por três pobres pescadores, na aurora de nossa história nacional. As redes vazias dos pobres quase se romperam pela abundância de peixes após o “aparecimento” da imagem enegrecida da Imaculada Conceição. Desde então, aquela pequena imagem recorda ao povo brasileiro a presença materna da Mãe do Senhor na nossa história e na nossa Terra. Sim, hoje a festa é nossa, do povo brasileiro; hoje, por todo o território nacional, gente de todas as raças que fazem esta Nação canta com devota gratidão: “Viva a Mãe de Deus e nossa, sem pecado concebida! Salve a Virgem Imaculada, a Senhora Aparecida”!
Nossa Senhora na vida da Igreja, na vida do povo brasileiro e na vida de cada um de nós. Não poderia ser diferente! Foi o próprio Cristo quem lhe deu essa missão materna em relação a nós, seus discípulos amados. Recordemo-nos da cena dramática no Calvário. Jesus diz à sua Mãe, indicando o Discípulo Amado, que é cada um de nós, cada cristão, católico ou não: “Mulher, eis o teu filho” (Jo 19,26)! Não foi ela quem escolheu ser nossa Mãe. Não! Foi o Filho mesmo quem lhe deu a missão: “Eis o teu filho, os teus filhos, Virgem Maria! Tu és a Mulher do Gênesis, inimiga da serpente; tu és a Mãe dos viventes, a verdadeira Eva”! Fidelíssima à vontade do Senhor, como sempre foi, a Virgem vela por todos os cristãos, até por aqueles que não lhe têm amor e veneração, chegando mesmo a difamá-la! Mãe dos discípulos do Senhor Jesus, Mãe da Igreja, Virgem Maria! Foi esta maternidade tão amorosa, fecunda e providente que o povo brasileiro experimentou às margens do rio Paraíba do Sul, quando a imagem enegrecida da Imaculada apareceu nas redes dos pescadores.
No último domingo, dia 05 de julho, em nossa Catedral Metropolitana de São Sebastião do Rio de Janeiro, na Avenida Chile, às 09:00h, acolhemos a réplica da imagem de Nossa Senhora Aparecida. No último sábado, dia 04 de julho, às 8:00h, participei da Missa no Santuário Nacional de Aparecida para receber das mãos do Eminentíssimo Senhor Raymundo, Cardeal da Santa Igreja Romana Damasceno de Assis, a imagem peregrina. Estivemos com uma pequena delegação da arquidiocese encarregada dessa peregrinação. Esta imagem irá visitar, até a romaria de Agosto, todos os vicariatos de nossa Arquidiocese. É a Mãe que vai ao encontro dos seus filhos!
Estamos no Ano da Esperança e o grande gesto concreto deste ano é a nossa missão. Missão em todas as casas de nossa Arquidiocese. Somos chamados, cada vez mais com Maria, a dizer nosso Sim para Nosso Senhor Jesus Cristo. Ao mesmo tempo em nossa tradição brasileira, de católicos, de valores cristãos, e por isso mesmo poder semear a Palavra de Deus em toda a Arquidiocese. Ali na Catedral, com os representantes de todas as paróquias, iniciamos a nossa grande missão arquidiocesana. Será o grande envio: há uma esperança brilhando entre nós!
Virgem Mãe Aparecida, Mãe de Deus e nossa! Vela pelo povo que peregrina no território da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, em estado permanente de missão, acolhe nosso brado filial! Intercede com tua oração materna por todos os que sofrem, pelos que estão afastados da prática da fé, pelos que vivem à margem da sociedade e pelos que estão vivendo no pecado! Que todos os homens e mulheres de boa vontade sejam retos, justos, servidores do bem comum, sobretudo os mais necessitados! Sejamos discípulos-missionários!
CNBB 03-07-2015
Cardeal Orani João Tempesta é arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ).

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