quarta-feira, 12 de novembro de 2014

É preciso ouvir os casais, propõe arcebispo


Arcebispo de Dublin argumenta que o matrimônio pode se tornar numa fonte teológica singular.
Durante o debate da última sexta-feira (7) no Sínodo dos Bispos, em Roma, Dom Diarmuid Martin ressaltou a importância de se ouvir as pessoas casadas. Ele falou que os pais, especialmente aqueles que vivem nas regiões empobrecidas, vivenciaram todas as dificuldades econômicas e sociais que afetaram a Irlanda durante a dramática crise financeira, e que, mesmo assim, continuaram vivendo a realidade diária dos relacionamentos familiares e do compromisso com a educação de seus filhos.

Dom Diarmuid Martin disse que muitos homens e mulheres, sem fazer referência explícita ao ensinamento da Igreja, se esforçam muito para manter os valores da fidelidade matrimonial no dia a dia, às vezes de forma heroica. “Eles dificilmente reconheceriam a experiência que possuem na forma como apresentamos os ideais da vida casada. Aliás, numa humildade genuína, muitos iriam provavelmente perceber que estão vivendo uma vida distante do ideal de matrimônio tal como apresentado pelos ensinamentos da Igreja”.

O religioso acrescentou que precisamos encontrar uma nova linguagem para estabelecer este diálogo entre os ensinamentos da Igreja e a experiência vivida dos casais cristãos. Afirmou que esta nova linguagem começa com “a linguagem teológica da escuta”.

"Para muitos, a linguagem da Igreja parece ser uma linguagem desencarnada, uma linguagem que diz às pessoas o que fazer, uma linguagem de 'mão única'. De forma alguma estou dizendo que a Igreja não é chamada a ensinar. Não estou dizendo que a experiência por si determina os ensinamentos ou a interpretação autêntica deles. O que estou afirmando é que a experiência vivida e a luta destas pessoas podem ajudar a encontrarmos formas mais eficazes de expressão dos elementos fundamentais dos ensinamentos da Igreja. O próprio Jesus acompanhou a sua pregação da Boa Nova com um processo de cura dos feridos e acolhendo aqueles que se encontravam nas margens da sociedade. O seu ensinamento nunca foi desencarnado e nunca ficou indiferente às situações humanas concretas. O cuidado de Jesus pelos doentes, atribulados e sobrecarregados pelos pesados fardos da vida é a chave que ajuda a compreendermos como ele, verdadeiramente, é o Filho de Deus".

O arcebispo irlandês disse que a Igreja deve também escutar onde Deus está falando à Igreja por meio dos testemunhos daqueles cristãos casados que se esforçam, fracassam e recomeçam novamente, nas situações concretas das asperezas da vida hoje. "A experiência de fracasso e esforço não pode, certamente, ser irrelevante para a forma como proclamamos os ensinamentos da Igreja sobre o matrimônio e a família", acrescentou.

Ele disse que o sacramento do Matrimônio é um dom dado para a construção da Igreja na santidade. O matrimônio, portanto, tem um status eclesial especial. O documento “Lumen Gentium” observa que “os cristãos casados ajudam uns aos outros a alcançar a santidade em suas vidas de casado”. Como numa realidade eclesial, o testemunho e a santidade das pessoas casadas contribuem também para a construção e compreensão da Igreja. Assim, consultar os casais não é simplesmente uma opção que assumimos em ocasiões especiais.

A vida autêntica da vocação do matrimônio, santificado por um sacramento, pode se tornar numa fonte teológica singular. O documento "Familiaris Consortio" falava da lei da gradualidade, em vez da gradualidade da lei. Ainda há uma dificuldade em se aceitar a significação do esforço humano que não consegue alcançar os elevados ideais, mas este esforço é parte da luta pela perfeição. Ninguém de nós teria condições de viver o ensinamento do nosso chamado na Igreja sem a ajuda da misericórdia de Deus”.
Índice del Sínodo, 07-11-2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário