quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

O vento novo da filosofia

Esse vento novo que sopra sobre a filosofia parece altamente auspicioso e começa a inpirar também a sociedade e suas instituições. A análise é de Elio Matassi, publicada por Il Fatto Quotidiano. A tradução é de Nilo Ribeiro.

Jamais a filosofia esteve tão em alta como nesse momento histórico de crise e de transição em que vivemos. A Filosofia como busca da verdade viabiliza – como chegou a sugerir um dos maiores expoentes da filosofia da modernidade, Hegel – uma profunda releitura a respeito das razões mais evidentes da crise.
Ao mesmo tempo se apresenta como uma grande chance de se propor uma alternativa crítica ao momento histórico, contudo, sem desconsiderar  a fragmentação/dissolução inquestionáveis de um determinado período e de certa época histórica. Apesar disso, é possível vislumbrar novos sinais de superação da crise na totalidade da história.
Definitivamente está esgotada a reconfortante visão da história do mundo, propugnada pelo cientista político americano Francis Fukuyama de origem japonesa. Além disso, Francis Fukuyama acrescentava em sua obra O Fim da História e o último Homem, uma interpretação caricatural do pensamento hegeliano.
Nesse caso, a filosofia da história, que parecia ter se exaurido, segundo a apologética da chegada da “idade de ouro” posterior à dissolução da União Soviética, torna a exercer a função essencial de contextualizar em sua extensão e em sua especificidade “todos” os periodos históricos. Até mesmo o nosso, que reivindica a sua própria visão de mundo.
Assiste-se, portanto, no cenário do pensamento ao retorno de uma filosofia "forte" que presume também o repúdio daquela concepção que reduz o filosofar a um gênero de escritura que encontrou em Richard Rorty seu interlocutor privilegiado.
Em função dessse tema foi dedicado uma recente coletânea de escritos: Formas Literárias da filosofia (Carocci Editore, Roma, 2012), editada por alunos da escola estetológica romana de grande prestígio, Emilio Garroni e Paolo D´Angelo. Ao invés de se centrarem na vaga discussão a respeito da sobreposição da filosofia e da literatura, Paolo D´Angelo se propõe lucidamente a "investigar os textos concretos a partir da pluralidade das formas e da interligação entre a filosofia e os diversos modos de sua expressão" (p. 11).
De acordo com a precisosa indicação de um dos pensadores mais renomados da atualidade, Arthur Danto, a história da filosofia segundo esses filósofos pode ser considerada a história "de diálogos, anotações de lições, fragmentos, poemas, análises, ensaios, aforismas, meditações, discursos, hinos, críticas, cartas, Sumas, enciclopédias, testamentos, comentários, enquetes, tratados, Vorlesungen (aulas), Aufbauen (composições), prolegômenos, parerga, pensamentos, sermões, suplementos, confissões, sentenças, pesquisas, diários, perfis, notas, livros comuns ... Holzwege (caminhos interrompidos), gramatologia, anotações não científicas, genealogias, histórias naturais, fenomenologias".
A coletânea, incluindo diversos estilos, opta por aprofundar o aforisma, a autobiografia, o comentário, o diálogo, a enciclopédia / dicionário, a epístola, a questão / disputatio, o relato / romance, a sátira, o tratado / ensaio. Trata-se de um aprofundamento que desponta na contracorrente da "sobreposição total da filosofia e da literatura", como sugere Paolo D´Angelo.
Esse vento novo que sopra sobre a filosofia parece altamente auspicioso e começa a inpirar também a sociedade e suas instituições. Ele tem como escopo recuperar – mantendo-se a distinção de um lado, entre compreender e argumentar e, de outro, entre dissimular e narrar – o compromisso cognoscitivo da investigação filosófica e, com ela, a capacidade de fazer com que a filosofia incida diretamenete sobre a realidade.
Elio Matassi, Il Fatto Quotidiano, 22-09-12. Tradução: Nilo Ribeiro.

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